[weglot_switcher]

Banca a mexer com os mercados. Que efeitos nas principais praças mundiais?

Primeiro o Silicon Valley Bank, dias depois o Signature Bank. 72 horas após o medo se instalar nas bolsas europeias, o maior investidor do Credit Suisse anuncia que não vai colocar mais dinheiro na entidade e leva os mercados a um frenesim. O que está a acontecer?
15 Março 2023, 14h36

O sector bancário está a mostrar sinais de alguma instabilidade e a arrastar os mercados consigo. Mas comecemos pelo início: o Silicon Valley Bank (SVB) colapsou a 10 de março depois de ter perdido depósitos consideráveis de clientes, quando tentou reequilibrar o balanço ao angariar 2,25 mil milhões de dólares (2,1 mil milhões de euros).

Confirmada a falência do banco ainda no domingo, 13 de março, o Signature Bank não aguentou a pressão e também colapsou, tendo sido contagiado pelo SVB. O anúncio das duas instituições bancárias focadas para a tecnologia e critpomoedas foi anunciado pelo Tesouro dos EUA, Reserva Federal e pelo Federal Depois Insurance Corp (FDIC).

Na segunda-feira de manhã, as bolsas europeias reagiram negativamente ao fecho dos dois maiores bancos de tecnologia e startups, com os índices a perderem mais de 3%. Mas a reunião do Eurogrupo e a Comissão Europeia tranquilizaram os investidores o suficiente para que, no dia seguinte, os índices bolsistas regressassem às negociações normais, apresentando ganhos, ainda que a medo de contágio, cenário excluído por várias entidades reguladoras europeias.

No entanto, o contágio chegou à Europa e fê-lo com um atraso de 72 horas. Esta quarta-feira, 15 de março, o tombo superior a 21% do Credit Suisse na bolsa de Zurique (e consequente suspensão da cotação) levou ao frenesim dos mercados europeus.

A queda do Credit Suisse aconteceu depois de o maior acionista ter descartado realizar mais investimentos no banco, levando à forte quebra das ações. O investidor saudita, Saudi National Bank, antevê que o valor da sua participação caia a pique nos próximos meses, uma vez que não fornecerá mais ajuda financeira, dado que uma participação maior traria obstáculos regulatórios adicionais.

Em Portugal, os investidores do BCP não estão a gostar do sentimento trazido pela entidade suíça e o banco português está a cair 10,37% para 0,19 euros, levando o PSI a recuar 2,51%.

O mesmo sentimento negativo está a contagiar todas as instituições bancárias europeias, com as mesmas a pressionar significativamente as respetivas bolsas. O DAX (Alemanha) recua 2,90%, enquanto França (CAC 40) cai 3,56%, Espanha (IBEX 35) perde 4,14%, Itália desce 3,89% e o Reino Unido desvaloriza 2,97%.

Na Alemanha, o Deutsche Bank cai 8%, enquanto o Commerzbank não é tão comedido e desce 9,62%. Em França, o Credit Agricole recua 6,01% e o Societe General perde 12,54% e o BNP Paribas desce 11,30%. Já em Espanha, o BBVA é o que sente a maior pressão, ao desvalorizar 10,46%. O Banco Sabadell desce 10,27%, o Bankinter recua 7,66%, o Santander deprecia 7,26%, enquanto o Caixabank cai 6,28%.

O mesmo acontece no Reino Unido. O Lloyds Ranking cai 4,88% e o Barclays recua 8,58%, sendo que a queda mais acentuada do FTSE 100 acontece no Prudential PLC, empresa de seguros, que se encontra a perder 11,16%. Em Itália é semelhante: o UniCredit desce 7,44%, o FinecoBank perde 7,27%, o Intensa recua 6,83% e o Bper Banca cai 6,67%.

“Os índices bolsistas europeus recomeçaram hoje a cair após o início da sessão. O ressalto que observámos ontem revelou-se de curta duração e a queda de hoje mostra que as preocupações sobre o estado do sector bancário ainda não desapareceram. No entanto, um ponto a salientar é que a atenção se deslocou dos bancos norte-americanos para os bancos europeus”, notam os analistas da XTB.

Focando a sua atenção no Credit Suisse, a XTB admite que “o banco tem sido atormentado por preocupações dos investidores e reguladores nos últimos anos, uma vez que esteve implicado em vários escândalos de mercado de grande visibilidade”.

Assim, e depois das notícias, a instituição suíça “é hoje o banco com pior desempenho no índice” e “as ações já hoje foram suspensas por duas vezes por causa da volatilidade e estão agora a negociar 20% mais baixo no dia”.

Como pode reagir Wall Street perante o pânico da Europa?

O mercado americano acabou de abrir e arrancou “em baixa expressiva, contagiada pelo sell-off nas congéneres europeias”, nota Ramiro Loureiro, analista de mercados do Millennium investment banking.

“Depois do colapso do SVB na semana passada, a banca volta a ser arrastada para perdas acentuadas, após o maior acionista do Credit Suisse, o Saudi National Bank, ter desconsiderado qualquer injeção adicional de capital na instituição, alimentando receios de que o banco possa estar a passar por dificuldades, depois de ontem ter anunciado deficiências graves no controlo interno das suas contas”, analisa.

As principais instituições bancárias dos EUA apresentam algum receio no pré-mercado. O First Republic Bank (que esteve para ser o terceiro a fechar no fim de semana passado) está a perder 22% para 30,90 dólares, depois de ter encerrado o dia de ontem no ‘verde’. Também o Bank of America não está seguro: o banco cai 3,5% para 27,76 dólares, uma queda menos acentuada.

Já a Goldman Sachs cai 4,24% para 308,24 dólares, sendo arrastado pelo mesmo sentimento negativo que está a afetar as principais tecnológicas americanas.

Como está a reagir o petróleo?

Más notícias para os investidores e boas para os consumidores: o preço do petróleo está em queda.

Esta manhã, o petróleo West Texas Intermediate (WTI) ficou abaixo dos 70 dólares por barril, um valor que não era visto desde dezembro de 2021, três meses antes do início da guerra da Ucrânia, quando os preços dispararam.

Durante a sessão desta quarta-feira, o preço mínimo atingido pelo WTI foi de 69,76 dólares. Já o Brent, negociado em Londres, desceu aos 76,21 dólares por barril.

Pelas 13:00 horas, o WTI atingiu um novo mínimo: 68,93 dólares por barril, estando a cair 3,38%. Já o Brent recua 3,14% para 75,02 dólares.

E as criptomoedas?

Sendo um dos mercados afetados pela queda do SVB, por agregar empresas que negoceiam neste segmento, os resultados até nem são significativamente maus para os investidores.

Só nos últimos quatro dias, a Bitcoin foi uma das maiores beneficiadas da falência do banco, tendo valorizado mais de 30%. Atualmente, a Bitcoin está a negociar nos 24.836 dólares, estando a ter mais ação agora do que nos últimos meses.

Com a Reserva Federal a ponderar mais aumentos das taxas de juro em relação ao crescimento da economia norte-americana, as criptomoedas continuam a avançar no mercado, de forma a combater o aumento das referidas taxas.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.