[weglot_switcher]

Herdeiros do Multibanco aceleram na era digital

A massificação e a multiplicação das soluções eletrónicas de pagamentos são tendências imparáveis, e que em Portugal têm como base a robusta rede Multibanco, que nos anos 80 também constituiu uma revolução na forma de lidar com o dinheiro.
MB Way
29 Maio 2021, 15h00

A digitalização tomou de rompante as mais variadas vertentes do nosso dia-a-dia e o dinheiro não poderia ser exceção. Seguindo a tendência de cada vez menor componente física, que se vem verificando desde a passagem para moedas fiduciárias, o dinheiro é cada vez mais digital e desmaterializado, sendo que a pandemia e a necessidade de evitar contactos aceleraram a adoção de novas formas de lidar com o mesmo.

Apesar de ter sido um ano atípico, 2020 trouxe algumas novidades no nosso modo de vida que certamente se manterão num mundo pós-Covid. Desde o simples cartão contactless à proliferação das criptomoedas, a pandemia coincidiu com alterações profundas à forma como lidamos com o dinheiro, e isto num contexto de redução da atividade económica. Prova disso são os dados do Relatório dos Sistemas de Pagamento do Banco de Portugal (BdP) de 2020.

Não sendo habitualmente visto como um país de tecnologia de ponta e inovadora, Portugal destacou-se com a adoção da rede Multibanco (MB), ainda na longínqua década de 80. Apesar da implementação tardia, a verdade é que o sistema se afirmou como um dos mais avançados da Europa, permitindo fazer um conjunto de operações como pagar contas de água e luz ou, posteriormente, originar outra inovação através dos cartões pré-pagos de telemóvel.

A verdade é que, apesar dos portugueses estarem longe de imaginar à altura, foi esta rede que assentou os alicerces para o atual paradigma de transações eletrónicas e homebanking. Das originais nove caixas automáticos de 1985, o país foi crescendo a sua infraestrutura até chegar às 14.300 registadas em 2020.Ainda assim, a crescente adoção de canais digitais fez a rede MB perder significância, com uma das principais alternativas a surgir precisamente através da SIBS, o MBWay.

Com a rápida transição dos portugueses para estas ferramentas, dada a sua conveniência, e fazendo uso da robusta rede de mais de 393 mil terminais de pagamento espalhados pelo país, foi natural que a aplicação de telemóvel começasse a ser cada vez mais aceite como forma de pagamento. O país dispunha, no final de 2020, de 1,4 caixas automáticos por cada mil habitantes, sendo que os terminais de pagamento perfaziam 38,2, mostram os dados do Banco de Portugal.

No entanto, o ano passado marcou uma inversão na tendência de redução do número de caixas no país, o que sublinha bem a transição para pagamentos eletrónicos e a perda de relevância do dinheiro físico. Outro exemplo é o crescimento dos cartões de pagamento emitidos, que aumentaram 6,4% em 2020. Existiam ao final desse ano 26,2 milhões de cartões em Portugal, o que representa 2,6 cartões por habitante.

 

O empurrão da pandemia
Outro aspeto relevante em tempos de pandemia foi a proliferação da tecnologia contactless, que permite transações sem a necessidade de código. Originalmente limitada a 20 euros, esta forma de pagamento viu o seu teto subir até aos 50 euros no que primeiro seria uma medida temporária de combate à propagação da SARS-CoV-2, mas que rapidamente foi tornada permanente pelo BdP.

Este foi o empurrão que a tecnologia precisava para se fixar no dia-a-dia dos portugueses, tendo experienciado aumentos de 163% no número de transações e de 271% no valor movimentado em 2020, quando comparando com o ano anterior.

Apesar da evolução, a verdade é que o número de transações com meios de pagamento eletrónicos em Portugal até caiu em termos absolutos em 2020. Após se terem registado cerca de 3 mil milhões de operações com recurso a estes meios em 2019, o ano passado viu apenas 2,7 mil milhões. No entanto, há dois pontos relevantes nesta análise: o aumento no valor global e a comparação entre as quedas nas operações com papel e nas eletrónicas.

Em primeiro lugar, importa referir que o valor movimentado através destes canais aumentou, ainda que ligeiramente, dos 439 mil milhões de euros verificados em 2019 para 441 mil milhões em 2020. Esta subida representa um crescimento de 0,4%, isto num ano em que a atividade económica esteve seriamente condicionada por confinamentos generalizados e restrições que colocaram vários sectores em stand-by.

Em segundo lugar, o decréscimo de 9% na quantidade de transações com meios eletrónicos é largamente superada pela queda de 28% no volume de operações baseadas em papel, ao qual acresce igual redução no valor movimentado. Este será, certamente, o melhor exemplo da preponderância acrescida destes canais na nova realidade económica.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.