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Finanças sustentáveis: o futuro dos mercados passa (também) por aqui

Num debate sobre o setor financeiro e o crescimento sustentável, a presidente da CMVM, a CEO da Euronext e especialistas no tema reconhecerem a evolução na integração dos temas de sustentabilidade nos mercados, mas consideram que há ainda um longo caminho a percorrer.
27 Fevereiro 2019, 09h30

A sustentabilidade já não é um tema estranho à gestão e está cada vez mais presente nos meios empresarial, governamental e dos reguladores. No entanto, num caminho ainda longo, a necessidade de sinergias é reconhecida por diversos agentes, que debateram esta terça-feira o tema, na apresentação do livro “O Setor Financeiro e o Crescimento Sustentável”, na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Gabriela Figueiredo Dias, presidente da CMVM, considerou que “tem que ser dado espaço e deixada a possibilidade ao mercado que por sua iniciativa assumir o desenvolvimento destes temas e a incorporação dos temas de sustentabilidade nos modelos de negócio, nos produtos financeiros”. No entanto, tal não exclui a intervenção do regulador. “É isso que temos estado a assumir, se não não estaríamos a assumir um conjunto de iniciativas e responsabilidades nesta matéria, que acreditamos que temos”, acrescentou.

“Há domínios onde temos já responsabilidades e refiro a título de exemplo todos os aspectos de governance que já estão sobre o nosso âmbito de responsabilidade há largos anos. Mas também outras dimensões de natureza diferente, como os fundos de investimento social que são já uma realidade”, acrescentou. Destacou, neste sentido, a aprovação esta terça-feira do primeiro fundo de investimento social, depois de há uns meses ter sido registado a primeira sociedade gestora de fundos de investimento social.

Também a CEO da Euronext Lisbon, Isabel Ucha, realçou os avanços na matéria, mas identificou a necessidade de ir mais longe. “O que podemos fazer com mais impacto é mudar a cultura”, disse, destacando a importância da cultura do cliente.

Isabel Ucha realçou ainda que a governance é um tema absolutamente crítico e crucial. “Se queremos ter organizações sustentáveis, a prazo, temos que ter organizações geridas com critérios exigentes, por pessoas exigentes e com regras que não podem ser questionáveis”, acrescentou.

Sofia Santos, economista especializada nos temas da gestão sustentável e autora do livro conjunto com a cofundadora e membro do Advisory Board da CCP Research Foundation, Tânia Duarte, realçou a evolução do mercado europeu nos últimos anos, mas destacou que “em Portugal há ainda um longo caminho a percorrer”.

No entanto, considerou que “se no contexto regulatório estão a acontecer mudanças, talvez estas venham a ser mais rápido do que esperamos”.

Gabriela Figueiredo Dias considerou que o futuro deverá passar por uma perspetiva genericamente de sustentabilidade de tudo aquilo que são as finanças, ao invés da “perspetiva de segregar os aspetos de sustentabilidade das restantes preocupações do regulador”.

Ucha: “Muito satisfeitos pela primeira emissão de green bonds no nosso mercado hoje”

A CEO da Euronext, Isabel Ucha, destacou o lançamento da primeira emissão obrigacionista “verde” admitida à negociação em Portugal no mercado não regulamentado pelo grupo Altri, através da participada Sociedade Bioelétrica do Mondego e o Banco BPI.

A emissão, esta terça-feira, no montante de 50 milhões de euros, pagou uma taxa de cupão de 1,9% e segundo o comunicado do grupo destina-se-a “a financiar os investimentos da SBM na construção de uma nova central termoelétrica a biomassa na Figueira da Foz”.

“Ficámos muito satisfeitos por teremos a primeira emissão de green bonds no nosso mercado hoje. A emissão deste tipo de obrigações no grupo Euronext é algo que já vem a ocorrer há muito tempo”, disse Isabel Ucha. “Somos uma bolsa líder neste segmento, já com 54 emitentes, mais de 50 mil milhões de obrigações emitidas e mais de 90 operações nos últimos cinco anos. Dos 50 mil milhões foram cerca de 20 mil milhões nos últimos 12/14 meses”, acrescentou.

A CEO da Euronext sublinhou que “tem havido uma aceleração do interesse por estes temas, o que é revelador da importância que lhe está a ser dada pelos investidores institucionais”.

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