Em resposta às questões colocadas pelo Jornal Económico, a agência de notação financeira Moody’s deixou o alerta: “Na Europa, o crédito malparado poderá subir entre 100 a 300 pontos base, dependendo do país, nos próximos dois a três anos. Acreditamos que os bancos com maior exposição a pequenas e médias empresas têm mais risco”, sinalizou Jorge Rodriguez-Vale, vice president e senior credit officer da Moody’s.
“Os bancos já tem começado a provisionar para futuras perdas para crédito, seguindo as regras contabilísticas. Isto terá provavelmente impacto nos lucros futuros e, de facto, muitos bancos poderão registar perdas em 2020”, adiantou o responsável.
Apesar disso, Jorge Rodrigues-Vale salientou que a capitalização dos bancos permanecerá “robusta” e, mesmo em caso de queda dos rácios de capital no curto-prazo, a Moody’s antecipa que “a maioria vai recuperar os níveis de capitalização pré-crise até ao final de 2022”.
O nível de risco de incumprimento tem vindo a aumentar devido ao impacto da crise provocada pela Covid-19. Richard Morawetz, também vice president e senior credit officer da Moody’s, disse que “o ritmo de incumprimento está em máximos” na última década, nomeadamente nas empresas e instituições financeiras com grau de investimento especulativo, que subiu para 6,1% em julho deste ano, depois de se ter fixado nos 5,5% em junho deste ano, mais do dobro por comparação com junho de 2019.
Para o futuro próximo, o responsável apresenta um quadro menos favorável: “Estamos a projetar que a nível global, o ritmo de incumprimento das entidades com grau de investimento especulativo chegue ao final do ano nos 8,8%, sendo de 11,7% nos Estados Unidos e de 5,4% na Europa”.
Este ritmo de incumprimento do crédito, principalmente nos Estados Unidos e em termos globais, supera a média de 4,1% que se registou entre 1983 e 2019.
Richard Morawetz explicou ainda que existem outros fatores além da duração da pandemia, “que será um fator chave na determinação dos incumprimentos a nível global”.
“Haverá aspectos específicos a determinadas indústrias e empresas, como as alterações regulatórias, estruturas de capital insustentáveis, ou alterações no quadro concorrencial, como por exemplo, as que resultam de disrupções tecnológicas”, adiantou Richard Morawetz.
“Um exemplo claro consiste na contínua tendência do retalho eletrónico, que é uma tendência que já estava a alterar a indústria antes deste ano, mas tem foi acentuada pela crise, e deverá persistir nos próximos anos”, adiantou.
Richard Morawetz referiu que os setores mais afetados pelas medidas de confinamento, que limitam o movimento das pessoas, estão perante “um desafio sem precedentes”, tal como as companhias aéreas, entretenimento ou restaurantes.
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