Os eventos da World Surf League (WSL) – Liga Mundial de Surf – organizados no primeiro trimestre do ano em Peniche e na Nazaré tiveram um impacto de 23 milhões de euros na economia portuguesa, concluiu um estudo do ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão divulgado esta terça-feira.
O ISEG mediu os efeitos no PIB da mais recente edição da Tudor Nazaré Big Wave Challenge e do Meo Rip Curl Pro (Peniche), que se realizou em meados de março, e chegou à conclusão de que o impacto direto (volume de negócios) foi de 16,5 milhões de euros em Peniche e 2,5 milhões de euros na Nazaré, enquanto o impacto indireto e induzido foi de 3,4 milhões de euros em Peniche e 520 mil euros na Nazaré, perfazendo os tais 23 milhões de euros.
Só na etapa de 2024 em Peniche, estima-se que os espectadores (residentes e turistas) gastaram mais de 13 milhões de euros em bens e serviços. No caso de quem foi assistir ao desafio das ondas gigantes da Nazaré, despendeu na ordem dos 1,6 milhões de euros em apenas um dia de competição, segundo o relatório consultado pelo Jornal Económico (JE) e que está a ser apresentado ao público na sede da Comunidade Intermunicipal do Oeste, nas Caldas da Rainha.
“Portugal tem os melhores eventos de surf do mundo. Temos provas desde o Big Waves, WCT – World Championship Tour, Challenger Series, como este na Ericeira, e de qualifying [qualificação] tanto de masculino como feminino e juniores. Não é por acaso: Portugal tem características geográficas incríveis, por isso é que se tornou no melhor país de surf da Europa”, começa por destacar o diretor geral da WSL na EMEA, em declarações ao JE à margem do EDP Ericeira Pro, que se realizou na Praia de Ribeira D’Ilhas.
“É importante salvaguardar que apostar no surf é apostar numa vantagem competitiva, porque não é como os outros desportos que se pode praticar em qualquer sítio. Há muitos mais surfistas do que sítios para se fazer surf… Nós temos uma vantagem competitiva face a outros países pela nossa costa”, referiu Francisco Spínola.
O investimento no desporto tem de ser consistente. Não pode ser um investimento a curto médio prazo, mas a longo prazo. Só assim é que conseguimos capitalizar e criar campeões – Francisco Spínola
Como é que a WSL contribui para a economia? Primeiro, através dos fornecedores, porque compra produtos e contrata serviços para a montagem da estrutura do evento. Depois, os visitantes dos eventos regionais consomem diversos produtos e serviços, envolvendo outros setores de atividade. Por exemplo, os certames na praia dos Supertubos em Peniche e na praia do Norte na Nazaré geram ainda mais retorno para a economia, nomeadamente através das remunerações pagas às pessoas envolvidas em toda a cadeia.
O estudo do ISEG é da autoria de Diogo Melo e envolveu uma amostra de 1.500 inquéritos com um nível de confiança é de 95%. Os impactos económicos relativos à imagem em consequência da exposição mediática (comunicação social escrita, rádio, televisão e Internet) não foram contemplados nas receitas estimadas, mas os retornos dos investimentos em redes sociais foram contabilizados: os 17,9 milhões de seguidores – distribuídos entre Facebook, Instagram, Tik Tok, X e YouTube – tiveram um alcance social de 71 milhões no caso da competição de Peniche e de 18 milhões na prova da Nazaré, que arrancou a 22 de janeiro.
“Temos um investimento muito grande ao nível do broadcast, que representa cerca de 30% do total. Aí não poupamos, porque por muitas pessoas que aqui venham, estão milhões e milhões a ver online e através dos nossos principais parceiros desde a Globo (Brasil), ESPN (Estados Unidos), Fox (Austrália), SportTV (Portugal), por exemplo”, revela ainda Francisco Spínola.
Au revoir, France. Olá, Portugal
A WSL não tem dúvidas de que o surf europeu deixou de falar francês para passar a ter o português como idioma principal. Até ao início dos anos 2000, as ondas gaulesas reinavam na Europa, mas o “paradigma mudou completamente”, como conta ao JE o manager dos eventos da Liga Mundial de Surf em Portugal.
Embora algumas provas da WSL – quando ainda era ASP – Association of Surfing Professionals –já tivessem passado por Portugal, nomeadamente pela Figueira da Foz, há “um antes e um depois do surf em Portugal” a partir de 2009, quando atraca em Peniche uma etapa do torneio mundial, recorda Frederico Teixeira.
Nessa época, Portugal era “desconhecido para a maioria dos países consumidores de surf” e estava na “cauda da Europa”, porque os maiores mercados eram Noruega, Dinamarca, Suíça, Alemanha e França, que acolhia as sedes europeias de “99% das marcas endémicas”, entre as quais Rip Curl, Quicksilver, Billabong, lembra o manager dos eventos da WSL. Todas essas empresas, fundadas nos Estados Unidos e Austrálias, fixaram escritórios perto de Biarritz, na comuna de Saint-Jean-de-Luz.
Atualmente, as marcas globais não só têm noção da dimensão e qualidade da costa portuguesa como da economia envolvente. “Em setembro estive em França numa reunião com uma marca de surf – porque também somos responsáveis pela Europa, África e Médio Oriente – e o diretor-geral estava-me a dizer que as lojas de Peniche, Nazaré e Lagos são um case study [caso de estudo] a nível mundial de faturação por metro quadrado”, conta Frederico Teixeira ao JE.
Portugal tem quase 900km de costa e o troço que vai da Ericeira a Peniche tem mais de 200 ondas. Peniche tem mais de 560 operadores ligados ao surf diretamente registados. O crescimento é anual e sempre a dois dígitos – Frederico Teixeira
Segundo Francisco Spínola, o crescimento dos eventos só foi possível devido ao auxílio do Turismo de Portugal e das principais marcas que patrocinam, como Meo (Peniche), EDP (Ericeira) ou Tudor (Nazaré). “Quer do público quer dos privados, tem sido um apoio consistente e estruturado. Cada vez que renovamos por três anos, renovamos sempre com os principais patrocinadores e com as entidades”, assegura.
Por exemplo, o EDP Ericeira Pro, que se realizou entre 29 setembro e 6 outubro, envolveu um investimento de aproximadamente um milhão de euros, entre 30 a 40 mil pessoas nos 10 dias de evento e o apoio da EDP, Turismo de Portugal, Câmara Municipal de Mafra, Ericeira Reserva Mundial de Surf, Estrella Galicia, Yeti, MEO, Millennium BCP, Apple Watch, You & The Sea Hotel e Apartamentos, Hertz e Cabreiroá.
Questionado sobre os próximos contratos, o diretor-geral da WSL na Europa, África e Médio Oriente diz ao JE que este ano a liga está “a arranjar ferramentas com a secretaria de Estado do Turismo e o Turismo de Portugal para consolidar as provas mais três anos”. “A parte pública representa cerca de 25% do investimento total nestes eventos. Temos os principais patrocinadores privados fechados”, revela Francisco Spínola.
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