O banco norte-americano Goldman Sachs emitiu uma nota em que avalia o impacto do colapso do Silicon Valley Bank e as potenciais repercussões na Europa, incluindo tanto bancos da zona euro como do Reino Unido.
“Em primeiro lugar, as tensões bancárias dos EUA podem alastrar diretamente aos bancos europeus, se houver um levantamento significativo de depósitos nas subsidiárias de bancos europeus nos Estados Unidos da América”, alerta o banco norte-americano. No entanto, o peso dos depósitos detidos nos EUA em percentagem do total de depósitos do sistema bancário europeu e do Reino Unido é baixa, ressalva a instituição.
“Entre os bancos da área do euro acompanhados pelo Goldman Sachs Global Investment Research, o Santander é a única instituição com exposição significativa a depositantes dos EUA (com cerca de 12% do total de depósitos nos EUA), enquanto o HSBC e o Barclays são as únicas grandes instituições financeiras do Reino Unido com expressivos depósitos (com cerca de 6% dos depósitos globais localizados nos EUA para o HSBC e 8% no conjunto das Américas para o Barclays)”, revela o banco norte-americano numa nota com o título “Potential Spillovers from US Banking Stress”.
Os dados sobre a exposição indireta a instituições norte-americanas afetadas através de empréstimos interbancários revela que essa exposição é limitada, tanto para os bancos da zona Euro como para os do Reino Unido.
Os bancos da zona euro e do Reino Unido são resistentes em várias dimensões, destaca a nota da Goldman Sachs. “Em particular, os nossos analistas bancários sublinham que os rácios de capital dos bancos estão significativamente acima dos mínimos regulamentares em toda a Europa; depois os rácios de liquidez e de funding (financiamento) são fortes, tanto em termos agregados como banco a banco; os bancos têm significativos depósitos em excesso e as perdas potenciais em títulos hold-to-maturity (detidos até à maturidade) parecem baixas”, destaca o banco.
O Goldman Sachs considera que, “no seu conjunto, os sistemas bancários da zona euro e do Reino Unido estão, portanto, bem capitalizados e mantêm uma ampla liquidez, sugerindo que o risco de contágio direto é baixo”.
“Em segundo lugar, as tensões no sector financeiro podem afetar os empréstimos dos bancos europeus à economia real, dado o aumento dos riscos financeiros, com os spreads de títulos europeus a subirem 12bp, os bancos poderão passar de empréstimos de alto risco para empréstimos de baixo risco e reduzir o volume global de crédito”, lê-se na nota de Research.
“Dada a, já em curso, acentuada deterioração dos empréstimos bancários, isto poderá apertar ainda mais os volumes e condições da concessão de crédito na área do euro e no Reino Unido, ampliando o obstáculo ao crescimento da carteira de crédito que já se verifica. O recente alargamento dos spreads de crédito aponta para o risco de que as condições de concessão de crédito bancário poderem apertar significativamente mais, o que pode vir a ser um importante canal de contágio das tensões financeiras nos EUA”, defende o Goldman Sachs.
Em terceiro lugar, o banco norte-americano diz que “o stress bancário dos EUA poderia alastrar à Europa através de um aperto das condições financeiras mais amplas”.
“Os nossos Índices de Condições Financeiras (FCIs) mostram que a queda dos rendimentos (yields) das obrigações [soberanas] têm até agora mitigado a grande descida dos preços das ações e o facto de o dólar estar mais fraco, com alterações globais limitadas nos nossos FCIs. A nossa regra geral sugere que um aperto de 100 bp no FCI normalmente reduz o crescimento em cerca de 1 pp após um ano. Embora o obstáculo ao crescimento implicado pelo aperto dos FCI até à data pareça limitado, as repercussões mais fortes podem emergir rapidamente como uma fonte de risco negativo para o crescimento e exigir um acompanhamento atento”, lê-se na nota.
O FCI é definido como uma média ponderada de taxas de juro sem risco, a taxa de câmbio, avaliações de ações, e spreads de crédito, com pesos que correspondem ao impacto direto de cada variável no PIB.
O banco conclui que no conjunto, a discussão sugere que “o risco de contágio direto parece limitado, mas que os empréstimos bancários e a resistência do FCI poderiam representar riscos significativos de abrandamento do crescimento em toda a Europa”.
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