“Existem um conjunto de regras que têm de ser implementadas e respeitadas”. O alerta a Paris, e aos incumpridores, foi deixado esta quinta-feira pela presidente do Banco Central Europeu (BCE) que pediu “disciplina orçamental”
Christine Lagarde foi questionada pelos países com grandes défices e fraca consolidação, se podem colocar em risco a estabilidade da zona euro.
Em resposta, a líder do BCE respondeu que as “políticas orçamentais nacionais e estruturais devem dirigir-se a tornar a economia mais produtiva e competititiva, que vão ajudar a aumentar o potencial de crescimento e a reduzir as pressões sobre os preços no médio prazo. Uma efetiva, acelerada e total implementação do Next Generation EU, progressos em direção à união do mercado de capitais e a conclusão da unição bancária, e o reforço do mercado único são fatores essenciais que iriam ajudar a aumentar a inovação e a aumentar o investimento na transição digital e verde”.
Christine Lagarde também congratulou o apelo recente da Comissão Europeia aos estados-membros para “reforçarem a sustentabilidade orçamental, e o comunicado do Eurogrupo sobre os orçamentos da zona euro em 2025. A implementação do quadro revisto de governança económica de forma total e sem atrasos vai ajudar os governos a acabar com os défices orçamentais e os rácios de dívida de forma sustentada”.
O Banco Central Europeu (BCE) manteve hoje as taxas de juro inalteradas, conforme já era esperado pelos mercados.
“O Conselho está determinada em garantir que a inflação regressa à meta de 2% no médio prazo de forma ordeira. Vai manter as taxas suficiemente restritivas durante o tempo que for necessário para atingir este objetivo. O Conselho vai continuar com uma abordagem dependente de dados e encontro-a-encontro para determinar o nível apropriado e a duração da restrição”, pode-se ler no comunicado.
As decisões de mais cortes serão avaliadas tendo em conta o outlook da inflação “à luz dos futuros dados financeiros e económicos, as dinâmicas da inflação subjacente e a força da transmissão da política monetária. O Conselho não está pré-comprometido com um roteiro particular de taxas”.
Os mercados descontam agora uma probabilidade de 80% de um segundo corte vir a ter lugar daqui a quase dois meses, com os mercados a darem como praticamente certo um terceiro corte em janeiro.
A inflação na zona euro ficou em 2,5% em junho, conforme era esperado, com a taxa homóloga a descer de 2,6% em maio para 2,5% em junho. Há um ano, a inflação homóloga atingia os 5,5%. Já o indicador core, que elimina as categorias mais voláteis como a energia e alimentação, manteve-se em linha com maio: 2,9%.
O tempo urge para a segunda maior economia da zona euro resolver o seu impasse político. A incerteza sobre o futuro Governo, se vai ter condições para governar na Assembleia Nacional, e quais as políticas que vai seguir, ameaçam sugar o hexágono para o caos político-economico-financeiro.
“Ou continuamos com as poupanças e a reparar as finanças públicas, ou vamos aumentar massivamente os impostos sobre o povo francês”, disse o ainda ministro das Finanças a 11 de julho, considerando que a consolidação orçamental é a “única alternativa”. “Se falharmos, iriamos expor-nos a uma reação muito forte dos mercados”, afirmou Bruno Le Maire.
A 11 de julho, o governador do Banco de França avisou que o impasse tem de ficar resolvido até setembro, altura em que o Parlamento vai ter de votar o orçamento para o próximo ano. François Villeroy de Galhau espera que até lá seja “removido o elemento de incerteza” para que haja mais “clareza política”.
O défice deverá recuar dos 5,5% para os 5,1% este ano, para recuar de novo para os 4,1% em 2025. Em 2027, deverá atingir 3% conforme a meta europeia, num país que já se encontra no procedimento por défice excessivo. Estas são as metas que estão no papel, resta saber o que vai acontecer no terreno.
O caminho não se avizinha fácil. O próximo Governo precisa de encontrar 15 mil milhões de euros anuais em receitas, ou cortes, para ir ao encontro das exigências da Comissão Europeia.
A dúvida é como atingir a meta perante um Parlamento pendurado, sem uma maioria absoluta e com profundas divisões entre os três grandes blocos.
O ministro das Finanças revelou na semana passada um plano para cortar a despesa em 10 mil milhões de euros; resta saber se o próximo executivo vai pegar no documento.
Para o analista Nicola Mai, o próximo executivo vai obedecer às regras europeias, seja qual for a sua cor.
“Vamos ter um Governo fraco. Seja quem for que estiver no Governo vai provavelmente cumprir, no geral, com as exigências da Comissão em relação aos défices”, disse o responsável da PIMCO, citado pela “Bloomberg”.
Até 20 de setembro, o país vai ter de enviar os seus planos orçamentais de médio prazo para Bruxelas. Até meados de outubro, envia o Orçamento do próximo ano.
Em setembro e outubro, a DBRS Morningstar, a Fitch, a Scope e a Moody’s vão pronunciar-se sobre o ‘outlook’ e o rating de França, com a S&P a ficar para o final de novembro.
O presidente Emmanuel Macron já pediu uma “parceria alargada” no Parlamento, mas será que à esquerda e à direita alguém o está a ouvir?
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