O órgão máximo legislativo da China inicia na quarta-feira a sua sessão anual focado em manter o ímpeto de recuperação na segunda maior economia do mundo, num período de agravamento da guerra comercial com Washington.
Os avanços na área da inteligência artificial, materializados pela plataforma DeepSeek, e o encontro recente entre o Presidente da China, Xi Jinping, e empresários do setor privado, devolveram confiança aos investidores, resultando na forte recuperação nas praças financeiras da China. Mas o otimismo já está a ser perturbado pela entrada em vigor de novas taxas alfandegárias nos Estados Unidos sobre produtos chineses.
A Assembleia Popular Nacional (APN), cuja sessão anual decorre até 11 de março, é descrita pela imprensa oficial como o “supremo órgão do poder de Estado na China” e a “expressão máxima da democracia socialista”.
O presidente da assembleia, Zhao Leji, é oficialmente o número dois da hierarquia chinesa, a seguir ao secretário-geral do Partido Comunista e Presidente, Xi Jinping. O primeiro-ministro, Li Qiang, é o número três.
Os cerca de 3.000 delegados à APN, entre os quais uma representação das Forças Armadas, não são, porém, eleitos por sufrágio direto, e o “papel dirigente” do Partido Comunista Chinês (PCC) é “um princípio cardial”.
Entre os delegados está a elite política, líderes empresariais, tecnológicos, mediáticos e artísticos do país asiático.
Esta semana, os delegados vão aprovar novas leis, nomeações políticas e relatórios de trabalho do Governo, que detalham o progresso de vários departamentos e ministérios. O orçamento para a Defesa ou a meta de crescimento económico são, habitualmente, anunciados no primeiro dia.
Os analistas esperam que Pequim estabeleça a meta de crescimento económico em cerca de 5%. Para atingir este objetivo, os responsáveis políticos devem aumentar o défice orçamental oficial da China para o valor mais elevado das últimas três décadas, injetando liquidez numa economia abalada por pressões deflacionistas, uma profunda crise imobiliária e, mais recentemente, o agravamento da guerra comercial com os Estados Unidos.
Quase dois meses após o início da nova presidência de Donald Trump, as duas maiores economias do mundo estão a entrar em choque, o que torna mais urgente para Pequim estimular o consumo interno.
Nos últimos anos, as exportações foram o principal motor de crescimento da economia chinesa, mas as medidas protecionistas adotadas pelos EUA e outros parceiros comerciais obrigam os líderes chineses a priorizar a expansão da procura interna.
A China está preparada para mudar “bastante” a sua política este ano, disse Yao Yang, professor de economia na Universidade de Pequim, citado pela agência de notícias Bloomberg.
Ele alertou para o facto de as medidas ainda não serem suficientemente ousadas.
“A minha primeira preocupação é o facto de o estímulo fiscal não ser suficientemente grande, especialmente se considerarmos a dívida das administrações locais”, afirmou.
Os investidores em divisas estão atentos, uma vez que as autoridades se têm concentrado mais em manter a moeda chinesa, o yuan, estável, do que em flexibilizar a política monetária.
O banco central da China tem fixado consistentemente a taxa de câmbio acima de 7,2 yuan por dólar, contrariando as previsões de que a China iria desvalorizar a sua moeda, para compensar o aumento das taxas alfandegárias por parte dos EUA.
“A guerra comercial estará, sem dúvida, no topo da agenda à porta fechada da APN. Com mais taxas a serem aplicadas apenas um dia antes da abertura [da sessão plenária], é pouco provável que a posição orçamental da China mude imediatamente. Mas com o aumento das pressões externas, os decisores políticos poderão acelerar a aplicação de estímulos”, escreveu a Bloomberg.
Isto significa que o Governo terá de aumentar o seu próprio investimento e encorajar as empresas e as famílias a gastar mais. Um indicador fundamental para avaliar a magnitude do estímulo é a expansão do défice público.
As autoridades devem aumentar o objetivo do défice orçamental oficial deste ano para cerca de 4% do PIB, contra 3%, em 2024, de acordo com diferentes analistas.
O pacote previsto pelos economistas inclui uma quota de dois biliões de yuan (263 mil milhões de euros) para novas obrigações soberanas – o dobro do volume do ano passado – e até quatro biliões de yuan (526 mil milhões de euros) em novas obrigações das administrações locais.
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