[weglot_switcher]

“Não há uma equipa perfeita para o Neemias Queta. Perfeito seria que uma equipa o escolhesse”, realça Carlos Barroca

Em entrevista exclusiva ao JE, o vice-presidente de Operações da NBA na Ásia, explicou toda a complexidade do processo de escolha de novos valores para a NBA e todo o trabalho de meses que colocou o português na mira de alguns dos emblemas mais lendários da liga de basquetebol norte-americana.
29 Julho 2021, 22h00

Neemias Queta poderá tornar-se na madrugada desta sexta-feira o primeiro jogador português a entrar na mítica e exigente NBA, a liga de basquetebol norte-americana. O poste de 2,14 metros nasceu em Lisboa, filho de pais guineenses, cresceu no Barreiro e cumpriu a sua formação no Barreirense, antes de alinhar uma temporada no Benfica.

Em entrevista exclusiva ao JE, Carlos Barroca, vice-presidente de Operações da NBA na Ásia, explicou toda a complexidade do processo de escolha de novos valores para a NBA e o trabalho de meses que colocou o português na mira de alguns dos emblemas mais lendários da liga de basquetebol norte-americana.

Como definiria o processo de draft da NBA?
É um puzzle que leva as equipas à procura das melhores soluções possíveis neste momento ou do que é melhor para esses emblemas no futuro, do ponto de vista desportiva e financeiro. O processo do draft na NBA é fascinante porque é o culminar de meses de trabalho: deteção e acompanhamento de talentos, as entrevistas que são feitas com uma panóplia de quadros que vão desde psicólogos a ex-atletas. É um processo meticuloso que tem como objetivo que as equipas errem o menos possível na sua escolha. Existe sempre a probabilidade de algo correr mal. A história da NBA está cheia de jogadores que foram escolhidos nas primeiras posições e não singraram e, pelo contrário, atletas que nem sequer entraram no draft e vieram a revelar-se excelentes jogadores.

É muito otimista perspetivar que Neemias Queta seja escolhido no top-20?
É muito otimista e posso dizer que “otimista” é o meu nome do meio. É otimista pensar que Neemias Queta seja escolhido na primeira ou na segunda ronda do draft. O funil é tão apertado… existem centenas de milhões de praticantes de basquetebol no mundo e só 450 atletas jogam na NBA. A probabilidade de entrar de uma forma direta é mesmo para os eleitos. Estes a que chamo “eleitos” podem sê-lo porque preenchem todos os dados requeridos pelas equipas ou simplesmente porque têm um golpe de sorte. Imagine que há uma série de equipas que escolhem atletas para o jogo exterior mas por qualquer situação, começam a escolher todos os postes que estão no draft. E chega-se a uma equipa que decididamente quer um poste e o Neemias é o jogador disponível. Isso significa que ele vai entrar no draft. Há circunstâncias no draft que não podem ser qualificadas porque este é um processo em que cada equipa joga as suas cartadas. O impacto da escolha de cada um à frente da equipa que vem a seguir, será uma consequência do desmoronar de castelos e de centenas de cenários que estão perspetivados. Cada movimento anterior pode proporcionar um caminho diferente.

É quase como um jogo de xadrez?
O jogo de xadrez é muito menos complexo do que o processo de draft: são menos peças, menos quadrados e menos variáveis. É absolutamente fascinante este processo do draft. Um dos melhores segredos da NBA é a forma como acontece este draft, como foi evoluindo ao longo dos anos e como possibilita às equipas uma renovação. Vejam os Phoenix Suns que era uma das piores equipas da NBA e foram vice-campeões esta temporada.

A posição do Neemias Queta (poste) tem evoluído ao longo dos anos, ao ponto de se colocar em causa a necessidade de jogadores para essa posição. Esse é mais um desafio na carreira do português?
É só mais um desafio e olhando para as características do Neemias, há coisas que são óbvias: capacidade atlética e eficácia em zonas próximas do cesto. Quanto mais ele conseguir aportar ao jogo, mais irá aumentar a sua capacidade. Há muitos jogadores que chegam à NBA que não são melhores do que o Neemias. Não uso o otimismo exagerado para dizer que ele vai entrar já, nem o pessimismo exagerado para dizer que é o fim do mundo se ele não entrar. É mais uma adversidade mas na NBA usamos muito uma frase que é “short or tall, basketball is for all” (baixo ou alto, o basquetebol é para todos). Seja qual for a estatura de um atleta, todos têm que ser competentes. E o Neemias tem competências. Se não as tivesse, não teria sido sido convidado para o Combine da NBA em Chicago. Sei como foi o comportamento dele: não foi o melhor mas também não foi o pior. Estar entre os 60 melhores escolhidos para o Combine é uma vitória extraordinária. Caso Neemias não entre, terá sempre a possibilidade de participar na Liga de Verão. O Neemias Queta tem uma boa agência atrás dele e tem um enorme potencial, não é um produto acabado.

Conhecendo a NBA como poucos, em que equipa é que Neemias Queta se enquadrava melhor?
Em qualquer equipa! As equipas são todas iguais. Se não trabalhasse na NBA podia ter opinião sobre isso, mas estando na organização, tratamos todas as equipas por igual. Não há uma equipa perfeita para o Neemias Queta, perfeito seria que uma equipa o escolhesse. É um miúdo que tem um carácter fantástico.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.