Michel Barnier, o político que liderou o processo de negociação do Brexit em nome da União Europeia, foi o nome escolhido pelo presidente francês, Emmanuel Macron, para liderar o novo Governo francês. A nomeação de Barnier, de 73 anos, segue-se a semanas de intensos esforços do Presidente e dos seus assessores para encontrar um candidato que possa ser capaz de construir apoios no parlamento.
O seu nome esteve no topo da lista dos potenciais candidatos desde a primeira hora e obedecia a uma série de predefinições que o transformavam num dos políticos mais ‘elegíveis’ do complicado momento político gaulês. Fazendo parte da fação gaullista da direita francesa, Barnier tem a capacidade de ser um agregador entre a direita e a esquerda não-radicais. Não é uma garantia – dado que a esquerda e a direita francesa são neste momento lideradas exatamente pelos radicais – nas Macron parece ter entendido que é uma possibilidade.
Por outro lado, Michel Barnier não é um tecnocrata – e sabe-se como os franceses, ao contrário por exemplo dos italianos, não gostam de tecnocratas a liderar executivos. Importante é também o facto Barnier ter provas dadas ao nível das políticas europeias – não sendo por isso um ‘novato’ (ao contrário do primeiro-ministro demissionário, Gabriel Attal): a importância que ganhou na União Europeia como negociador do Brexit (circunstância em que não tornou a vida fácil ao Reino Unido) consolidou a sua posição no seio da política dos 27. O que, neste momento de forte crise política em França, pode ser um trunfo de grande interesse. Todos os políticos no ativo conhecem Barnier – com certeza que, a um ano, nenhum deles tinha uma ideia clara sobre quem seria Gabriel Attal – o que será fundamental para que a França consiga retomar o papel de liderança (juntamente com a Alemanha), que lhe cabe como um dos grandes países da União. Um fator da maior importância, num momento em que Emmanuel Macron conseguiu ‘desbaratar’ uma parte significativa desse ativo internacional.
Do ponto de vista interno, Barnier também tem provas dadas. Não serão com certeza todas positivas, mas o facto de ter sido sucessivamente ministro do Meio Ambiente (de 1993 a 1995), ministro de Estado para Assuntos Europeus (de 1995 a 1997), ministro das Relações Exteriores (de 2004 a 2005) e ministro da Agricultura e Pescas (de 2007 a 2009), resulta na evidência de que tem uma forte experiência acumulada e, por outro lado, conhece bem os ‘meandros’ do país. Melhor ainda, nunca esteve naqueles gabinetes que, em França, servem para ‘queimar’ políticos: as Finanças e a Economia.
A idade de Barnier também é, do ponto de vista de Emmanuel Macron, uma ‘felicidade’: aos 73 anos (terá 76 em 2027), não acalentará com certeza nenhuma veleidade de se candidatar à presidência da República quando os franceses forem chamados a votar em 2027. Michel Barnier foi um candidato malsucedido nas primárias do partido Les Républicains para as eleições presidenciais de 2022.
Resta saber como serão as reações dos partidos à escolha de Macron. Mas,50 dias depois das eleições antecipadas, com certeza que o alívio é a primeira reação. Será o primeiro-ministro mais velho da Quinta República e sucede assim Gabriel Attal, que, aos 35 anos, era o mais jovem. Terá agora que tentar formar um governo que possa sobreviver à censura parlamentar, para pôr fim à crise política mais séria desde 1958.
Vale a pena recordar que, mais recentemente (em 2022) Barnier endureceu o seu discurso sobre a imigração, defendendo uma moratória e chegando a questionar o Tribunal de Justiça Europeu em nome daquilo que chamou “soberania legal”. Um homem do seu tempo, portanto.
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