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Morreu o Professor Joaquim Veríssimo Serrão (1925-2020)

Autor de um dos mais completos trabalhos sobre a História de Portugal, Joaquim Veríssimo Serrão morreu esta sexta-feira em Santarém, com 95 anos. Académico e pedagogo, publicou muitos estudos sobre portugueses notáveis, do séculos XVI a XIX e foi um dos grandes conhecedores do pensamento de Marcello Caetano, de quem foi amigo pessoal durante várias décadas.
1 Agosto 2020, 13h27

Os 19 volumes da História de Portugal, escritos por Joaquim Veríssimo Serrão – resultantes de um longo trabalho, apenas concluído em 2011 –, são apenas uma das múltiplas obras do historiador que morreu sexta-feira, com 95 anos de idade. Deixou dois filhos, Vitor e Adriana, ambos professores na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Na página da rede social Facebook, Vítor Serrão relatou: “não encontro as palavras certas para exprimir o sentimento da perda e a dor da ausência, limito-me a partilhar a notícia da morte de meu Pai, Prof. Joaquim Veríssimo Serrão (1925-2020), historiador, ensaísta, académico e homem de cultura, que ocorreu em Santarém no final do dia de hoje, 31 de julho, uma sexta-feira de tão triste memória”.

Doente há vários anos, Joaquim Veríssimo Serrão, além de historiador, foi pedagogo e investigador – e contribuiu para a formação de muitas gerações de jovens investigadores portugueses –, mantendo como foco da sua investigação histórica a participação dos humanistas portugueses na cultura europeia do século XVI, a história local de Santarém, a formação do Brasil, e as principais personagens que se destacaram na vida política portuguesa nas últimas décadas do Antigo Regime, no século XVIII, e no início do Liberalismo, no século XIX.

Ribatejano, nascido em Tremês e 8 de julho de 1925, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 1948, embora tenha sido referenciado nos meios académicos em 1947 pelo facto de se ter destacado pelo trabalho que publicou nesse ano – antes de ter concluído a licenciatura – intitulado “Ensaio Histórico sobre o Significado da Tomada de Santarém aos Mouros em 1147”. Em 1948 deu a sua primeira conferência, subordinada ao tema “A mundividência na poesia de Guilherme de Azevedo”.

Em 1950 iniciou o período em que foi leitor de Cultura Portuguesa da universidade de Toulouse, em França, enquanto quadro do Instituto de Alta Cultura, tendo colaborado então com prestigiados “lusitanistas” como Jean Roche, Leon Bourdon e Paul Teyssier, destacando-se com o estudo “A Infanta D. Maria (1521-1570) e a sua Fortuna no Sul da França” e com a divulgação de investigações sobre os portugueses que frequentaram a Universidade de Toulouse, designadamente, António de Gouveia, Francisco Sanches, Diogo de Teive, Manuel Álvares.

Veríssimo Serrão notabilizou-se verdadeiramente como historiador em 1957, pela defesa da sua tese de doutoramento, efetuada na Universidade de Coimbra, com o trabalho “O Reinado de D. António Prior do Crato: 1580-88”. Pouco depois iniciou a sua carreira docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Fica para a história da academia nacional como um dos historiadores portugueses que mais se destacaram na divulgação dos maiores humanistas portugueses, publicando trabalhos e dando conferências nas universidades de Salamanca, Montpellier e Toulouse, bem como estudos sobre as relações externas entre Portugal e as cortes europeias no século XVI, o Brasil nos séculos XVI e XVII e a crise dinástica de finais do século XVI.

Joaquim Veríssimo Serrão integrou o grupo de colaboradores da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e do Dicionário da História de Portugal, coordenado pelo professor Joel Serrão.

Entre 1967 e 1972 foi diretor do Centro Cultural Português, da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, localizada no palacete de Calouste Gulbenkian, pelo da Place de L’Etoile, na avenida de Iena, sendo responsável pela promoção de estudos portugueses e pela publicação dos “Arquivos do Centro Cultural Português”.

Voltou a Portugal em 1973 para ocupar a cátedra de História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde foi reitor até 1974, ano em que foi demitido depois da revolução do 25 de Abril.

Veríssimo Serrão deu testemunho da sua amizade, de longos anos, com o último presidente do Conselho de Ministros do regime Corporativo, Marcello Caetano. São da sua autoria as “Confidências no Exílio” (publicadas em 1985) e a “Correspondência com Marcello Caetano 1974-1980” (publicada em 1994).

Desde 1975 até 2006 presidiu à Academia Portuguesa da História. Joaquim Veríssimo Serrão foi membro honorário de várias sociedades científicas, portuguesas e estrangeiras, pelas quais foi condecorado e agraciado com prémios. Teve igualmente doutoramentos “honoris causa” por universidades francesas, espanholas e portuguesas.

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