“Não há receitas automáticas, não devemos abusar das despesas automáticas”, disse o Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, no encerramento da Sessão Solene da Semana da Formação Financeira 2025 que decorreu esta quarta-feira na sede da CMVM.
Mário Centeno diz que os pagamentos automáticos contribuem para perder a noção da despesa.
“Hoje a digitalização faz-nos medir tudo por número de clicks, como economista, confesso que tenho algum horror a pagamentos automáticos, quando automatizamos demasiado a despesa deixamos de ter a exata noção dessa despesa”, defendeu Mário Centeno, Presidente do CNSF e Governador do Banco de Portugal. “Se eu puder deixar uma dica é: não abusem dos pagamentos automáticos”, disse.
“A percepção da despesa é o complementar da poupança e nós não temos receitas automáticas, então porque é que devemos ter pagamentos automáticos?”, disse o responsável do supervisor da banca que acrescentou que é preciso ter a consciencialização da despesa.
Os bancos têm nas suas práticas comerciais exigir débitos diretos para o pagamento de serviços de utilities para dar crédito à habitação com determinadas taxas de juro.
O Conselho Nacional de Supervisores Financeiros é constituído pelo Banco de Portugal, Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões.
Mário Centeno no discurso de encerramento salientou ainda a “desinformação das redes sociais” e o papel do finfluencers. “A crescente digitalização do setor financeiro tem contribuído para que as novas gerações comecem a utilizar os serviços financeiros mais cedo” disse o presidente do CNSF que lembrou os últimos dados de 2022 que davam conta que 38% dos estudantes portugueses tinham uma conta bancária; 28% tinham um cartão de débito ou crédito; 76% faziam compras online e 55% realizavam pagamentos com o telemóvel.
“Estes números cresceram de forma expressiva face a 2018 e é provável que continuem a crescer”, disse o Governador do BdP que alertou “para a confiança excessiva dos jovens nos canais digitais em combinação com a impulsividade pode conduzir a decisões pouco ponderadas e com consequências negativas, incluindo financeiras”. Mário Centeno reforçou o papel dos formadores e do apoio crucial das escolas e dos professores de dirigir os jovens para fontes de informação “verdadeiras” e para uma utilização segura dos serviços financeiros digitais.
“A literacia financeira é uma ferramenta para a vida. É de pequenino que se financia o destino”, disse Mário Centeno.
“Poupar não é só deixar de gastar hoje para gastar amanhã, é também precavermo-nos do que nos pode acontecer amanhã”, sublinhou o Governador que defende “a criação de almofadas para o futuro”, ou seja, para as condições financeiras imprevistas.
“Poupar é como fazer dieta, pensamos só começar amanhã, mas o amanhã é a razão de ser dessa poupança”, disse o Governador que comparou com a decisão sobre o novo aeroporto que veio quando já era tarde. “A decisão do aeroporto foi tão tardia, quando estávamos mesmo quase no passado a decidir”, disse acrescentando que “o destino dos países e das pessoas não é muito diferente”.
“Sem as diferentes literacias somos mais pobres”, defendeu.
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