[weglot_switcher]

Duas demissões precoces, 278 dias de vida e uma contratação dúbia. A polémica Comissão do novo aeroporto em 8 números

A Comissão Técnica Independente mandatada pelo Conselho de Ministros tem até ao final deste ano para apresentar ao Executivo uma proposta de localização para o novo aeroporto. Eis os números que recontam os trabalhos deste organismo.
novo aeroporto Alcochete
20 Julho 2023, 07h30

Os trabalhos da Comissão Técnica Independente (CTI), que tem até ao final deste ano para chegar a uma proposta final sobre a localização do novo aeroporto da região de Lisboa, “avançam a 200%”, garantiu esta semana ao Jornal Económico (JE) a presidente deste organismo, Rosário Partidário.

Contudo, a turbulência nos trabalhos da CTI faz-se sentir desde o primeiro dia e logo com uma discórdia quanto àquilo que a CTI de facto tem de fazer. Este organismo, criado por despacho do Governo, foi mandatado para avaliar as opções de localização para o novo aeroporto da região de Lisboa (não do país), e logo nessa especificação os especialistas dividiram-se, por muitos entendem que a capacidade aeroportuária não se restringe à região da capital. Mas a resolução do Conselho de Ministros que atribui competências à CTI não deixou margem para dúvidas e também não foi alterada — mesmo que essa proposta de alteração tenha partido da própria CTI.

Recorde alguns números que resumem o percurso desta CTI desde que foi criada.

278 dias desde que foi criada

A CTI foi criada por despacho da Presidência do Conselho de Ministros a 14 de outubro de 2022. O documento prevê que a comissão contribua para a análise estratégica e multidisciplinar do aumento da capacidade aeroportuária da região de Lisboa. A decisão de criar uma comissão independente – isto é, composta por membros alheios ao poder governativo ou a interesses terceiros do sector – foi tomada um mês antes.

O diploma diz que esta CTI deve ser coordenada “por uma personalidade com reconhecido mérito (coordenador-geral), designada sob proposta conjunta do presidente do Conselho Superior de Obras Públicas (CSOP), do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS) e do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP)”. Essa personalidade acabou por ser Rosário Partidário.

2 demissões precoces

A CTI é composta por seis coordenadores, responsáveis por diferentes áreas temáticas: planeamento, acessibilidades rodoviárias e ferroviárias, ambiente, análises económicas, financeiras e jurídicas. Todos eles remunerados.

Até à data, pelo menos dois dos seis coordenadores da CTI já bateram com a porta. Primeiro, saiu Daniel Murta, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, supostamente por não ter “perfil para a função”, chegou a dizer a coordenadora da CTI. “Às vezes não acertamos nas pessoas à primeira”, disse ao JE sobre a saída.

Mas mais polémica foi a saída da jurista Mafalda Carmona. A própria disse que saiu por uma incompatabilidade com a coordenadora-geral, mas Partidário contestou essa versão e disse que a própria saiu “por falta de tempo”.

1 contratação dúbia

Mais recentemente, e a somar ao rol de dúvidas quanto à isenção dos colaboradores desta comissão – que, recorde-se, tem de conduzir um trabalho de avaliação independente, foi contratado o engenheiro Victor Rocha.

Como o JE avançou, o ex-quadro da ANA vai receber 70 mil euros até ao final do ano (cerca de 11.600 euros por mês) para conduzir trabalhos técnicos. Contudo, o engenheiro civil foi signatário de uma plataforma cívica que se opunha à solução Montijo e chegou a escrever artigos de opinião a alegar que “não são necessários estudos para concluir que a opção NAL/Campo de Tiro de Alcochete é melhor”.

Sobre um possível conflito de interesses, a coordenadora da CTI rejeitou ao JE que haja qualquer problema com a contratação.

9 soluções na mesa e 83 dias desde a lista final

Pelo menos cinco localizações vão ser alvo de avaliação obrigatoriamente, uma vez que constam da resolução da Presidência do Conselho de Ministros. São elas: Portela + Montijo, Montijo + Portela, Alcochete, Portela + Santarém, e Santarém.

De fora ficaram opções que tinham sido anunciadas e discutidas antes como Beja, Alverca, Monte Real e Ota, por exemplo, por não cumprirem os critérios decididos pela CTI.

Em abril deste ano, depois da consulta pública, a CTI colocou novas opções na mesa, que serão agora estudadas: Pegões; Humberto Delgado+Pegões e Rio Frio+Poceirão e Humberto Delgado+ Alcochete.

+100 sugestões recebidas

A CTI diz ter recebido “mais de uma centena” de sugestões dadas por entidades e cidadãos na plataforma pública criada para o efeito.

A consulta pública pretendia receber sugestões de qualquer pessoa ou organismo quanto à nova localização do aeroporto, mas apenas quatro dessas soluções chegaram à lista final, onde já estavam cinco opções decididas pelo Governo.

5 critérios de decisão

Quais foram os critérios para filtrar as localizações possíveis? A CTI definiu, pelo menos, cinco.

O primeiro diz respeito à segurança aeronáutica e pretende avaliar potenciais conflitos com áreas militares e a probabilidade de conflito com populações de aves, mas também tem em conta a limitação da operação de drones e novas tecnologias.

De seguida, importa perceber a acessibilidade, com atenção ao “contributo para o desenvolvimento e coesão territorial das opções” e às infraestruturas e serviços associados aos diferentes modos de transporte, nomeadamente o ferroviário. Tem também em conta a necessidade de processos de expropriação de territórios privados.

O terceiro critério prende-se com a saúde humana e a viabilidade ambiental. A CTI terá de avaliar variáveis como a exposição ao ruído, a poluição do ar, os riscos de inundação e de subida do nível do mar, bem como riscos industriais e de perigo sísmico.

Um quarto fator prende-se com a conectividade do novo aeroporto e o desenvolvimento económico – isto é, qual o grau de crescimento potencial do novo hub e os impactos macroeconómicos associados à expansão do aeroporto no futuro?

Por último, a CTI avaliará o investimento público necessário e o modelo de financiamento – no caso de Santarém, esse modelo deve destoar das restantes soluções.

170 dias até ao fim do prazo

A CTI tem até ao final deste ano para apresentar ao Executivo um relatório final que apresente a melhor opção para a localização – o documento deverá chegar às mãos do Governo até novembro, e segue depois para discussão pública.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.