Quando a guerra comercial desencadeada pelos EUA dava sinais de alguma calma, dada a suspensão das tarifas recíprocas, incluindo à China, Donald Trump voltou a agitar os mercados com nova ameaça de barreiras à entrada dos bens europeus, desta feita de 50%. O presidente norte-americano acusa os líderes da UE de boicotarem qualquer progresso e garante que, caso não haja desenvolvimentos até ao início de junho, as taxas alfandegárias serão mesmo para vigorar – reforçando a ideia de que o comércio mundial como o conhecíamos até há pouco tempo está acabado.
Trump voltou a ameaçar a UE na sexta-feira, apontando às supostas barreiras não monetárias que o bloco impõe às exportações norte-americanas, incluindo, por exemplo, o IVA, e defendeu novamente a imposição de tarifas aos produtos oriundos do Velho Continente. O presidente norte-americano considera que as negociações com os responsáveis da UE “não vão a lado nenhum” e, como tal, sugere a aplicação de uma taxa de 50% à entrada destes bens nos EUA a partir de 1 de junho, ou seja, em pouco mais de uma semana.
O presidente repetiu acusações de que a UE foi “constituída principalmente para se aproveitar” dos parceiros norte-americanos, voltando a destacar o défice comercial nos bens que a maior economia do mundo mantém com a Europa. Omitido ficou o superavit favorável a Washington do lado dos serviços e que deixa o saldo final em 48 mil milhões de euros positivos aos europeus, ou seja, perto de 3% do total transacionado em 2023, segundo dados da Comissão Europeia.
Esta hostilidade para com a UE não é nova, ficando em linha com outros comentários do presidente dos EUA, como quando acusou a Europa de “ser pior do que a China”. Os analistas do banco ING destacam isso mesmo, bem como a incógnita que os objetivos norte-americanos continuam a constituir, ao passo que “a abordagem europeia está bem definida: […] sinalizar abertura para negociar enquanto se prepara para uma escalada”.
Além de ter já preparadas medidas retaliatórias para entrar em vigor a 14 de julho, incluindo o levantamento da suspensão de tarifas sobre uma série de produtos, a Comissão estará preparada para, “caso as negociações falhem, usar a sua artilharia mais pesada, como regulações mais apertadas de empresas tecnológicas dos EUA, atrasar licenças ou restringir o acesso a contratos públicos e limitar direitos de propriedade intelectual e fluxos de investimento ao abrigo do Instrumento Anti Coerção”, lê-se na nota do ING.
Apesar de a ameaça de Trump penalizar indiscutivelmente a economia europeia (basta olhar para a queda dos mercados do Continente na sessão de sexta-feira), o cenário também não é famoso para os EUA. Washington “perdeu uma rara oportunidade para domar o défice” rampante com a lei orçamental votada na passada semana, sendo expectável novo ciclo de deterioração das contas públicas americanas.
As projeções passam por um acréscimo de 3,8 biliões de dólares (3,35 biliões de euros) ao défice até 2034 ao colocar permanentemente na lei os cortes fiscais de 2017 decretados por Trump, mas os analistas do ING lembram que parte desta redução da receita será compensada do lado da despesa com cortes no sistema de saúde para as famílias de menores rendimentos, o Medicaid, e créditos fiscais do pacote anti-inflação.
O problema, continuam, tem duas vertentes: por um lado, a proximidade das eleições intercalares significa que dificilmente haverá uma maioria de congressistas a apoiarem medidas austeras, o que se traduzirá num contínuo aumento do défice e descontrolo das contas públicas; por outro lado, a economia dá vários sinais de arrefecimento e, tendo estado “a correr défices de 6% quando o mercado laboral estava forte e o crescimento rondava 2% a 3%”, há cada vez mais questões sobre como se comportará o país caso haja (ou quando houver) um abrandamento significativo.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com