O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, considerou hoje “inaceitáveis” os ataques de que a força de manutenção de paz da ONU no Líbano (UNIFIL) foi alvo, considerando que Israel está a “usurpar” a sua legitimidade para atuar.
Falando no final da XI Cimeira dos Países do Sul da União Europeia (MED9) em Pafos, Chipre, e que foi dominada pelo alastramento do conflito no Médio Oriente com as operações militares israelitas no Líbano, que entre quinta-feira e hoje provocaram feridos entre os ‘capacetes azuis’ da ONU, Rangel considerou que se vive “uma situação muito preocupante” e apelou à contenção “de todos, mas em particular” de Israel.
O chefe da diplomacia considerou “inaceitável que haja uma ação deliberada contra as forças da ONU que estão no Líbano”, apontando que na reunião de líderes do MED9 – na qual representou Portugal em substituição do primeiro-ministro, Luís Montenegro – foi possível ter “informação muito circunstanciada sobre essa matéria, porque tanto a França, como a Itália, como a Espanha [três países que também integram o MED9] têm efetivos em número relevante no Líbano, justamente em missões de paz das Nações Unidas”.
“O governo italiano e o governo francês já chamaram os embaixadores de Israel justamente para explicações, e nós mostrámos solidariedade com essa posição, solidariedade que, devo dizer, foi aqui assumida também pelos nove Estados presentes nesta cimeira”, disse.
Na declaração conjunta adotada no final da reunião de hoje, os nove países do sul da UE que formam o MED9 – Croácia, Chipre, Eslovénia, Espanha, França, Grécia, Itália, Malta e Portugal – dizem apoiar “o papel fundamental de estabilização da FINUL no sul do Líbano”, condenam os recentes ataques que atingiram bases da FINUL, cuja responsabilidade já foi admitida por Israel embora atribuindo-os a um “engano”, e recordam que “todas as forças de manutenção da paz devem ser protegidas”.
“De facto, o que se apela aqui, devo dizer, é à contenção de todos, mas em particular a contenção das Forças Armadas israelitas, que, nesta intervenção no Líbano, estão claramente a usurpar aquela que é a sua legitimidade para atuar”, disse o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeirose.
Neste caso em concreto, as forças israelitas “vão ainda mais longe, tendo provocado estes incidentes que considero de grande gravidade junto das forças das Nações Unidas, que estão ali numa missão de pacificação, uma missão extremamente delicada, de alto risco, e que portanto merecem ser completamente respeitadas e postas totalmente de fora de qualquer ato de violência”, adiantou.
Questionado sobre se as forças de manutenção de paz das Nações Unidas deveriam ripostar numa situação destas, Rangel observou que “os ‘capacetes azuis’, por causa da sua vinculação à paz, estão treinados para uma grande contenção, e não há dúvida que têm feito esse esforço, um esforço de facto enorme”, mas advertiu que “os riscos existem”.
“Portanto, havendo este tipo de atuação, que é uma atuação claramente à margem daquelas que são as regras internacionais e os princípios de direito internacional, evidentemente que há um risco de haver aqui um incidente que pudesse levar a uma resposta dos ‘capacetes azuis’, que obviamente seria manifestamente grave, no sentido em que iria criar mais uma situação de conflito ainda mais complexo do que aquele que nós já temos”, declarou Rangel.
O ministro participará na próxima segunda-feira, no Luxemburgo, numa reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, cuja agenda será também dominada pelo agravamento do conflito no Médio Oriente.
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