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Falta de professores: o que é que invadiu o bem-estar profissional?

O sistema educacional português passa por caminhos labirínticos relacionados com a falta de professores na maioria das disciplinas.
10 Abril 2024, 07h45

O sistema educacional português passa por caminhos labirínticos relacionados com a falta de professores na maioria das disciplinas. Para além dos factores económicos que não solidificam a relação do rendimento ao grau de esforço do profissional da educação, e a desvalorização de abordagens atualizadas de coaching ou mentoring ao longo da vida profissional, dirigidas a promover o bem-estar dos especialistas em educação de todas as idades e níveis da carreira […].

A publicação a 19 de março, da Portaria n.º 110-A/2024/1, que fixa as vagas do concurso interno e externo dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas e dos quadros de zona pedagógica (QZP), confirmou a ideia de existência de numerosas vagas de colocação de profissionais do ensino, vazias. Somente nos QZP 45 e QZP 46, que incluem cento noventa e uma escolas, entre as dez primeiras disciplinas de maior percentagem com falta dos docentes nos quadros referidos, é o seguinte: 110 – 1.º Ciclo do Ensino Básico: 1311 (20%),  300 – Português: 507 (8%), 910 – Educação Especial 1: 476 (7%), 500 – Matemática: 381 (6%), 100 – Educação Pré-Escolar: 291 (4%), 400 – História:  310 (5%), 520 – Biologia e Geologia: 333 (5%), 620 – Educação Física: 323 (5%), 510 – Física e Química: 277 (4%) e 330 – Inglês: 281 (4%). Até ao momento, um elevado número de jovens finalistas continua a desistir da ambição de ser professor(a) e, ao mesmo tempo, um elevado número de professores profissionalizados refletiram sobre o abandono de profissão, há anos atrás, ou sobre a vontade de abandonar a profissão no presente. Do outro lado do palco educativo, a falta do professor, ou as contínuas e constantes substituições do professor da mesma disciplina de uma turma, durante um ano letivo ou anos subsequentes, provoca alterações nas atitudes dos alunos em relação a essa disciplina, ou a várias disciplinas, e afeta adversamente a motivação, desempenho e a dinâmica organizacional e comportamental dos aprendentes, diminuindo o estimulo de estudar ao longo do percurso escolar.

Além disso, nos últimos anos com o aumento significativo dos fluxos migratórios no país, houve pouca preocupação em relação às questões de formação complementar de professores, que pressupõe uma preparação específica no trabalho com crianças, adolescentes e adultos estrangeiros (não apenas no sentido de apoiar na aquisição de português língua estrangeira/ língua não materna, mas também, disponibilizar o aconselhamento excepcional em várias disciplinas, orientar no percurso escolar, e, subsequente, incentivar na escolha de um curso do ensino profissional ou superior para o contributo futuro de um novo “recém-vindo” cidadão português para a sociedade portuguesa). Na sequência das “corridas” dos professores, que praticamente todos os anos ocorrem, de uma escola para outra, por zonas e condições distintas, com a factualidade de por vezes não existir progressão, ou, se existir, ser uma progressão dolorosamente lenta na carreira anos após anos, e com o menor rendimento em relação aos países vizinhos, o profissional de educação português está em risco de mergulhar numa corrente que desequilibra a motivação para continuar o desenvolvimento da qualidade, produtividade e competitividade do seu desempenho ocupacional. Neste caso, apenas um especialista em coaching ou mentoring de desenvolvimento profissional, será capaz de ajudar o docente a lidar com as situações desagradáveis de ser professor, e a voltar ao desejo de conquistar novos sucessos. De facto, tendo em conta, que as dinâmicas educacionais e identidades dos profissionais de educação e dos atuais alunos, de forma global, foram alterados significativamente, a preocupação pela protecção do bem-estar dos professores deveria ser uma consequência natural, suportada por programas de tutorias motivacionais, orientados para a revitalização e aperfeiçoamento profissional contínuo. Essas medidas implicam, claramente, uma carga adicional de caracter financeiro e de gestão, sendo assim, a educação e a conscientização saudáveis e sustentáveis um modelo da sociedade que queremos que aconteça no futuro. Em síntese, o atual estado de crise de uma profissão de grande peso e relevo na estruturação e desempenho da sociedade Portuguesa, deve afinal, surgir como uma única e grande oportunidade para implementar mudanças nas suas bases e sinergias, com a realização de iniciativas de colaboração mais práticas e sólidas, com vista à sua valorização e ao seu crescimento, chamando e melhorando este vetor essencial da sociedade, a profissão que educa o Portugal do amanhã.

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