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Finlândia entra esta terça-feira na NATO como membro de pleno direito

A Finlândia tem a partir desta terça-feira a garantia de que os 30 membros da NATO estarão ao seu lado na defesa e segurança do país. De Moscovo, receberam outra garantia: o país passa à condição de “alvo legítimo”. Entretanto, desespera pela entrada da Suécia.
4 Abril 2023, 07h38

A partir desta terça-feira, a Finlândia passa a fazer parte da NATO como membro de pleno direito. O que quer dizer que terá todos os restantes 30 membros da aliança engajados, entre outras, com a obrigação de participarem na sua defesa. Mais segurança, portanto. Ou menos, dependendo dos pontos de vista. O Kremlin já veio dizer precisamente o contrário: a entrada da Finlândia na NATO coloca o país no grupo daqueles que a Rússia entende serem os seus principais inimigos. Com muitas centenas de quilómetros de fronteira comum – historicamente muito porosos, como os finlandeses bem sabem – são péssimas notícias vindas do lado de lá. De um dia para o outro, a Finlândia passou a ser considerado um “alvo legítimo”, nas palavras de Moscovo.

A entrada da Finlândia na NATO é uma decorrência da invasão da Ucrânia por parte da Rússia – motivo que obliterou décadas de feroz independência militar (e militante) do país, que resistiu a todas as pressões da Guerra Fria, às loucuras de José Estaline, às decisões mais ou menos aleatórias de Nikita Khrushchov e à proverbial má-disposição de Leonid Brejnev. Mas não ao imperialismo de Vladimir Putin.

A entrada da Finlândia na NATO é explicada oficialmente como uma oportunidade para a aliança rever as suas capacidades de defesa em torno do Círculo Polar Ártico – como o Oceano Ártico e o Mar de Barents – onde, dizem os especialistas está atualmente um dos pontos mais sensíveis do globo. É que os Estados Unidos ficam logo do outro lado da Gronelândia e os mares gelados já não são, em termos tecnológicos, uma dificuldade inultrapassável. Mas se o mar aberto é um novo desafio para a NATO, por maioria de razão é-o também o Mar Báltico, que constitui uma das saídas estratégicas da Rússia para os horizontes de água a perder de vista.

A importância geográfica da Finlândia neste quadro geoestratégico é de tão simples compreensão, que o mais difícil é compreender-se o que terá levado o país a demorar tanto tempo a decidir-se pela adesão à NATO. A proximidade da Rússia é a explicação – e a Finlândia só o terá decidido porque não estava sozinha na decisão: num quadro em que a união continua a ter alguma força, os finlandeses decidiram que, apoiados em decisão idêntica dos vizinhos da Suécia, estava na altura certa.

Mas não contaram com os imprevistos. E por muito que a Finlândia tivesse esbracejado e a NATO também, a verdade é que a Finlândia entra hoje sozinha na NATO. O seu grande desafio é, evidentemente, tudo fazer junto do governo da Turquia para que o regime de Recep Erdogan regresse à mesa das negociações com Estocolmo e levante a suspensão da sua decisão de aceitar a sua entrada – que na prática impede que isso aconteça.

A Finlândia na NATO ou a Finlândia e a Suécia na NATO são, do ponto de vista estratégico e militar, duas coisas muito diferentes. Por isso, de algum modo, a primeira prioridade da Finlândia é queimar tempo e ‘rezar’ para a Suécia não demore muito.

Os tempos não lhe estão de feição. É que a seis semanas das eleições presidenciais (que acontecem a 14 de maio, juntamente com as parlamentares) Recep Erdogan tem mais em que pensar que na Suécia. A dureza com que o regime de Ancara geriu o acordo tripartido com os dois países escandinavos deixou a maioria dos analistas surpreendido. Quando a Turquia disse que não apoiaria a entra dos dois novos membros senão mediante condições, os analistas apressaram-se a afirmar que os Estados Unidos resolveriam o assunto em pouco tempo ‘atirando’ novo e mais sofisticado armamento para a Turquia. A pressa parece ter-lhes toldado o raciocínio: afinal não era uma chantagem de Ancara. Neste momento, ninguém acredita que a questão sueca fique resolvida até às eleições. Depois haverá novos parlamentares, a necessidade de eleger um novo presidente da assembleia e a formação do novo governo. Se por acaso Erdogan perder e o ‘seu’ partido AKP não tiver maioria, a NATO entrará com certeza em modo stress. De pouco parece ter valido o facto de o presidente finlandês Sauli Niinisto, ter estado na Turquia há duas semanas – na tentativa de ajudar no convencimento de que a Suécia também tem de entrar na NATO. Ainda ontem, 3 de abril, o secretário-geral da organização, o norueguês Jens Stoltenberg, recordou que a a NATO agradece à Turquia (e à Hungria) que se despachem.

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