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Hidrogénio verde: Abertas candidaturas para projetos complementares à central planeada para Sines

O Governo abriu as candidaturas para empresas apresentarem os seus projetos que possam servir de complemento à central de hidrogénio verde planeada para Sines.
  • Nasa – Unsplash
18 Junho 2020, 10h23

O Governo quer conhecer projetos que possam vir a servir de complemento à central de hidrogénio verde planeada para Sines.

Com este objetivo, abriu um período para manifestação de interesse para participação no futuro Projeto Importante de Interesse Europeu Comum (ICPCEI) Hidrogénio, do qual o projeto de Sines é o projeto âncora.

As empresas interessadas devem apresentar as suas propostas até 17 de julho de 2020, com o resultado a ser conhecido até 27 de julho, segundo o despacho do Governo.

O documento determina que “nenhum financiamento está associado e/ou garantido nesta chamada”, que visa reconhecer a um projeto a “possibilidade de participar do futuro IPCEI Hidrogénio”.

Com o objetivo de a central arrancar em 2022,  “a maturidade dos projetos e capacidade de execução são considerados fundamentais”. As entidades interessadas deverão ainda declarar “possuir a capacidade económica e financeira necessária ao desenvolvimento do projeto proposto”.

A central de hidrogénio verde, um projeto privado, projetada para Sines “é parte integrante da Estratégia Nacional para o Hidrogénio”, e o objetivo é apresentar este projeto junto da Comissão Europeia para obter financiamento europeu.

Assim, o Governo sublinha que a “Comissão Europeia pode considerar elegível, para reconhecimento como IPCEI, um grupo de projetos únicos inseridos numa estrutura comum, ou num programa que vise os mesmos objetivos, contribuindo para a complementaridade e realização de um objetivo importante europeu”.

No despacho, o Executivo considera ” vantajoso complementar e reforçar a cadeia de valor integrada, é dada a oportunidade de participação de projetos no setor do hidrogénio, desde que garantida a coerência estratégica nacional e europeia neste domínio”.

A central de hidrogénio verde de Sines terá uma capacidade total de 1 gigawatt até 2030 e será alimentada através de eletricidade de origem renovável, eólica e solar. O objetivo do consórcio luso-holandês que está a desenvolver o projeto é que as primeiras unidades de eletrolisadores entrem em operação em 2022.

“Pretende-se alcançar a capacidade de integrar, em simultâneo, as dimensões da produção à escala industrial, do processamento, armazenamento e transporte, e do consumo interno e externo, por via da exportação, alicerçada em parcerias estratégicas, quer nacionais, quer a nível europeu”, segundo o despacho.

Esta chamada visa projetos, entre outros, para a “produção e consumo de hidrogénio verde com especial foco no caráter inovador, quer para satisfazer as necessidades de consumo nacional (primeira prioridade) quer para exportação (assim que estiverem reunidas as condições necessárias), possibilidade de descentralização da produção e consumo, beneficiando da liquidez no mercado do hidrogénio nacional criada em grande medida pelo projeto de Sines e tirando partido das infraestruturas de gás existentes e/ou constituir um importante valor acrescentado em termos de I&D&I (Investigação, Desenvolvimento e Inovação), levando a melhorias de desempenho e redução de custos de produção”.

O Governo aprovou a 21 de maio a Estratégia Nacional para o Hidrogénio que visa alavancar projetos como a fábrica de produção de hidrogénio verde em Sines, um investimento base superior a 2,85 mil milhões de euros.

Transformar Sines no centro de hidrogénio verde do sul da Europa

O consórcio luso-holandês Resilient Ventures, liderado pelo holandês Marc Rechter, ambiciona transformar Sines no principal centro de produção de hidrogénio verde do sul da Europa, , para exportar este gás para o maior centro industrial químico do mundo no norte da Europa.

“Queremos posicionar Sines como o centro principal de hidrogénio do sul da Europa. Queremos apresentar o projeto [na Comissão Europeia] o mais rapidamente possível”, disse Marc Rechter em entrevista ao Jornal Económico em fevereiro deste ano.

“Daqui a 10 anos, Sines poderá desenvolver-se como um hub de hidrogénio muito importante do sul da Europa, tem muito boas características”, destaca, sobre o projeto que tem o nome de Flamingo Verde (Green Flamingo).

O objetivo é produzir hidrogénio verde, a partir de energia renovável, para depois ser transportado em estado gasoso para o norte da Europa. E para que serve este hidrogénio? “É usado nas refinarias, nas indústrias do aço, cimenteira, farmacêutica, de vidro, fertilizantes”, explica Marc Rechter, apontando que estes setores usam atualmente hidrogénio cinzento e que estão a procurar alternativas menos poluentes.

“Na Europa do Norte, está a começar a haver um mercado muito grande de procura, porque a indústria esta a ser pressionada para descarbonizar. Entre os portos de Roterdão (Países Baixos) e de Antuérpia (Bélgica), e a área do Ruhr (Alemanha), existe o maior cluster químico do mundo. É o maior mercado para o hidrogénio do mundo”, explicava o promotor, alertando que havia um longo caminho a percorrer, pois existem várias barreiras a superar, incluindo financiamento e apoios da Comissão Europeia.

Mas de onde é que vem o dinheiro para este projeto? “O financiamento vem de vários lados. Virá em parte de programas europeus, outra parte de apoios estatais de Portugal e da Holanda, instrumentos do Banco Europeu de Investimento, bancos privados e naturalmente o capital das empresas e dos fundos de investimento”, dizia então.

Em relação a prazos, Marc Rechter apontava em fevereiro que “alguma construção inicial” poderá arrancar “algures na segunda parte de 2021” em Sines. O promotor aponta que até 2023 poderão estar prontas as fábricas de eletrolisadores e de painéis solares. Depois, até 2025, a central de hidrogénio já deverá estar a “produzir e a exportar”. Entre 2025 e 2030, o projeto deverá duplicar a produção de hidrogénio.

O projeto tem um custo total de 3,5 mil milhões de euros, e prevê a construção de uma fábrica de electrolisadores em escala industrial, outra fábrica para produzir painéis solares fotovoltaicos, uma central solar e uma central de hidrogénio verde.

A eletricidade renovável gerada na central solar vai ser usada para produzir hidrogénio através de um eletrolisador, num processo químico conhecido por eletrólise.

Já a fábrica vai produzir eletrolisadores em escala industrial que vão servir, primeiro, para a central de hidrogénio de Sines, e depois para vender para outras centrais de hidrogénio. O projeto poderá vir a criar cinco mil postos de trabalho.

Como principais mercados de exportação, o promotor aponta os Países Baixos, Bélgica e Alemanha. Em Portugal, o hidrogénio poderá abastecer refinarias, como a da Galp em Sines, ou ser usado na rede de gás natural. A central poderá vir a produzir 465 mil toneladas de hidrogénio por ano, eliminando a emissão de 18,6 milhões de dióxido de carbono por ano.

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