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“Herdámos uma cidade fantasma”. Habitantes de Barcelona estranham cidade sem turistas

“Éramos só nós. Após décadas em que o turismo cresceu exponencialmente, ao ponto dos 1,6 milhões de habitantes receberem 30 milhões de visitantes no ano passado, eles foram-se embora”, escreve Stephen Burgen no ‘The Guardian’.
  • Barcelona, Espanha
11 Maio 2020, 18h18

Barcelona é uma das cidades mais visitadas de Espanha e no ano passado recebeu mais de 30 milhões de visitantes. Com a pandemia por Covid-19 a comprometer as receitas turísticas das principais cidades mundiais, Barcelona foi abandonada pelos turistas que enchiam as ruas e os habitantes retomaram o controlo de uma cidade vazia.

De máscara e luvas, os cidadãos começam a sair às ruas das cidades que nas últimas seis semanas pertenceram em exclusivo aos trabalhadores das plataformas de entrega, como Glovo, Deliveroo e Uber Eats, bem como aos poucos habitantes que se arriscavam nas compras de supermercados.

“Durante este tempo, as pessoas demonstraram um grau extraordinário e inesperado de disciplina, estoicismo e espírito coletivo ao seguir as regras de um dos bloqueios mais rígidos da Europa”, escreve o jornalista do ‘The Guardian’ que acompanhou todo o processo em Barcelona, afirmando que aos poucos os habitantes estão a voltar à normalidade.

Algo diferente na cidade que os habitantes quase notaram imediatamente foi a língua falada por quem passeava na rua. Apesar do francês, alemão ou urdu, o predominante era o catalão e espanhol na cidade da multiculturalidade, ou seja, os turistas desapareceram.

“Éramos só nós. Após décadas em que o turismo cresceu exponencialmente, ao ponto dos 1,6 milhões de habitantes receberem 30 milhões de visitantes no ano passado, eles foram-se embora”, escreve Stephen Burgen no ‘The Guardian’. “Recuperámos a nossa cidade. Até as Ramblas, há muito abandonadas às forças terríveis da ocupação, é nossa mais uma vez”.

“Nada jamais irá apagar da memória o primeiro gosto de liberdade, há pouco mais de uma semana, quando nos foi permitido fazer exercício pela primeira vez”, acrescenta o autor do texto, descrevendo que o facto das praias permaneceram fechadas para banhos de sol não interessa nesta altura.

Nestas saídas à rua, durante a primeira semana de desconfinamento, os habitantes da cidade estão mais atentos aos sons que os rodeiam devido à falta de carros na cidade. “A cidade parece diferente quando os carros já não dominam a paisagem. Vemos a linha das ruas e os detalhes na arquitetura”, diz Stephen Burgen, afirmando que “talvez não respiramos ar tão limpo desde o início da revolução industrial”.

Ainda assim, apesar dos catalães recuperarem a cidade que lhes pertence,”algo não parece certo” devido a muitos bares se encontrarem encerrados e de muitos outros nunca mais voltarem a abrir ao público, nem de muitos outros negócios abrirem portas por o turismo ser “a sua razão de ser”.

“Passei na Sagrada Familia e só lá estavam quatro pessoas, todos polícias, sem transeuntes e, claro, sem turistas”, descreveu Pere Mariné, nativo do bairro Pobleneu em Barcelona. Se antes o edifício ainda em construção tinha filas à porta para visitar um dos monumentos mais famosos da cidade, hoje está deserto e sem qualquer fila na entrada. “Também sentimos falta da vida da cidade, o bom e o mau, as pessoas nas ruas, as discussões na Rambla de Poblenou”.

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