[weglot_switcher]

“Morto pela indiferença”. A história de René Robert está a revoltar o mundo

Robert caiu às 21h num dos bairros mais movimentados de Paris. Sem se conseguir levantar, ficou lá nove horas, sem que nenhum transeunte parasse para o acudir. Foi um sem abrigo que ligou para os bombeiros, mas no hospital não conseguiram salvar a sua vida. Morreu de hipotermia aos 84 anos.
28 Janeiro 2022, 20h30

O fotógrafo suíço René Robert morreu de hipotermia no dia 19 de janeiro, aos 84 anos, depois de ter caído ao chão numa rua central de Paris e não ter recebido ajuda durante nove horas. O jornalista Michel Mompontet, amigo de Robert, disse à “BFM TV” que o fotógrafo tinha sido “morto pela indiferença”.

De acordo com o “El País”, por volta das 21h, Robert caminhava pelo bairro parisiense de Place de la République, um movimentado centro da capital francesa que costuma estar cheio de pessoas. Na Rue de Turbigo, caiu no chão, onde ficou, “entre uma loja de garrafas e um optometrista, incapaz de se mover e à vista dos parisienses que corriam para casa depois do trabalho, que iam entrando e saindo dos restaurantes e cafés, e dos turistas”.

“Horas se passaram. As ruas esvaziaram. Robert ainda estava lá”, continua o jornal espanhol. E esteve, até que um sem-abrigo chamou os serviços de emergência, nove horas depois.

O fotógrafo, que capturou as maiores estrelas do flamenco da atualidade, foi levado para o hospital Cochin, mas os médicos não o conseguiram reanimar, de acordo com os meios de comunicação locais. Morreu de frio.

Todos os anos, mais de 500 pessoas morrem nas ruas da França. Mas Robert não era sem abrigo e, por isso, os seus amigos quiseram dar a conhecer as circunstâncias da sua morte e partilhar a sua frustração.

“Antes de dar lições aos outros e acusar alguém, tenho que responder a uma pergunta que me deixa desconfortável: tenho 100% de certeza de que teria parado se fosse confrontado com a mesma cena, um homem no chão? Não contornaria um sem-abrigo que visse deitado contra uma porta? Não ter 100% de certeza é uma dor que me acompanha. Mas estamos com pressa, temos nossas vidas e desviamos o olhar”, disse Mompontet na televisão pública francesa, na terça-feira, dia 25.

Robert era um grande conhecedor de flamenco e fez retratos de artistas como Paco de Lucía, Camarón de la Isla, Sara Baras, Vicente Amigo, Eva Yerbabuena, Marina Heredia e Estrella Morente. Desde os anos 60, altura em que começou a fotografar, Robert expôs em numerosas exposições em cidades como Paris, Roma, Luxemburgo e Nimes.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.