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Europeias: ONU avisa que subida de forças anti-migrantes na UE irá causar caos migratório

“A forma como a Europa trata os seus refugiados é algo que se observa noutras partes do mundo. (…) A Europa tem um papel importante a desempenhar como modelo”, afirmou Vincent Cochetel, enviado especial do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) para a situação no Mediterrâneo Central e Ocidental, numa conferência de imprensa em Genebra.
4 Junho 2024, 17h15

O reforço dos movimentos políticos anti-migrantes nas eleições europeias irá resultar num maior caos migratório noutras partes do mundo, incluindo África, alertou hoje um representante da agência das Nações Unidas para os refugiados.

“A forma como a Europa trata os seus refugiados é algo que se observa noutras partes do mundo. (…) A Europa tem um papel importante a desempenhar como modelo”, afirmou Vincent Cochetel, enviado especial do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) para a situação no Mediterrâneo Central e Ocidental, numa conferência de imprensa em Genebra.

Com os partidos de extrema-direita bem posicionados nas sondagens para as eleições europeias, Vincent Cochetel acredita que um aumento dos movimentos políticos anti-migrantes teria consequências globais.

“Não podemos esperar que muitos países africanos que mantiveram uma tradição de asilo durante décadas continuem a fazê-lo se a Europa se comportar de forma diferente em relação às populações de refugiados no seu território”, observou.

“Se houver um colapso dos valores de proteção dos refugiados na Europa, assistiremos à mesma tendência noutros locais”, insistiu.

Na sua opinião, esta situação conduzirá a “movimentos [migratórios] menos bem geridos, a muitos mais movimentos, em todas as direções e não apenas para a Europa” e, por conseguinte, a “um negócio lucrativo para os traficantes”.

Cochetel defendeu que se “continue a alimentar o capital de simpatia que existe na Europa por uma melhor gestão da migração, mas também pela presença de refugiados no território europeu”.

“Quando milhões de ucranianos vieram para a Europa, não era um problema tão grande para gerir”, disse, reconhecendo que “há sempre mais empatia para com os refugiados da porta ao lado” do que para aqueles que “vêm de mais longe ou que parecem diferentes”.

É preciso explicar que os refugiados não vêm para a Europa “por acaso”, mas porque fogem de conflitos, por vezes próximos do continente europeu, como é o caso do Sudão, que vive um “conflito brutal” desde abril de 2023.

“Temos de estar preparados, não entrar em pânico, porque os números são perfeitamente controláveis. Mas temos de tentar explicar à Europa porque é que estão a chegar refugiados sudaneses”, afirmou.

O diretor do ACNUR afirmou que “não existem soluções fáceis” para o problema dos fluxos migratórios.

“Não podemos simplesmente ter um plano de controlo das fronteiras marítimas, porque isso não vai resolver todos os problemas”, afirmou.

Num relatório publicado hoje, o ACNUR apelou também a um aumento dos serviços de proteção humanitária nas principais rotas utilizadas pelos refugiados e migrantes.

Cerca de 373 milhões de eleitores dos 27 Estados-membros da União Europeia são chamados a votar, entre quinta-feira e domingo, para escolher a composição do próximo Parlamento Europeu.

Sondagens apontam para uma subida dos partidos da direita radical, com um discurso anti-migrações.

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