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Moçambique. ONG denuncia aumento do assassinato de crianças em Cabo Delgado

A Save the Children considera que crise humanitária em Cabo Delgado, no norte de Moçambique tem sido “menosprezada”. Pelo menos 2.614 pessoas morreram no conflito, incluindo 1.312 civis, no entanto, antecipa-se que esse número possa aumentar dada a escalada de ataques a aldeias registada nos últimos 12 meses.
16 Março 2021, 12h18

A escalada de violência na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, está a fazer vítimas cada vez mais novas.

A organização não-governamental Save the Children denuncia, esta terça-feira, que há crianças a serem assassinadas naquela região que tem sido palco de um conflito armado há mais de três anos.

“Elsa”, de 28 anos, viu o filho, “Filipe” de 12 anos, a ser decapitado enquanto ela e os seus outros três filhos se escondiam depois de um ataque à aldeia onde vivia. À ONG, a mãe recorda a noite do ataque, contando que as casas tinham sido ateadas e uma delas, foi a sua, onde morava com os seus quatro filhos.

“Tentámos fugir para a floresta, mas eles tiraram-me o meu filho mais velho e decapitaram-no. Não podíamos fazer nada porque se não também seríamos mortos”, disse.

Na nota divulgada, a ONG considera que a crise humanitária em Cabo Delgado tem sido “menosprezada” e alerta para a falta de ajuda para a população afectada.

“A ajuda é desesperadamente necessária, mas poucos doadores priorizaram a assistência para aqueles que perderam tudo e para os seus filhos”, numa altura em que o mundo lida também com a Covid-19, refere Chance Briggs, director da organização em Moçambique.

A ONG contabiliza quase 670 mil pessoas deslocadas dentro de Moçambique devido ao conflito em Cabo Delgado, quase sete vezes o número relatado há um ano, o que resultou em “quase um milhão de pessoas que enfrenta fome severa”. Pelo menos 2.614 pessoas morreram no conflito, incluindo 1.312 civis, no entanto, antecipa-se que esse número possa aumentar dada a escalada de ataques a aldeias registada nos últimos 12 meses. Algumas das incursões de rebeldes foram reivindicadas pelo Daesh entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.

Como reflexo da pirâmide etária do país, cerca de metade das pessoas afectadas pela violência são menores de 18 anos, presenciando muitas vezes morte e destruição e sendo elas próprias alvo das partes em conflito. Como tal,  a organização alertou para a possibilidade de muitas das crianças desenvolverem ansiedade, depressão e, em alguns casos, até stress pós-traumático na sequência dos episódios de violência por si vividos.

“Todas as partes devem garantir que as crianças nunca sejam alvos. Devem respeitar as leis humanitárias internacionais e de direitos humanos e tomar todas as acções necessárias para minimizar os danos civis, incluindo o fim de ataques indiscriminados e desproporcionais contra crianças”, acrescentou Briggs.

“Os relatos de ataques a crianças incomodam-nos profundamente. A nossa equipa foi levada às lágrimas ao ouvir as histórias de sofrimento contadas por mães em campos de deslocados”, sublinhou.

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