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Jerónimo de Sousa garante candidatura presidencial do PCP e coloca condições para aprovar Orçamento do Estado

Secretário-geral disse que deputados comunistas vão apresentar na reabertura dos trabalhos da Assembleia da República, um conjunto de propostas que incluem a subida do salário mínimo nacional para 850 euros. E estabeleceu um “caderno de encargos” para o apoio ao Orçamento do Estado que inclui a nacionalização do Novo Banco.
  • Flickr/Festa do Avante
6 Setembro 2020, 19h17

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, confirmou que os comunistas terão uma candidatura própria à Presidência da República, sem ter apontado o nome que avançará para as eleições marcadas para janeiro de 2021, no longo discurso que marcou o terceiro e último dia da edição de 2020 da Festa do Avante. Pouco antes, garantindo que o PCP “bater-se-á sempre por soluções para os problemas do país”, defendera que o Orçamento do Estado para 2021 “tem que dar resposta aos problemas inadiáveis dos portugueses”, deixando um recado implícito ao primeiro-ministro António Costa ao criticar quem “agita fantasmas de crise política”, o que abre caminho à viabilização do documento.

Entre o “caderno de encargos” apresentado por Jerónimo de Sousa incluem-se a necessidade de “acudir a quem perdeu rendimentos com apoios extraordinários” – referindo-se também aos micro e pequenos empresários afetados pela pandemia de Covid-19 -, um reforço de meios para o Serviço Nacional de Saúde que “estanque os milhões de euros para os grupos privados que negoceiam com a doença”, o fim da caducidade da contratação coletiva e novas medidas fiscais que incidam sobre os grandes grupos económicos, as grandes fortunas e os detentores de património imobiliário mais valioso.

E ainda a criação de uma rede pública de creches e de lares, “aproveitando os fundos destinados a Portugal”, um programa de construção de habitação pelo Estado e a recuperação do controlo público de empresas estratégicas, começando pelos CTT, pela TAP e pelo Novo Banco, apontando tal medida como “indispensável para o crescimento do país”.

O Novo Banco, que segundo o líder comunista “há muito devia ter sido nacionalizado”, tinha sido apontado no início do discurso que encerrou as atividades políticas da Festa do Avante como exemplo da “política de submisão e traficância” em que os anteriores governos têm cedido aos “interesses do grande capital”. Jerónimo de Sousa disse que PS, PSD e CDS transformaram Portugal “num país crescentemente dependente e frágil”, nomeadamente no que toca à balança do comércio externo e à dívida pública.

Marcelo criticado por “branquear” PSD

Garantido pelo líder comunista, que não abordou a sua continuidade em funções após o próximo congresso do partido, que decorre a 27, 28 e 29 de novembro em Loures, foi que o grupo parlamentar do PCP irá apresentar um conjunto de propostas na reabertura dos trabalhos da Assembleia da República que incluem a defesa da subida do salário mínimo nacional para 850 euros, a criação de um suplemento remuneratório para trabalhadores de serviços essenciais e o alargamento do acesso ao subsídio de desemprego, com reforço do montante e da duração.

“De pouco valem as declarações do PS de que não tem nada a ver com o PSD se as opções que vier a adotar forem mais coisa menos coisa as que o PSD adotaria”, disse o secretário-geral do PCP, atribuindo ao atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a aproximação entre PS e PSD, no âmbito de um “processo de rearrumação de forças políticas” que envolve o “branqueamento” e “reabilitação política” dos sociais-democratas.

Tendo incluído o PS na “governação de direita”, apesar de na última legislatura o Executivo de António Costa ter contado com o apoio da “geringonça” em que o PCP e o seu aliado PEV tomaram parte, Jerónimo de Sousa não poupou críticas ao “projeto reacionário” do PSD e CDS e dos “partidos sucedâneos” Iniciativa Liberal e Chega. Entre as forças partidárias com representação parlamentar, só o Bloco de Esquerda e o PAN – Pessoas, Animais, Natureza nunca chegaram a ser referidos nos 45 minutos de discurso várias vezes pontuados com o “assim se vê a força do PC” gritado em uníssono pelos militantes e apoiantes que assistiram frente ao palco, sentados e em respeito das regras de distanciamento social.

Num discurso em que realçou várias vezes que a Festa do Avante decorreu em cumprimento das regras sanitárias, respondendo ao que apelidou de “inusitada hostilidade dos grandes interesses” contra a realização do evento em contexto pandémico, o secretário-geral denunciou a “deriva autoritária, reacionária e fascizante” em curso no mundo, apontando o dedo aos Estados Unidos, criticou a União Europeia por ser “cada vez mais neoliberal”, garantiu que os ensinamentos de Marx, Engels, Lenine e Álvaro Cunhal vão nortear os trabalhos do próximo congresso, e guardou elogios para a organização e público do evento que decorreu entre sexta-feira e domingo na Quinta da Atalaia, no Seixal. “Nestes três dias conseguimos resgatar o valor da vida com felicidade”, sentenciou.

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