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Maria Celeste Hagatong: “Este é um instrumento necessário para mitigar o risco comercial”

As empresas que trabalham em autosseguro são um dos alvos da COSEC, a maior seguradora nacional de crédito à exportação. Celeste Hagatong, chairman da companhia, frisa que há uma incerteza crescente nos mercados.
1 Março 2020, 19h00

Como está o mercado do seguro de Crédito à Exportação em Portugal a reagir perante o facto de as economias europeias estarem em queda ligeira e os mercados africanos e sul-americanos, tradicionais para os exportadores nacionais, terem riscos políticos acrescidos?

A evolução do seguro de créditos segue a evolução das transações comerciais, e estas estão diretamente relacionadas com o crescimento verificado nas economias. Havendo um crescimento mais lento, é normal que a evolução dos Seguros de Créditos seja mais moderada. No entanto, no caso português, existem ainda muitas empresas que trabalham em autosseguro, sobretudo as de pequena e média dimensão. É nesse segmento que se tem verificado um crescimento mais acentuado do mercado onde atuamos. Por outro lado, a incerteza crescente nos mercados leva a que muitas empresas comecem a olhar para o nosso produto como um instrumento necessário, e digo mesmo indispensável, para a mitigação do seu risco comercial, o que é menos evidente quando a situação macroeconómica se mostra mais positiva.

 

O custo de um seguro do género aumentou para algumas regiões? Quais?
O seguro de créditos cobre sempre uma carteira de créditos comerciais abrangendo diversas geografias quando o segurado tem uma atividade internacional. O preço do seguro traduz o custo do risco médio dessa carteira, ponderando os riscos dos diversos países abrangidos e o risco das contrapartes nesses países. Quando o risco ponderado da carteira piora, o preço do Seguro de Créditos vê-se agravado, como é evidente, podendo dar origem, também, a uma redução do nível de coberturas.

 

Como se tem comportado o seguro de crédito à exportação com o apoio do Estado? Quais os montantes envolvidos em 2019 e quais os principais mercados?
Ao longo dos últimos dez anos, tem-se verificado um saldo positivo a favor do Estado entre os recebimentos e pagamentos do Sistema de Seguros de Créditos com Garantias do Estado. Em 2019, a exposição do sistema registou uma diminuição, decorrente do cancelamento de apólices emitidas e do reembolso de prestações de seguros de crédito de médio prazo, não compensadas pela emissão de novas apólices. Assim, a exposição no final do ano era de cerca de 1.100 milhões de euros contra 1.300 milhões de euros no ano anterior, que talvez tenha sido um dos valores mais elevados dos últimos anos. A procura deste tipo de produtos dirigiu-se, em especial, para os tradicionais mercados dos PALOP, sendo de referir o crescimento verificado sobretudo para mercados do Norte de África.

 

E quais as expetativas para 2020?
A diversificação das exportações portuguesas irá certamente obrigar à abertura de novos destinos de exportação, alguns dos quais não cobertos pelas seguradoras comerciais e em que os Seguros de Créditos com Garantia do Estado podem ser o instrumento adequado para viabilizar estas operações. Por outro lado, no segundo semestre de 2019 foram lançadas pelo Governo duas novas linhas. Uma relativa a seguros de caução, para habilitar as empresas do setor da construção e obras públicas a se apresentarem em concursos internacionais. Esta linha foi fixada em 100 milhões de euros. E outra, de igual montante, de seguros de crédito de médio prazo, para apoiar as exportações das empresas do setor metalúrgico, metalomecânico e dos moldes, associando à venda de equipamentos soluções de crédito ao importador. Estas duas linhas irão, certamente, suscitar um aumento da procura.

 

O coronavírus vai impactar na economia e no custo deste seguro específico?
Ainda estão por apurar os reflexos que a epídema do coronavírus, iniciada na China, irá ter na economia mundial. De acordo com um estudo da Euler Hermes de 31 de janeiro de 2020, foi estimado que o Covid-19 terá um impacto de 1 ponto percentual no PIB chinês, sobretudo no primeiro trimestre do ano, sendo provável que o país consiga recuperar, no espaço de um a dois trimestres, mas ajudado por políticas de apoio à produção.

Uma pausa prolongada na atividade industrial chinesa pode afetar muito significativamente algumas cadeias de fornecimento, como as de produtos químicos, equipamentos de transporte, têxteis e equipamentos eletrónicos. No caso da província de Hubei (o epicentro deste surto), que representa 9% da produção total de veículos automóveis na China, o elevado grau de ligação entre esta indústria e os restantes setores da economia faz com que o impacto da epidemia se estenda à maioria das atividades industriais.

 

As insolvências estão a aumentar? Em que regiões de interesse das exportações portuguesas se poderão tornar problemáticas?
O abrandamento do crescimento económico terá impacto no aumento das insolvências. Nesse sentido, e dentro da política de proximidade com os seus clientes, as áreas comerciais e as áreas de risco da COSEC promovem reuniões com os segurados para discutir e analisar as suas carteiras comerciais, de forma a prevenir adequadamente eventuais futuros sinistros e aconselhá-las no desenvolvimento dos seus negócios.

A nível de contratação deste seguro, que novidades lançou a COSEC, ou pretende lançar, para atrair mais empresas e tornar os processos ágeis? A digitalização de processos é uma das soluções?
A COSEC tem vindo a fazer uma aposta muito forte na inovação e na digitalização dos seus produtos e processos. No início deste ano, desenvolveu para os seus clientes duas soluções digitais gratuitas – o COSEC link e o COSEC info – que apoiam a gestão das empresas no recurso ao seguro de créditos.

O COSEC link é uma interface de programação de aplicações (API) que permite às empresas ligarem o seu software de gestão à COSEC. Assim, de forma rápida e segura, os clientes podem ser mais ágeis, por exemplo, na identificação das entidades de risco ou na consulta de decisões de limites de crédito – a gestão da apólice passa a ser feita diretamente no software da empresa. O serviço, gratuito, é também configurável, permitindo automatizar pedidos com base em regras pré-definidas no software de gestão financeira de cada empresa.

O COSEC info é uma nova funcionalidade do COSECnet, a plataforma de gestão online da apólice de Seguro de Créditos da Companhia. Agora, os segurados passam a ter acesso a um conjunto adicional de indicadores financeiros sobre entidades que atuam no mercado interno, nomeadamente vendas e prestação de serviços, resultado líquido, EBITDA, capital próprio, ativo total e autonomia financeira, para além de uma classificação de risco relativamente à capacidade de uma empresa cumprir as suas responsabilidades financeiras e obrigações comerciais considerando a informação disponível na base de dados da COSEC.

Importa recordar que em 2019 lançámos o COSEC €xpress, um seguro de créditos desenvolvido para responder às necessidades de proteção e expansão do negócio de empresas com faturação abaixo de cinco milhões de euros: digital, simples de contratar e gerir e com um preço fixo, ajustado à dimensão destas empresas.

Disponibilizámos também um serviço inovador de Admissão e Regulação Automática de Sinistros na COSECnet, aplicável a valores de crédito inferiores a cinco mil euros. Assim foram automatizados online cerca de 60% dos processos de sinistros assumidos pela companhia, permitindo aos segurados receberem o aviso de pagamento de um sinistro no primeiro dia do prazo contratualmente previsto para o seu pagamento, diminuindo o prazo de recebimento da indemnização devida.

 

Globalmente, como antecipa 2020 na COSEC em termos de novos mercados, novos clientes e volume de prémios?
A COSEC prosseguirá a sua estratégia de proximidade junto do seu mercado alvo, continuando a contar, certamente, com o apoio da sua rede de distribuição, mediadores, agentes e rede de venda direta. Teremos novas soluções inovadoras que iremos apresentar ao mercado ao longo do ano, para reforçar a nossa oferta e adequá-la, cada vez mais, às exigências dos nossos segurados. Internamente, iremos também prosseguir a aposta no processo de transformação digital para ganhar mais eficiência e prestar melhor serviço aos clientes. Contamos também com importantes apostas na área da robotização, inteligência artificial e data mining que a Euler Hermes está a desenvolver na área da avaliação de risco, que terá um reflexo muito positivo no serviço prestado pela COSEC às empresas portuguesas exportadoras.

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