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Livro: “Autobigrafias ficcionais”, volume I

Maria Ondina Braga continua a provocar algum espanto pela mundividência que demonstra, desmontado os discursos colonialistas e promovendo um verdadeiro diálogo de culturas.
18 Fevereiro 2023, 10h55

“Isso anteriormente à minha chegada a África, essas ocorrências climatéricas do velho mundo. Agora todavia…

Um cerimonial de exaltação e drama, a chuva, aqui. Um protocolo que principia de véspera com o calor a aumentar, a molestar, os ares tensos, as folhas das árvores como se a desmaiar nos ramos, as aves a recolher ao ninho. Uma aventura em que participam não apenas os bichos e o reino vegetal mas também os nervos do homem.”

Maria Ondina Braga nasceu em Braga e é na cidade dos arcebispos que vai concluir os seus estudos liceais, antes de partir para Cambridge, onde se diploma num curso superior de inglês e, daí, para Paris, onde frequenta a Alliance Française, e o Brasil. Pela sua vocação cosmopolita, tornar-se-ia uma cidadã do mundo. Tendo dedicado grande parte da sua vida ao ensino, lecionou em Angola, Goa e Macau, e no Instituto de Línguas Estrangeiras em Pequim.

Se, ao longo de anos, colaborou com regularidade em páginas literárias de diversos jornais e revistas (“Diário de Notícias”, “Diário Popular”, “Colóquio/Letras”), é no domínio da produção literária que Maria Ondina Braga se tornou mais conhecida junto dos leitores: “A China Fica ao Lado”, “Amor e Morte”, “Os Rostos de Janoou”, “Vidas Vencidas” são alguns dos títulos que lhe deram um lugar de relevo no panorama da literatura portuguesa contemporânea.

Do excerto com que iniciamos este texto pode depreender-se a atenção aos pormenores e a forma poética da escrita. Mas, para além de maravilhar o leitor, Maria Ondina Braga não pode deixar de provocar algum espanto pela mundividência que demonstra, desmontado os discursos colonialistas e promovendo um verdadeiro diálogo de culturas. Aliás, no prefácio à obra que hoje destacamos, José Cândido de Oliveira Martins refere precisamente que “Maria Ondina Braga (1922-2003) é a escritora mais cosmopolita da literatura portuguesa do século XX.”

De referir a criação do Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, instituído pela Associação Portuguesa de Escritores e com o alto patrocínio da Câmara Municipal de Braga, que se destina a galardoar uma obra em português e de autor português, no domínio da Literatura de Viagens.

Em 2023 será atribuído o prémio pelo sexto ano consecutivo, sendo os anteriores premiados António Mega Ferreira (com a obra “Crónicas Italianas”), Rui Miguel Tovar (“Viagens sem Bola”), Alexandra Lucas Coelho (“Cinco Voltas na Bahia e Um Beijo para Caetano Veloso”), Afonso Cruz (“Jalan Jalan”) e Paulo Moura (“Extremo Ocidental – Uma Viagem de Moto pela Costa Portuguesa, de Caminha a Monte Gordo”). Esta lista diz bem do prestígio que o prémio tem no panorama da literatura de viagens em português e escrita por portugueses.

No dia 13 de janeiro de 2022 completaram-se 100 anos do nascimento de Maria Ondina Braga e é nesse âmbito que a INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda iniciou a publicação das suas obras completas, sendo este primeiro volume composto pelos textos “Estátua de Sal”, “Passagem do Cabo” e “Vidas Vencidas”.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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