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Investir não vai ficar mais fácil em 2017

Quem quiser obter retornos vai ter de continuar a assumir riscos no próximo ano. Analistas preferem EUA, Ásia e emergentes.
22 Dezembro 2016, 10h03

O próximo ano promete ser mais um período de desafios para os investidores. Uma espécie de sequela daquele que alguns já apelidaram de ‘annus horribilis’, rodeado de incerteza e tensões geopolíticas, num contexto de fraco crescimento económico, baixa inflação mas com os bancos centrais a darem uma ajuda. O risco político está claramente na agenda: “Os riscos e a incerteza política vão continuar em foco, à medida que têm início as negociações para o Brexit, os países ‘core’ da Europa enfrentam eleições e tomam forma as políticas de segurança, relações e comércio internacional da nova administração norte-americana”,  comentava Oliver Adler, responsável de estudos económicos do Credit Suisse. E neste campeonato são precisamente os ativos de risco europeus – acções e obrigações – os mais expostos aos riscos políticos, de acordo com os especialistas do banco suíço.

Na Europa, além dos riscos políticos, o papel do Banco Central Europeu vai continuar a ditar o rumo das principais classes de ativos. Para já, o  regulador decidiu estender o programa de compra de ativos por mais nove meses, até dezembro de 2017, mas o Credit Suisse alerta que, “em algum momento, e suspeitamos que seja em finais do Verão, os mercados podem começar a descontar o fim do programa, e o preço das obrigações vai cair [as ‘yields’ reagem em sentido inverso)”. Um importante ponto de viragem nas estratégias de investimento das seguradoras, fundos de pensões e investidores com pouca tolerância ao risco. “No mercado acionista, isso pode ser associado a uma mudança de abordagem, menos defensiva/mais cíclica”, escrevem os analistas no seu ‘Outlook’ para 2017.

Clarificação política na Europa

Já no mercado obrigacionista, isso pode levar a uma avaliação mais rigorosa do risco de alguns Estados-membros, desde logo no ponto mais ocidental da Europa: “Portugal pode tomar o lugar da Grécia como novo ponto de preocupação para os investidores em obrigações, dadas as dificuldades orçamentais”.

Mas se a Europa aguarda por uma clarificação das tendências políticas, nomeadamente em França e na Alemanha, com o ressurgimento do populismo de forças nacionalistas, nos EUA a dúvida é de que forma irão materializar-se esses princípios. Apesar dos receios, nomeadamente em torno dos acordos de comércio internacional, os analistas mostram-se confiantes em relação à economia norte-americana. Alguns setores deverão beneficiar das políticas de Trump, desde logo a saúde e o setor financeiro, com perspetivas de menor regulação, e a construção, dado o ambicioso programa de obras públicas anunciado.

As perspetivas mais otimistas residem, no entanto, no mercado asiático e nos mercados emergentes, onde os analistas esperam um crescimento acima das economias desenvolvidas. Na China, “a sua política ‘one belt, one road’ para expandir o comércio e o investimento pode ser o novo Plano Marshall que o mundo precisa após a crise financeira global. Com a Índia e a Indonésia a realizarem um progresso significativo nas reformas, a Ásia oferece o melhor equilíbrio de crescimento e investimento”, consideram os analistas da AllianzGI.

Em suma, “esperamos que 2017 ofereça a mesma dieta de 2016: graças aos rendimentos de mercado baixos, aqueles investidores que assumirem risco insuficiente encontrarão, de forma genérica, resultados insuficientes. Além do mais, o desempenho histórico de longo-prazo que os investidores gostariam de ver novamente parece não passar disso mesmo – algo do passado. O futuro exige uma procura ativa e incisiva da valorização do capital e das oportunidades de rendimento, enquanto aguardamos uma mudança de ciclo económico”, remata o responsável pela estratégia global da Allianz GI, Neil Dwane.

[Notícia publicada na edição de 16 dezembro do Jornal Económico]

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