“Na banca, o ano de 2024 é o pico do ciclo”, disse o CEO da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Moita de Macedo, no Encontro Fora da Caixa em Lisboa. O CEO vaticinou que “os lucros recorrentes da banca serão menores em 2025 e 2026”, tendo em conta a descida das taxas de juro.
O presidente da CGD antevê uma menor margem financeira após 2024; a continuação dos spreads baixos; a redução acentuada de lucros recorrentes em 2025; pagamentos altos de dividendos; a manutenção de níveis de crédito malparado (Non-Performing Loans) reduzidos; e ainda boa solvabilidade.
A CGD organizou mais um Encontro Fora da Caixa em Lisboa, e o Relatório Draghi marcou a apresentação de Paulo Moita de Macedo, CEO do banco.
O crescimento económico é um desafio para a Europa e ainda maior para Portugal. O gap entre a Europa e os Estados Unidos já vai em 30% e “não está ali a China, que está mal quando o PIB cresce 4% ou 5% e quando está bem cresce 7%”.
O Relatório Draghi sobre a Europa e o gap face aos Estados Unidos acrescentou ao debate a necessidade de uma nova estratégia industrial, a necessidade de investimentos massivos, reformas institucionais e a necessidade de preservar os valores fundamentais da Europa.
“Em Portugal, para 2025/26, vamos ter uma economia a crescer, um PRR que se espera ter uma execução significativa, uma baixa inflação (prevista em Portugal de 2,3% para um aumento de salários de 4,4%). Toda a Europa está a fazer orçamentos expansionistas, com isto vamos ter uma redução das taxas de juro; os economistas admitem o fim de 2025 com taxas de juro reais negativas, dinamizando o investimento, ainda que travado por algum protecionismo anunciado”, disse o banqueiro.
“Em Portugal acumulamos um défice de investimento face à UE equivalente a quase 50% do PIB”, salientou.
“Temos uma banca com capacidade para financiar os investimentos dos bons projetos”, referiu.
Citando Draghi, “é essencial que a banca esteja bem capitalizada”, subscreveu o CEO da CGD, que recordou que os bancos dos EUA têm maior dimensão e capitais próprios, e que “é preciso que os bancos europeus tenham dimensão e capitais próprios mais significativos”.
O CEO da CGD lembrou o excesso de regulação. “Ironicamente, a Europa é considerada o Silicon Valley da Regulação”, referiu, defendendo que é preciso “balancear as coisas”.
O impacto positivo nos salários e a descida das taxas de juro levará a que as pessoas baixem a sua taxa de esforço, aumentando a sua capacidade de endividamento, a que se soma a garantia do Estado no crédito à habitação para os jovens.
Isto traduz-se em Portugal por um aumento do rendimento disponível das famílias, também devido a menor retenção de IRS via tabelas e menos impostos, designadamente para os mais jovens.
A procura de crédito vai aumentar, vaticina o CEO da CGD.
Neste contexto, “é discutível se precisamos de muito mais incentivos do lado da procura”, sendo que “temos uma procura muitíssimo superior à oferta, designadamente de habitações a valores acessíveis, de 200 ou 300 mil euros, valores que um casal possa comprar”, defendeu Paulo Macedo.
Falta oferta estrutural de casas neste segmento de mercado, o que está relacionado com “a quebra após a crise financeira de oferta neste segmento de mercado em termos estruturais”, salientou o presidente da CGD.
Para Paulo Macedo, a habitação ainda vai ter uma “oferta insuficiente, designadamente nas casas de menor valor”.
Existe assim uma “conjugação interessante, porque há uma redução de taxas de juro, mas também houve uma redução de ‘spreads’, disse, citando dados do Banco de Portugal.
Em relação às empresas, tudo leva a crer que este ano conseguirão reforçar a autonomia financeira, como tem vindo a acontecer desde 2014, paulatinamente.
O aumento do rendimento disponível ajudará ao mercado interno das empresas, que compensará algumas dificuldades do mercado externo, disse o banqueiro, referindo-se ao “protecionismo”.
“É preciso dar escala às empresas portuguesas”, defendeu o CEO da CGD durante a sua apresentação.
Na sua apresentação, abordou o tema da inovação e lembrou que 70% dos portugueses já lidam com a Inteligência Artificial no seu dia-a-dia.
“A necessidade de requalificação é determinante para a inovação e para a transição energética e digital”, defendeu.
O CEO revelou também que entraram 400 jovens na CGD no ano passado, mas hoje “são os jovens que nos entrevistam a nós”.
Paulo Macedo abordou ainda a gestão do risco climático e a neutralidade carbónica e defendeu que Portugal necessita de se esforçar para agarrar a oportunidade de ter um papel decisivo na transição energética.
“A Caixa Geral de Depósitos organizou mais um Encontro Fora da Caixa em Lisboa, para analisar e debater os ‘Acontecimentos Globais: Que Impacto na Economia?’. O Encontro realizou-se esta segunda-feira, 16 de dezembro, na Culturgest, na rua Arco do Cego em Lisboa.
Joaquim Miranda Sarmento, Ministro de Estado e das Finanças, falou depois do Presidente da Comissão Executiva da Caixa que fez uma apresentação alusiva ao tema da conferência.
Depois, seguiu-se a apresentação de José Manuel Durão Barroso, em associação com o Instituto de Estudos Políticos – Universidade Católica Portuguesa, dedicada aos novos desafios que se apresentam à União Europeia, num contexto político complexo a nível mundial.
O tradicional painel empresarial consistiu num debate sobre os desafios para as empresas, num mundo com impactos geopolíticos cada vez mais desafiadores. O painel contou com a presença de Anne Saintemarie, Presidente do Conselho de Administração do Intermarché, José Teixeira, Presidente do Conselho de Administração do DSTGroup, José Theotónio, CEO do Pestana Hotel Group, e Francisco Cary, Administrador Executivo da Caixa Geral de Depósitos.
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