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Marcelo lança indireta à Cofina: “ninguém está imune à crise dos media“

No encerramento da conferência sobre o financiamento dos media, o Presidente da República deixou farpas aos grupos que, em sua opinião, se acham protegidos da crise devido a cenários de consolidação.
3 Dezembro 2019, 19h03

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou hoje que o setor dos media nacional atravessa uma crise mais grave que a dos seus pares europeus e que é necessário encontrar soluções.

”A nossa comunicação social encontra-se em crise económica e financeira, institucional e cívica”, defendeu Marcelo, contestando quem critica este diagnóstico.

”Tenho dificuldade em acompanhar o otimismo dos que sobreavaliam os seus recursos numa ótica de muito curto prazo”, disse o Chefe do Estado no discurso de encerramento da Conferência sobre Financiamento dos Media, que decorreu ontem e hoje na Cidadela de Cascais, promovida pelo Sindicato dos Jornalistas, com o alto patrocínio da Presidência da República.

Marcelo acrescentou que a crise no setor dos media nacional não é semelhante à que se faz sentir noutros países europeus, dada a menor massa crítica das empresas do setor em Portugal. E acrescentou que nenhum player do setor está realmente alheio à crise, apesar de haver quem acredite que poderá crescer com operações de consolidação em curso, numa referência implícita à fusão entre a Cofina e a Media Capital, a dona da TVI.

Recorde-se que a Cofina contestou o facto de os seus jornalistas não terem sido convidados para a conferência promovida pelo Sindicato. Alegação que o sindicato rejeita.

“Não consigo subscrever o otimismo de alguns minoritários”, disse o Presidente, acrescentando que “aqueles que acham que escapam à crise não escaparão”.

Marcelo criticou a inércia e a omissão da sociedade civil e dos decisores públicos, prometendo continuar a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para encontrar soluções. Defendeu ainda que é necessário regular as grandes plataformas digitais.

”Tudo o que a sociedade civil possa lançar, seja a reorganização dos grupos de media, com ou  não estrutura fundacional, a incentivos à leitura, chegando mesmo a novos modelos de negócio digitais que mereçam compromissos estáveis por parte de fundações de referência  na nossa sociedade – será bem vindo”, disse Marcelo.

Passaram pela Cidadela cerca de 40 jornalistas, gestores do setor dos media, investigadores universitários e responsáveis políticos, para discutir soluções para a crise do setor.

Ao longo de dois dias (ver notícias relacionadas), houve um consenso no diagnóstico, mas faltou um acordo em relação a temas como a existência de apoios do Estado.

Em debate estiveram as dificuldades causadas pela transformação digital, que tem consequências não só a nível económico e financeiro, mas também no domínio da ética e dos princípios deontológicos.

”O eixo da roda acompanha a roda, não anda. O eixo da roda representa o núcleo dos valores. Esta metáfora, belíssima, pode ser adaptada aos desafios da transição digital”, resumiu o relator da conferência, o jornalista Adelino Gomes.

”O jornalismo profissional, sem os princípios éticos e sem o princípio da excelência, não faz sentido”, resumiu.

A presidente do Sindicato dos Jornalista, Sofia Branco, revelou no final da conferência que esta entidade vai entregar ao Presidente da República e ao Governo um conjunto de propostas apresentadas pelos oradores da conferência.

 

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