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Especialista alerta para “baixa literacia acerca do que é a doença psiquiátrica”

Para Pedro Morgado, coordenador Regional de Saúde Mental, ARS Norte, este estigma leva “a que a sociedade se desresponsabilize mais do tratamento das doenças psiquiátricas comparativamente com outras doenças, não só da neurologia, mas também as doenças cardiovasculares, as endocrinológicas, oncológicas, que tem uma mobilização social muito maior do que as psiquiátricas”. Ideia foi expressa na conferência “O Futuro das Neurociências” organizada em conjunto pelo JE e Biogen Portugal.
9 Maio 2023, 12h05

O estigma em torno das doenças psiquiátricas desresponsabiliza, na opinião de Pedro Morgado, coordenador Regional de Saúde Mental da ARS Norte, a sociedade em relação ao tratamento das doenças psiquiátricas comparativamente com outras doenças, durante o painel “O Futuro das Neurociências” a conferência que decorre no Centro Cultural de Belém e que visa debater os desafios e oportunidades associados à saúde do cérebro em Portugal.

“O facto de nós termos duas abordagens distintas para doenças que são do cérebro, umas que estão mais a cargo da neurologia e outras da psiquiatria e falarmos de estigma quando falamos de psiquiatria é já um indicador de que de facto temos ainda um problema relacionado com a forma como olhamos para as doenças psiquiátricas, como a sociedade continua a confundir a doença com a pessoa que esta por trás da doença e como estes equívocos tem consequências muito significativas para as pessoas”, defende o especialista

Segundo Pedro Morgado, este estigma leva “a que a sociedade se desresponsabilize mais do tratamento das doenças psiquiátricas comparativamente com outras doenças, não só da neurologia, mas também as doenças cardiovasculares, as endocrinológicas, oncológicas, que tem uma mobilização social muito maior do que as psiquiátricas”.

A intervenção precoce e a conjugação de intervenções comportamentais com intervenções farmacologias são de maior importância para combater este estigma, defende o mesmo responsável. “É um facto que leva a que as pessoas venham mais tarde e esse é um problema para o qual temos de olhar e remediar enquanto sociedade; as pessoas procuram mais tarde tratamento” e “muitas vezes não se apercebem que estão doentes”, explica, quando questionado sobre os principais desafios das neurociências e da psiquiatria.

Pedro Morgado alude ainda ao que considera ser uma “baixa literacia acerca do que é a doença psiquiátrica, do que é o sofrimento normal: “Temos muitas situações que se arrastam e temos a oportunidade de intervir cedo”, explica.

“Há muitas razões para que esta situação se perpetue. Aquilo que diria que é o “pecado original”, a forma como ao longo da história se foi olhando para a doença psiquiátrica como algo distinto para as outras doenças”, continua.

O “medo”, “o desconhecimento do que é a experiência de ter uma doença psiquiátrica”, é outras das razões. “Até há alguns anos não tínhamos conhecimento das pessoas que tinham doença. Não sabíamos como era a vida destas pessoas, eram doenças muito invisíveis na sociedade. A visibilidade que estas doenças têm vindo a ganhar é algo que é muito positivo e que ajuda a combater o estigma e ajuda-nos a perceber que todos nos temos no nosso círculo de pessoas que vivem com a doença psiquiátrica”.

Por fim, a terceira razão para a estigmatização prende-se com a ausência, durante muito tempo, de tratamentos eficazes para estas doenças: “a esquizofrenia, que apesar de ser uma doença pouco frequente, é muito paradigmática na psiquiatria”.

“Não tínhamos tratamento muito eficazes, até ao advento da farmacologia, que no caso da esquizofrenia foi muito; há um antes e um depois da chegada dos antipsicóticos, nomeadamente dos de segunda e terceira geração. Como não tínhamos tratamento e como havia uma deterioração daquilo que era o funcionamento da pessoa, havia um isolamento, gerava medo e a sensação de que as pessoas com doença psiquiátrica eram estranhas ao resto da sociedade”.

Pedro Morgado entende que há mudanças comportamentais que a sociedade pode fazer para reduzir o estigma em torno da doença psiquiátrica. “Há pequenas coisas que todos podemos fazer; tentarmos eliminar da nossa conversa habitual algumas palavras que continuam a ser estigmatizantes. Continuamos a insultar-nos com doenças psiquiátricas. Ainda está demasiado presente nas nossas conversas do dia a dia e até no espaço público”.

O JE e a Biogen Portugal promovem esta terça-feira, 9 de maio, em Lisboa, a conferência “O Futuro das Neurociências”, uma iniciativa que tem lugar no Centro Cultural de Belém e que visa debater os desafios e oportunidades associados à saúde do cérebro em Portugal.

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