Segundo o índice global da paz, publicado pelo Institute for Economics & Peace, em Junho de 2018, Portugal é o quarto país mais pacífico do mundo. Porém, segundo o índice global da paz positiva, publicado pelo mesmo instituto, em Outubro de 2018, Portugal, encontra-se em 20.º lugar.

A diferença reside no seguinte: enquanto o primeiro índice mede não só a ausência de guerra, mas também a ausência de violência ou de medo de violência, o segundo índice está associado à actuação das instituições, considerando, em especial, factores como o funcionamento das instituições governativas, os níveis de corrupção, etc.

Ambos os índices são relativamente positivos para Portugal, ambos ficam bem numa brochura de promoção de Portugal como destino turístico para 2019, ambos servem para iniciar uma qualquer intervenção no debate do estado da nação do próximo ano e defender que está tudo bem (não quero dar ideias). Contudo, os índices, quaisquer que sejam, por melhores resultados que indiciem, são números, serão sempre números num quadro branco de um país a cores.

A ideia de paz parece estar intimamente ligada à ideia de segurança. Sem segurança em casa, na rua e no trabalho, dificilmente conseguimos sustentar que temos uma sociedade na qual há paz. E Portugal, é um país seguro? Em geral sinto-me seguro, acredito nas instituições políticas e, por vezes, ainda que cada vez menos, até faço fé no que me dizem as entidades públicas. Julgo, porém, que tanto a segurança que objectivamente temos, como aquela que subjectivamente sentimos que temos, estão cada vez mais frágeis, cada vez mais debilitadas.

Interroguemo-nos sobre o que é que o incêndio de Pedrógão Grande, o furto de equipamento militar em Tancos e a derrocada da EN255 em Borba têm em comum?

Nas três situações, o Estado falhou numa das suas funções principais: defender e garantir a segurança do povo português. Em Pedrógão falhou porque as comunicações falharam, os meios eram insuficientes e a operação foi desorganizada. Em Tancos falhou porque a manutenção das instalações tardou, a disciplina já não é o que outrora foi, e a punibilidade parece ser coisa da sociedade civil. Em Borba falhou porque não fiscalizou, ignorou os alertas das entidades competentes e conformou-se com o risco.

Poder-se-iam escolher outros exemplos de falhas catastróficas do Estado, mas em todos observamos que as justificações se subdividem em múltiplos motivos que tornam menos percetível o denominador comum: a total falta de meios e de capacidade de resposta de um Estado que se tornou tão grande, tão dispendioso e tão disperso, que falha agora numa das áreas fundamentais, a defesa dos cidadãos.

A escolha dos rankings que citámos não é inocente e a diferença da posição de Portugal em ambos também não. É um facto que as falhas dos Estados condicionam em grande medida a confiança e a segurança dos povos. O nosso, como temos testemunhado, parece falhar cada vez mais e com uma gravidade cada vez mais maior. É essencialmente sobre isto que devemos reflectir.

 O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.