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“Não querem partilhar controlo”. Empresas portuguesas explicam à OCDE porque não entram em bolsa

Os custos relacionados, os baixos níveis de liquidez e a complexidade da regulação também foram obstáculos mencionados por mais da metade das empresas num inquérito conduzido pela OCDE.
4 Junho 2020, 10h28

Os lucros retidos, que não são distribuidos aos acionistas, representam a principal fonte de financiamento para 85% da empresas portuguesas, segundo o resultado de um inquérito divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que revela ainda que a grande maioria das empresas não considera a possibilidade de uma entrada em bolsa, principalmente porque os acionistas não querem partilhar o controlo com outros investidores.

No relatório sobre o “Inquérito sobre o Acesso ao Financiamento em Portugal”, a OCDE adiantou que segundo 80% das 250 empresas questionadas, a disponibilidade de fundos internos afeta de forma positiva os seus planos de investimento.

Os empréstimos bancários e as linhas de crédito ocupam o segundo e o terceiro lugar em termos de importância como fontes de financiamento. “No que diz respeito aos empréstimos bancários, a maioria das empresas respondeu que os relacionamentos com os bancos foi a principal razão para a escolha de empréstimos bancários em detrimento de outras fontes de financiamento”, referiu a OCDE. O menor custo dos empréstimos e o facto de os bancos conhecerem os seus negócios foi citado por quase metade das empresas.

“É importante salientar que quase um terço das empresas mencionaram que optaram por empréstimos bancários porque não viam outra opção”, salientou a organização sediada em Paris.

Financiamentos através do mercado de ações e de dívida foram indicados como importantes fontes por 30% das empresas. Onze empresas responderam que planeiam ser cotadas nos próximos três anos.

“No entanto, uma grande maioria das empresas não listadas indicaram que não consideravam a possibilidade de serem cotadas”, salienta o relatório.

Entre as empresas que não planeiam obter financiamento através dos mercados de capitais nos próximos três anos, a a explicação mais comum foi que “os nossos acionistas não querem partilhar o controlo com os outros ”.

Os custos relacionados, os baixos níveis de liquidez e a complexidade da regulação também foram fatores mencionados por mais da metade das empresas.

A OCDE salientou que 30 empresas (12%) mencionaram ter obtido informações sobre o processo de listagem no passado, mas interrompeu o processo antes de fazer uma oferta pública inicial (IPO).  Mais de  três quartos dessas empresas mencionaram a regulamentação complexa, os elevados requisitos em termos de governance e compliance e a baixa liquidez do mercado como razões para não terem continuando o processo.

Quase um quinto das empresas mencionaram que querem emitir títulos de dívida (incluindo obrigações, papel comercial e notas) em breve.

Mais de 80% das empresas não listadas mencionaram que “a simplificação de  requisitos de disclosure e compliance, procedimentos simplificados de listagem, uma estrutura para segmentos alternativos e requisitos flexíveis de governança corporativa contribuiriam criar um bem sucedido ecossistema de bolsa em Portugal”.

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), enquanto autoridade de supervisão do mercado de capitais, promoveu o lançamento do projeto, candidatando-o a financiamento comunitário, com o objetivo de identificar os obstáculos ao desenvolvimento do mercado de capitais português e as medidas que podem ser implementadas para ultrapassar essas dificuldades.

O projeto tem estado a ser desenvolvido pela OCDE e resultará na emissão de um conjunto de recomendações de reformas com vista a garantir o acesso das empresas portuguesas a financiamento de longo prazo. Segundo a CMVM, “a importância desta reflexão e iniciativas que possam dinamizar o financiamento em mercado é reforçada no contexto da desejada retoma após a atual crise”.

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