[weglot_switcher]

O Francisco asiático e o secretário do Papa: os dois favoritos para liderar a Santa Sé

O filipino foi um dos mais jovens a chegar a cardeal e pode reaproximar a Santa Sé da China; o italiano é perito em declarações ambíguas e nunca chefiou uma paróquia. Em comum, a sua proximidade a Francisco e o favoritismo para lhe suceder.
Missa Papal no Vaticano
8 Maio 2025, 07h00

Luis Antonio Tagle, 67 anos, natural das Filipinas e Pietro Parolin, o italiano que é secretário de Estado da Santa Sé, com 70 anos: estes são dois favoritos a suceder ao Papa Francisco no Conclave que se iniciou esta quarta-feira. O site “College of Cardinals Report” enumera um grupo restrito de doze cardeais dos quais pode sair o líder da Igreja Católica, mas são estes dois que podem liderar as preferências entre os cardeais.

Arcebispo emérito de Manila, desde 2019 que Luis Antonio Tagle tem cargo na Cúria Romana, a cúpula do Vaticano. Atualmente, é pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização. Considerado o “Francisco asiático”, partilha a visão do papa em temas como ecologia e foi nomeado por Bento XVI em 2012.

Frequentemente citado como papável pela imprensa especializada, desde 2013 que Pietro Parolin é secretário de Estado da Santa Sé, responsável pela diplomacia da Igreja. É o favorito na disputa e foi nomeado por Francisco em 2014.

O “Chito” que pode abrir caminho para a China

Tagle é um dos cardeais mais bem posicionados para suceder Francisco, caso os votantes no conclave procurem a continuidade do pontificado do argentino e um novo papa do chamado Sul Global, de acordo com o site The College of Cardinals Report.

De forma semelhante a Francisco, que sempre buscou demonstrar informalidade, rejeição à ostentação do Vaticano e abertura progressista, o cardeal filipino prefere ser chamado pelo seu apelido, Chito.

Opõe-se ao uso do que que chama de linguagem dura e severa da Igreja para condenar pecados, incluindo a homossexualidade, e em entrevistas cita declarações famosas do papa argentino sobre o assunto, como quando o pontífice questionou “quem sou eu para julgar?”, no início do seu pontificado.

A sua abordagem branda com relação a temas caros a conservadores na Igreja Católica é alvo de críticas dentro e fora das Filipinas, país de forte tradição católica.

Outro ponto relevante da biografia de Tagle para um eventual pontificado é a sua origem chinesa — o seu avô materno nasceu na China e migrou para as Filipinas—, o que pode abrir espaço para o diálogo entre a Santa Sé e Pequim.

Em 2018, Francisco fechou acordos com a China que tratam do procedimento de escolha e nomeação de bispos católicos no país.

Os acordos foram renovados em 2024 por mais quatro anos, em medida que foi vista por analistas como um sinal de avanço na confiança entre os dois Estados, embora o histórico esteja cheio de tensões e persistam limitações à liberdade de culto no país.

A China e o Vaticano não têm relações diplomáticas desde a década de 1950, e a Santa Sé é um dos poucos Estados no mundo que reconhecem Taiwan como país —Pequim vê a China continental e a ilha como partes de uma mesma China e tem aumentado a pressão sobre o território recentemente.

Embora não seja jesuíta como Francisco, Tagle foi influenciado pela ordem ao estudar em seminário jesuíta em Manila. O filipino foi ainda presidente da Cáritas, instituição humanitária filantrópica do Vaticano, e estudou nos Estados Unidos.

Ordenado em 1982 e elevado a bispo em 2001, o filipino foi nomeado cardeal por Bento XVI, em 2012, aos 54 anos, um dos mais jovens na altura. Tagle é fluente em inglês e italiano, além do seu idioma nativo, o tagalo, e tem conhecimentos de francês, coreano, chinês e latim.

Parolin: o moderado que nunca chefiou uma paróquia

Na corrida de especulações sobre quem deve ser o próximo papa, alguns vaticanistas acreditam que, após um pontificado mais conservador como o de Bento XVI e mais progressista como o de Francisco, a Igreja Católica procure um nome moderado, que represente continuidade.

Se a suposição se confirmar, é provável que o próximo líder do Vaticano seja o atual secretário de Estado da Santa Sé, o italiano Pietro Parolin —um diplomata conhecido por não se comprometer com as posições mais polémicas da Igreja hoje, mas aberto a continuar o caminho de reformas iniciado por Francisco.

Graças à sua posição na hierarquia da Santa Sé —o cargo de secretário de Estado, que Parolin ocupa há mais de dez anos, faz dele a pessoa mais importante no Vaticano, atrás apenas do papa— e à sua cooperação com Francisco, o cardeal é visto como o sucessor natural de Bergoglio. No círculo de apostas sobre o novo pontífice tem aparecido no topo.

Mas o nome de Parolin não é unânime. Além de ser visto por conservadores e progressistas com desconfiança por declarações ambíguas sobre a aceitação a casais LGBTQIA+, divorciados e o futuro do celibato, os seus críticos apontam o facto de que o cardeal não tem experiência pastoral —isto é, nunca chefiou uma paróquia ou trabalhou em contato direto com fiéis.

Com efeito, o caminho de Parolin até atingir a alta hierarquia da Igreja mais se assemelha ao de um servidor público de carreira do que de um religioso. Nascido em 1955 na região de Veneza, filho de um comerciante e uma professora, tornou-se padre em 1980. Em seguida, formou-se em direito canônico na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, e estudou na Pontifícia Academia Eclesiástica, a escola de diplomatas do Vaticano.

Com a eleição de Francisco em 2013, o italiano, então com 58 anos, foi reconvocado à Santa Sé e nomeado secretário de Estado —o mais jovem no cargo desde 1929, quando Eugenio Pacelli, mais tarde eleito papa Pio 12, chegou ao posto.

O período de Parolin à frente das relações exteriores do Vaticano foi marcado por uma tentativa do cardeal de implementar as prioridades de Francisco, buscando a resolução de conflitos ao redor do mundo. Ele negociou a reaproximação entre os Estados Unidos e Cuba durante o governo de Barack Obama, mediou conversas entre o regime de Nicolás Maduro e a oposição venezuelana e se tornou o primeiro secretário de Estado do Vaticano a visitar Moscou em quase duas décadas.

Também negociou a proteção de civis no Afeganistão após o retorno do Talibã ao poder e condenou tanto a invasão da Ucrânia por parte da Rússia quanto a destruição e mortes de civis causadas por Israel na Faixa de Gaza.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.