A empresa EY lançou, em parceria com a APIT (Associação de Produtores Independentes de Televisão), a primeira edição do anuário do setor da produção audiovisual em Portugal, onde são abordadas as principais tendências do setor, quer a nível internacional ou nacional.
Mais de metade do volume de negócios do setor audiovisual gerado em 2017, em Portugal, resultou da atividade de produtores independentes. Destes produtores, cerca de 80% dedica-se à produção de obras transmitidas em televisão, sendo que 94% do volume de negócios é gerado por produtores independentes de televisão associados da APIT. Face a dados de 2013, o número de trabalhadores no setor aumentou 15%, o volume de negócios 5,2% e as exportações uns significativos 15,4%.
Segundo dados do Eurostat referentes a 2016, o volume de negócios das empresas portuguesas, cuja atividade principal é a “produção de filmes, vídeos e de programas de televisão”, foi de 0,8%. Este resultado pode ser explicado pela pequena dimensão do mercado doméstico e pela fraca internacionalização que a produção portuguesa registou.
O estudo realizado pela EY salienta que a produção de conteúdos audiovisuais em território nacional dispõe de um quadro restritivo de apoios. Em 2017, os apoios concedidos pelo Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) para o setor audiovisual de televisão foram de 3,3 milhões de euros. A ficção e os filmes destinados à televisão foram os projetos com maior relevo nos apoios concedidos à produção audiovisual.
Quando questionadas sobre o futuro próximo, 20% das empresas espera que o aumento do consumo em multi-plataforma tenha um impacto positivo na sua atividade enquanto 56% considera que a inovação de produto e formato são cruciais na sua estratégia. Cerca de 70% das empresas espera aumentar o volume de negócios internacional durante o próximo ano.
Nesta primeira edição, a nível internacional, destaca-se o aumento do consumo de conteúdos audiovisuais na internet, devido às redes sociais, que tem promovido a entrada de empresas tecnológicas na transmissão de conteúdos, estando a verificar-se um número significativo de aquisições de conteúdos premium por parte de grandes empresas tecnológicas como a Amazon e Netflix. A queda de subscritores dos serviços por cabo está a tornar-se numa realidade nos EUA e será uma das tendências futuras na Europa com a entrada de novos serviços e com as gerações mais novas a deslocarem o seu consumo de conteúdos audiovisuais da televisão para outras plataformas, como já se começa a observar.
Outra tendência registada no universo audiovisual é o consumo em cross-plataform e off-plataform, uma vez que o consumo de conteúdos está a ser feito cada vez mais através de aparelhos eletrónicos, uma realidade presente em programas televisivos com grandes níveis de audiência. Por outro lado, o alargamento da oferta passa ainda pela disponibilização de conteúdos offline, possibilitado pelo aumento da capacidade de armazenamento dos dispositivos eletrónicos.
Verifica-se igualmente uma maior orientação dos serviços por procura para a produção de originais, com players com maior penetração no mercado como a Netflix, que se encontram a apostar cada vez mais na produção de conteúdos originais. Verifica-se ainda uma aposta em produções locais, para fazer frente a questões regulamentares e especificidades do consumidor. Algumas destas tendências estão a dar origem a outras, entre elas a verticalização da cadeia de valor e o serviço ao consumidor.
“Com as operadoras de televisão a depararem-se com várias plataformas OTT (over the top), a distribuir conteúdos com qualidade a preços baixos, começou a verificar-se uma tendência de concentração vertical de produtores e distribuidores de conteúdos com o intuito de apresentar ofertas mais competitivas. Um bom exemplo deste caso a nível nacional foi a tentativa de aquisição da Media Capital pela Altice. Mas o impacto desta tendência na produção audiovisual independente é incerta” comenta Hermano Rodrigues da EY.
A televisão já não possui a fatia mais importante das receitas publicitárias, tendo sido ultrapassada pelo digital, apesar de em Portugal, esse cenário ainda não se verificar. A diminuição das receitas publicitárias coexiste com um aumento da exigência na qualidade dos conteúdos produzidos e com uma maior fragmentação do consumo.
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