Já o sabemos: com a internet temos uma amplo “guarda –chuva” de oportunidades de conhecimento mas também estamos sujeitos a um leque de agressividade inimaginável há uns anos, não porque não houvesse pessoas agressivas e tóxicas, mas a internet veio expô-las quando, covardemente, na sua maioria, se aperceberam que podem debitar comentários tóxicos e de ódio sob um anonimato que na verdade diz tanto destes agressores e bullies que primam pela humilhação, pela provocação e pelo ataque pessoal.
Sem querer fazer qualquer análise sobre tais comportamentos- este, é um mero artigo de percepção e opinião – os mesmos não se podem qualificar de “normais” e expõem mesmo uma falta de empatia que tem alastrado nas sociedades atuais e que se vão ampliando no ambiente virtual.
E sem visar ninguém, ocorrem-me comentários que li recentemente a propósito de um castigo desferido a um recluso com problemas de saúde mental (e relembro o que disse, e bem, a anterior ministra da Justiça: a maior parte dos reclusos são casos de doença mental) numa prisão portuguesa que o colocou em risco de vida (no caso foi colocado em roupa interior durante 3 dias numa cela fria, com cama sem colchão e apenas dois cobertores, o que resultou numa hipotermia grave que o levou para os cuidados intensivos). Os comentários oscilavam, na sua larga maioria, e porque se tratava de um recluso condenado, entre o “bem-feito”, “não devia sobreviver” e outros comentários de expressão inumana similar, ou pior. Em resposta a estes, havia, claro, outros mais moderados, mas a agressividade brindava sempre a troca de “opiniões” fossem mais ou menos brandas no teor comentado e desde insultos e ofensas pessoais (entre pessoas que nunca se viram ou conhecem), a ataques político-ideológicos, a ameaças… estava tudo lá escancarado em 200 e tal comentários, a elucidar a educação e o comportamento de tantos comentadores. No caso concreto, desconheciam, os agressores, que os reclusos não perdem os seus direitos civis por terem sido condenados e o bom trato e a saúde são-lhes direitos por direito!
Há mesmo já estudos e artigos sobre este assunto, de agressividade no espaço virtual, falando-se já mesmo em “mudança de personalidade na internet” e numa “cultura de ódio”, de impulsos emocionais, de raiva, sadismo e de extremismos ideológicos, que a está invadir. E tudo isto só pode ser patológico, pela destrutividade do outro, sem qualquer contributo para a evolução, e até sobrevivência, humana. Reitero que só pode ser patológico também pela impulsividade e intensidade da agressividade que é tão desmedida face à situação e que reflecte tantas vezes frieza e desdém na relação com os outros, destruindo-a.
A solução para travar este tipo de comportamentos é tanto pessoal como institucional. Pessoal, ignorando e resistindo à tentação de responder a comentários tóxicos, para assim travar a espiral de agressividade (e preservar a nossa própria sanidade). Institucional, porque há que regulamentar a conduta e urbanidade no espaço virtual, independentemente das naturais e necessárias diferenças de opinião. Não falo de censura, obviamente, mas do estabelecimento de limites sociais e relacionais na internet, como na vida, e da educação dos Direitos Humanos online. Até porque muito deste ódio é tantas vezes destinado a pessoas e grupos-alvo com o intuito de fomentar a brutalidade contra estes, incorrendo em crimes já tipificados por Lei.
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