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Ondas Gravitacionais

Mas, o que nos reserva o futuro próximo? As ondas gravitacionais não nos permitem vislumbrar para onde nos dirigimos. Os ganhos de produtividade não são, ainda, evidentes e a destruição dos postos de trabalho é superior à criação de novas ocupações.
10 Novembro 2020, 07h15

Comemoram-se 115 anos da publicação da Teoria da Relatividade Restrita de Albert Einstein cuja longevidade “pode explicar-se pela grande variedade de fenómenos que prevê[1]” e antecipando a descoberta de elementos hoje conhecidos como os buracos negros e as ondas gravitacionais, entre outros.

Na economia, no mesmo período[2] e em fase da 1ª revolução industrial, os teóricos clássicos, entre os quais Marx, centravam em relação à produção de bens, no fator trabalho a grande fonte de criação de valor. Consequentemente, na repartição uma parte ficava com o próprio trabalho através dos salários, sendo a maior fatia distribuída entre os detentores dos meios de produção, leia-se proprietários e capitalistas, respetivamente as rendas e os lucros. Durante muitos anos, relegou-se para segundo plano a iniciativa, o conhecimento e o empreendedorismo, como fatores centrais da criação de valor e riqueza.

Todavia, os problemas da sociedade contemporânea são altamente complexos, exigindo respostas científicas e políticas públicas adequadas para a transferência das soluções para a sociedade. Neste quadro, as empresas e, principalmente, a gestão são os elementos privilegiados da transformação. “A gestão é a porta através da qual mudança política, económica, tecnológica – na verdade, a mudança em todas as dimensões – é racionalmente e efetivamente espalhada pela sociedade”[3] . De salientar que, atualmente, não é apenas o covid-19 que nos preocupa. Devemos adicionar muitos outros desafios, como as alterações climáticas, a revolução industrial em curso, a pobreza e as desigualdades sociais, além dos demais problemas sistematizados nos 17 objetivos de desenvolvimento sustentado da ONU.

Neste contexto de mudança, único elemento imutável (segundo Hegel), como se posicionará o trabalho? É certo que enquanto fonte de criação de valor pela força física perdeu utilidade e desvalorizou-se. Na prática, todo o trabalho que os humanos faziam, foi, ao longo de anos, sendo substituído pelas máquinas e, mais recentemente, pelos “robots”, que, entretanto, tomaram conta de todo o processo produtivo. Qual o sentido dessa mudança? O trabalho para ser consumidor (mercado dos produtos) precisa do rendimento (mercado dos fatores) obtido pela participação no processo produtivo. Qual o sentido da alteração tecnológica? Numa dinâmica económica que cria e torna obsoletas atividades de uma forma acelerada de que competências precisa? Uma das dificuldades da 1ª revolução industrial foi a redução do peso das remunerações no rendimento global que inexoravelmente iria bloquear o sistema económico. Os avanços tecnológicos e o aumento de produtividade associados posteriormente, contribuíram para inverter essa realidade e criar uma sociedade de bem-estar, de qual ainda hoje beneficiamos.

Mas, o que nos reserva o futuro próximo? As ondas gravitacionais não nos permitem vislumbrar para onde nos dirigimos. Os ganhos de produtividade não são, ainda, evidentes e a destruição dos postos de trabalho é superior à criação de novas ocupações. Será um buraco negro o nosso destino final? Com certeza, a solução passa pela inovação, podendo, curiosamente e ao fim de mais de um século, beneficiar dos novos desenvolvimentos da Teoria da Relatividade.

[1] Paulo Crawford, Público, 04-novembro-2020, pág. 39.
[2] O quarto e último livro do Capital foi lançado, também, em 1905. Livro 4 – Teorias da mais valia. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Capital.
[3] Robert McNamara, Millsaps College, in Jackson, Mississipi, 1967. Rosenzweig, P., Robert S. McNamara and the Evolution of Modern Management; HBR (2010).

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