O recente relatório da Organização Internacional do Trabalho, intitulado “Trabalho Digno em Portugal 2008-2018”, indica que Portugal é dos países com um número de horas de trabalho semanais mais elevado da Europa e realça também a forte componente do trabalho precário.

Segundo o Eurofound (Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho), Portugal é o quarto país da União Europeia (a 28) com horários de trabalho mais extensos. Mais exatamente 1.958 horas de trabalho por ano, contra 1.669 da média da UE e apenas 1.418 da Alemanha.

O mesmo relatório mostra que “76,6% dos trabalhadores portugueses por conta de outrem não têm um horário “normal” ou fixo. Quer isto dizer que mais de 3/4 dos trabalhadores portugueses não podem ter por certa a hora a que, em cada dia, saem do emprego e, logo, não podem assumir responsabilidades familiares”, como a de ir buscar um filho à escola, por exemplo.

Não raras vezes, as horas extraordinárias/suplementares confundem-se com as “escandalosas” horas de trabalho que, silenciosamente, são prestadas fora dos horários regulares, por via das novas tecnologias, com a crescente utilização dos computadores portáteis e dos telemóveis fora do local habitual de trabalho, e em particular na própria habitação do trabalhador.

De acordo com um recente estudo, 87,1% dos trabalhadores portugueses desenvolve algum trabalho remotamente e fora do horário oficial, designadamente à noite ou ao fim de semana, enquanto essa percentagem é muito mais baixa nos outros países europeus (em França, por exemplo, é de 74%).

O mesmo refere igualmente que 61,1% dos trabalhadores portugueses desenvolvem gratuitamente algum trabalho para a sua entidade empregadora (mesmo durante as férias), enquanto essa percentagem é apenas de 38,2% na Suíça e de 43,3% na França, presumindo-se que essa seja uma das razões pelas quais Portugal será o terceiro país europeu em que os patrões fornecem mais telemóveis aos trabalhadores. Como diria Noam Chomsky, “(…) a população em geral não sabe o que está a acontecer e nem sequer sabe que não sabe”.

Por todas as razões referidas, é muito possível que venha a receber um smartphone de prenda este Natal.