[weglot_switcher]

O poder económico da língua portuguesa

No conjunto da CPLP, o mercado representa cerca de 3,7% da população mundial e detém, aproximadamente, 4% da riqueza global dispersa pelos cinco continentes, o que só encontra paralelo na língua inglesa.
5 Março 2018, 07h15

No século XV, partimos para as explorações marítimas com apenas 1 milhão de habitantes, claramente em desvantagem numérica face aos concorrentes espanhóis e ingleses, na época respetivamente 6,8 e 3,9 milhões de habitantes. Não obstante isso, conquistámos posições nos cinco continentes, extraíamos e comercializámos diversos produtos e riquezas, como especiarias, madeiras, ouro, entre outros.

Volvidos 500 anos, perdemos praticamente todos os bens materiais, designadamente as posições territoriais e as riquezas. Por um lado, o progresso e as reações naturais dos povos nativos, na luta pela liberdade e autodeterminação, conduziram à independência dos territórios colonizados. Por outro lado, as riquezas esvaíram-se no tempo em consequência das políticas estratégicas e das decisões de gestão.

Contudo, não há regra sem exceção. Desde o século XV, a língua portuguesa tem vindo a crescer exponencialmente, ascendendo atualmente a cerca de 260 milhões de falantes, entre nativos e oficiais. Para o efeito, contribuiu de modo significativo o crescimento populacional do Brasil e dos PALOP, afirmando, simultaneamente, estas economias no panorama internacional.

No conjunto da CPLP, o mercado representa cerca de 3,7% da população mundial e detém, aproximadamente, 4% da riqueza global dispersa pelos cinco continentes, o que só encontra paralelo na língua inglesa.

Acresce que, no quadro da globalização económica, a língua portuguesa contribui decisivamente para a diminuição da distância psíquica, revelando-se fundamental ao sucesso das estratégias de internacionalização das empresas portuguesas, como preconizam os modelos da escola Uppsala.

É neste contexto que a língua portuguesa se vem afirmando como língua veicular de negócios, ventilando-se também a sua afirmação como língua franca. Porém, não obstante o nosso pioneirismo na globalização, a influência da nossa língua no mundo manteve-se durante muito tempo aquém de outros idiomas europeus, como por exemplo o inglês, o espanhol, o francês, o alemão ou o russo.

Todavia, nunca é tarde e a afirmação atual da língua portuguesa parece fazer renascer o orgulho nacional na nossa cultura, reportando-nos para a epopeia das explorações marítimas; onde, apesar da nossa diminuta população, o Português adquiriu o estatuto de uma língua veicular de muitos tratados da diplomacia e do comércio, conforme ilustra a Carta de Padrão de 100$000 de tença de juro, passada a 29 de maio de 1586, a favor dos Padres da Companhia de Jesus de Coimbra, a ser liquidada pelos Contratadores da Pimenta.

Em conclusão, podemos afirmar que a língua portuguesa, não apenas sobreviveu à queda do império, como cresceu e representa grandes oportunidades de negócio. De acordo com Roland Barthes (1915-1980), filósofo francês do século XX, tal deve-se ao facto de a língua ser um instrumento de poder e coerção. Pois, segundo o filósofo, a língua é uma classificação e toda a classificação em si é opressiva. Além disso, a língua, como desempenho de toda a linguagem, não é reacionária nem progressista, pelo contrário, a língua é fascista, na medida em que o fascismo não impede de dizer, obriga a dizer.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.