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Agora, a guerra é ‘cambial’: “Trump não tem interesse em resolver a questão e a China muito menos”

As taxas de câmbio do yuan chinês face ao dólar norte-americano quebraram, no início desta semana, a ‘barreira psicológica’ de 7 para 1, após o anúncio do presidente dos Estados Unidos de impor novas tarifas aos produtos importados da China.
  • Presidente chinês, Xi Jinping, e governante norte-americano, Donald Trump, conversam durante evento em Pequim, em 2017
6 Agosto 2019, 07h47

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China voltou a intensificar-se depois do yuan da China ter baixado em meio ponto a taxa de câmbio da moeda chinesa, para 6,9 yuans para um dólar, atingindo mínimos de 2008. Aos olhos de Donald Trump, trata-se de uma “manipulação cambial” que impulsiona “barreira psicológica” para os investidores.

Para além da desvalorização da moeda, a China decidiu também recuar nas importações de produtos agrícolas norte-americanos. Estas medidas tomadas pela Xi Jinping vão ao encontro de duas das principais críticas de Trump. Por um lado, Pequim corta nas importações agrícolas depois de Trump ter acusado este país de não cumprir com a promessa de aumentar as compras deste setor aos Estados Unidos, tal como prometido. Por outro lado, incide nas acusações de que a China manipula a moeda de forma injusta e com o intuito de ajudar as suas empresas exportadoras.

Mercado já percebeu que acordo está longe

Para os analistas, esta nova jogada da guerra-comercial apenas dificulta o processo de resolução entre as duas nações. Em conversa com o Jornal Económico, o economista e um dos comentadores do programa Mercados em Ação, Marco Silva, considera que “neste momento o mercado já percebeu que [a China e os Estados Unidos] estão muito longe de chegar a um acordo” e acusa Trump de usar a guerra comercial como uma estratégia para as eleições de 2020.

“Tendo em conta que as eleições são para o ano, uma boa parte do mercado já percebeu que isto é um período que se vai arrastar até para o ano que vem e que vai ser depois usado como arma de arremesso a sua resolução para efeitos políticos”, afirma . “O mercado não está à espera que as coisas se resolvam tão cedo. Todas as indicações para aí apontam. Em termos políticos, Trump não tem interesse em resolver a questão já e a China também não”.

Um yuan mais fraco significa que os produtos chineses ficam mais baratos, o que pode ajudar a conter o efeito negativo das novas tarifas dos EUA sobre a competitividade da economia de Pequim, explica o economista. “Ou seja, significa que a China está disposta a não proteger [a moeda] sabendo que isso é bom porque ameniza as questões relativas das tarifas. Se as tarifas aumentam mas a moeda desvaloriza compensa. Se as tarifas aumentam 10% mas a moeda desvaloriza a 10%, é praticamente nulo”, sublinha.

“Fed terá de agir se se perder a confiança”

Na rede social Twitter, Donald Trump voltou a pressionar a Fed para baixar as taxas. De acordo com Marco Silva, uma das principais consequências nesta desvalorização do yuan será revista na confiança do consumidor. “O que está a segurar a economia norte-americana é a confiança dos consumidores”, explica. “Se os consumidores perdem confiança, a Fed terá de agir mais rapidamente”, considera.

A decisão do banco central chinês acontece depois do presidente norte-americano ter anunciado recentemente um aumento de 10% das tarifas alfandegárias a partir de setembro em 300 mil milhões de dólares (268 mil milhões de euros).

Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, criticou esta a decisão de Washington de aumentar as taxas alfandegárias sobre bens chineses. “A imposição de taxas não é, de maneira alguma, uma forma construtiva de resolver as fricções económicas e comerciais”, disse Wang, citado pela Lusa.

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