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“Nos últimos seis ou sete anos, usámos quase tantos materiais virgens como nos 100 anos anteriores”, diz CEO da Circle Economy

“Embora a conversa em torno da circularidade tenha aumentado, a circularidade em si tem diminuído”, alerta Ivonne Bojoh, CEO da Circle Economy Foundation, em entrevista ao JE.
27 Novembro 2024, 12h57

“Nos últimos seis ou sete anos, utilizámos quase tanto material virgem como nos 100 anos anteriores”, alerta Ivonne Bojoh, CEO da Circle Economy Foundation, numa conversa com o Jornal Económico (JE) em torno da economia circular.

“Estamos a utilizar tanto material de ano para ano que o crescimento é realmente alarmante. E temos de dobrar essa curva”, continuou. Mesmo com a população mundial em crescimento – a ONU estima que chegue aos 10,3 mil milhões em 2080 -, o caminho passa pela redução da extração e da utilização de materiais novos, defendeu.

Segundo Ivonne Bojoh, o aumento das discussões sobre a circularidade nos últimos anos é claro, mas a circularidade em si não traduz essa tendência.

“Ao longo dos anos, a circularidade global diminuiu em vez de aumentar, o que significa que estamos a ir na direção errada. Numa economia global, estamos a utilizar mais materiais [novos] em vez de os reciclar, reaproveitar ou evitar a extração”, explicou a mesma responsável, que participa esta quarta-feira no Innovators Forum’24, promovido pela Sonae.

De acordo com a mais recente edição do ‘Circularity Gap Report‘, que a NGO publica anualmente desde janeiro de 2018, a taxa de materiais reciclados consumidos pela economia global caiu 21% em cinco anos.

Em contexto comunitário, saudando a inclusão do tema da economia circular pela nova comissária do Parlamento Europeu no seu portefólio, Ivonne Bojoh considera que há margem para fazer mais.

“A União Europeia (UE) já desempenhou um grande papel na economia circular até agora. Outras regiões do mundo estão a olhar para a Europa. Mas acho que, definitivamente, o esforço pode ser sempre maior”, afirmou.

E a “educação das massas”  para o tema, bem como a influência do comportamento do consumidor, devem estar entre as prioridades. “O preço real (true pricing) é muito importante. Por exemplo, nos Países Baixos, o setor aéreo é fortemente subsidiado, mas viajar de comboio e autocarro torna-se cada vez mais caro. Se se quer que as pessoas não usem carro mas mais o transporte público, porque não implementar a mesma estratégia da Alemanha?”, questionou.

Sobre os esforços da UE no combate à obsolescência programada, materializados numa nova diretiva introduzida em Março deste ano, Ivonne classifica-a como “um movimento na direção certa”.

“Embora a diretiva da UE não imponha diretamente a proibição prematura de mercadorias, ainda assim, introduz uma forte dissuasão ao proibir a promoção de produtos com atributos que reduzem a durabilidade. Mas enquanto essas leis não estiverem em vigor nas economias maiores, como a China, como os EUA, é difícil proibir completamente a obsolescência”, analisou.

Tal como o Tratado Global sobre Plásticos, cujas negociações finais decorrem até domingo, em Busan, na Coreia do Sul, também o uso global de materiais deveria ser considerada ao abrigo de um entendimento mais global.

“Se alguma vez existir um tratado em torno da economia circular globalmente, assiná-lo-ei com prazer”, disse Ivonne Bojoh.

A Circle Economy Foundation é responsável por mais de 30 relatórios dedicados a diferentes países e cidades, numa estratégia que “torna mais tangível para os governos nacionais e setor privado saber saber quais soluções implementar”. “Acreditamos que levou a muitas iniciativas mais baseadas em evidências e dados, mais do que genéricas”, afirmou.

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