[weglot_switcher]

Medina acusa Sócrates de romper “laços de confiança” entre eleitores e eleitos

O dirigente socialista e autarca lisboeta responsabilizou o ex-primeiro-ministro por descredibilizar o sistema político e corroer o “funcionamento da democracia”, ao ser julgado por “um crime no exercício de funções um ex-primeiro-ministro”, no âmbito da “Operação Marquês”.
  • Cristina Bernardo
14 Abril 2021, 11h17

O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, acusou esta terça-feira o antigo primeiro-ministro José Sócrates, arguido na “Operação Marquês”, de corroer o “funcionamento da democracia”. O dirigente socialista e autarca lisboeta responsabilizou José Sócrates pelo “rompimento de laços de confiança” entre eleitores e eleitos, ao ser julgado por “um crime no exercício de funções um ex-primeiro-ministro”.

“É a primeira vez na nossa história que teremos em julgamento um ex-primeiro-ministro e, independentemente, da natureza mais ou menos extensa do crime sabemos que é um crime em exercício de funções com uma moldura penal significativa de cerca de 12 anos”, disse Fernando Medina, no seu espaço habitual de comentário na TVI.

Segundo o autarca lisboeta, que foi o primeiro dirigente socialista a quebrar o silêncio sobre a “Operação Marquês”, o facto de José Sócrates ter sido pronunciado pela prática de seis crimes (três de branqueamento de capitais e outros três por falsificação de documentos) é “fundador de um profundo sentimento de desconfiança na sociedade portuguesa e de descrença na relação entre eleitores e eleitos”.

Apesar de a maioria dos crimes de que estava acusado José Sócrates terem caído (o juiz Ivo Rosa deixou cair todos os crimes de corrupção apontados pelo Ministério Público, por prescrição e falta de provas), Fernando Medina considera que “o que está em causa já é suficientemente grave”. “Aquilo que sabemos é suficiente ou melhor aquilo que não foi explicado durante todo este tempo é suficiente”, referiu.

E explicou: “Quem está na vida pública e a respeita, quem sente o apelo e missão do serviço e da causa pública tem de honrar, acima de tudo, essa relação de confiança com quem o elege. Não precisa de ser santo. Não estamos no pedestal dos santos, mas estamos no pedestal dos que conseguem honrar essa confiança e essa confiança foi quebrar. Essa confiança foi inapelavelmente quebrada e não precisa de haver nem mais crime adensado nem retirado”.

Fernando Medina, que desempenhou o cargo de secretário de Estado nos Governos de José Sócrates, acredita que, com este caso, “há um rompimento de laços de confiança”, dada a existência de “factos fundamentais de que alguém que foi primeiro-ministro recebeu avultadas quantias financeiras” e que, “ao contrário do que era dito, não resultavam de fortuna pessoal ou familiar”. “É algo que marca de forma absolutamente negativa o sentimento de bem-estar e de confiança na sociedade portuguesa”, sublinhou.

“Este caso é um manual, completo e integral, do que está profundamente errado no sistema de justiça, que está, em grande medida, nas mãos daqueles que gerem de forma autónoma o sistema de justiça”, rematou.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.