Guimarães e Oeiras são os primeiros dois municípios escolhidos para receber os polos tecnológicos dedicados ao Espaço que o CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto está a criar em Portugal. Chamam-se “space hubs” e resultam de um protocolo com as autarquias e as universidades para desenvolver aplicações especializadas e atrair e reter talento no sector.
A Universidade do Minho, que tem uma licenciatura Engenharia Aeroespacial, e o Instituto Superior Técnico (IST), que tem um campus no Taguspark e é uma das universidades mais reconhecidas na área em Portugal, foram as parceiras do ensino superior selecionadas para este investimento.
Em relação a Oeiras, o executivo municipal já aprovou, em reunião de Câmara, a celebração do protocolo de cooperação. O JE sabe que a antiga fundição de Oeiras é um dos locais em cima da mesa para acolher este hub nesse concelho.
“Com o MH-1 [segundo satélite português] e o início da integração de satélites em Portugal, o que é que nós vamos precisar? De criar massa crítica neste sector, que não acaba com o lançamento do satélite, mas também envolve a sua operação, o desenvolvimento de aplicações de observação da Terra. E isso passa pela ligação forte às universidades, daí estarmos a dinamizar vários polos”, disse ao Jornal Económico (JE) a Chief Technology Officer (CTO) do CEiiA.
Helena Silva considera que estes polos – space hubs – são “absolutamente determinantes” para, logo desde as mesas e cadeiras universitárias, começar-se a criar produtos que possam ir para o espaço e fazer nascer a nova geração de engenheiros. Na sua opinião, a partir de órbita é possível obter soluções mais rápidas e abrangentes para resolver dois problemas mundiais: alterações climáticas e insegurança, contribuindo para a soberania da Europa.
“Queremos estar muito ligados a estas universidades para começar a criar capacidade para virmos a desenvolver aqui MH-X, uma constelação que vem mais da parte científica. Dar desafios a universidades daqui que estão mais ligadas ao aeroespacial e poder a atrair e a fixar os nossos colegas de engenharia, que muitas vezes saem do país porque não têm desafios em Portugal”, lamenta. Logo, a referência ao nome do ex-ministro Manuel Heitor (MH) manter-se-á.
Queremos ser um dos dois operadores de muito alta resolução da Europa. O outro é a Airbus. Desafio os meus colegas engenheiros a não irem para fora do país, porque podem ter – e têm – futuro em Portugal
É essa a razão pela qual o CEiiA tem assinado acordos com a alemã RFA – Rocket Factory Augsburg, a britânica Open Cosmos ou até a Universidade da Beira Interior e adquiriu uma participação de 35% na startup luso-espanhola Geosat. Aliás, o último estágio do projeto com a RFA – o lançador RFA One – está quase a terminar, segundo a CTO do CEiiA.
Na opinião de Helena Silva, Portugal precisa de capacidade de engenharia e de construção tanto de satélites como de sistemas de lançadores. “Não é só lançar um satélite e já está. É criar todas as condições para conseguirmos ter sustentabilidade a médio prazo neste sector”, alerta, em declarações ao JE.
04-03-2024
Portugal pôs em órbita o seu segundo satélite, 31 anos depois do PoSat-1. O 4 de março de 2024 marcou o verdadeiro regresso de Portugal a este sector mais de três décadas depois. O consórcio liderado pela Thales Edisoft Portugal e o CEiiA foi responsável pelo MH-1 (Aeros), que “voou” num foguetão Falcon 9 da Space X, numa missão RideShare. No mesmo dia, a Anacom – Autoridade Nacional de Comunicações, enquanto regulador espacial, emitiu a primeira licença de operações espaciais (lançamento, comando e controlo).
E agora? Decorre a comunicação com o satélite. O primeiro ciclo de operação do satélite é da responsabilidade da Thales, que desenvolveu o software, e depois o testemunho é passado ao CEiiA, que vai recolher imagens para várias solicitações, nomeadamente informação sobre os oceanos.
“Começámos este caminho de pensar no espaço já algum tempo. Com o projeto europeu Aeros, do qual o satélite MH1 faz parte, o nosso objetivo era – como tudo o que fazemos no CEiiA – desenvolver novos produtos, com cadeias de valor completas a partir de Portugal, em sectores de elevada intensidade tecnológica. Começámos pela mobilidade, seguimos para aeronáutica e hoje estamos na área do espaço”, concluiu a diretora de tecnologia do CEiiA.
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