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Os riscos da sociedade pós-moderna

Neste quadro, por mais paradoxal que nos pareça, torna-se mais difícil inovar e consolidar novas ideias; e, acima de tudo, apontar os caminhos adequados para a resolução dos problemas reais e sérios da nossa sociedade, funcionando como uma espécie de embuste para o que ainda há de vir.
2 Novembro 2018, 07h10

Os nossos antepassados viveram tempos em que tudo era planeado e feito para durar, resistindo a quase tudo, incluindo o desgaste do tempo. Durante gerações, essa maneira de se comportarem em sociedade permitiu-lhes viver relações comprometidas e duradouras, fossem elas profissionais, como por exemplo um emprego para toda a vida, ou pessoais, como um casamento para a vida. Desta forma, viviam sempre na esperança de que cada dia fosse melhor do que o anterior, o que lhes permitiu progredir até aos nossos dias.

Todavia, a sociedade contemporânea vive um processo de metamorfose para um paradigma praticamente oposto. Com efeito, vivemos tempos caracterizados pela procura por resultados imediatos, quase sempre sem consistência, vínculo e perspetiva de continuidade, esvaindo-se rapidamente, e com a mesma facilidade, que água pelo ralo.

O sociólogo polaco Zygmunt Bauman (1925-2017), na sua obra Europa Líquida, classifica esta maneira de viver de modernidade líquida, originando a era que também apelidou de pós-moderna. Segundo Zygmunt Bauman vive-se uma exposição excessiva das pessoas ao fenómeno tecnológico global, gerador de uma significativa negatividade latente, capaz de amputar os ideais mais utópicos, devido ao controle social a que os indivíduos estão sujeitos. Assim, a fase líquida da modernidade corresponde à efemeridade e vulnerabilidade, não permitindo a consolidação cultural, ou seja, a solidificação.

Neste quadro, por mais paradoxal que nos pareça, torna-se mais difícil inovar e consolidar novas ideias; e, acima de tudo, apontar os caminhos adequados para a resolução dos problemas reais e sérios da nossa sociedade, funcionando como uma espécie de embuste para o que ainda há de vir. Daí se compreende o culto do corpo, tendo as celebridades como referência, o viver o dia a dia, que amanhã logo se verá, o endividamento em geral para financiar esse estilo de vida, por forma a causarmos boa impressão e que nos permita parecer em vez de ser.

As tendências mais recentes de uso das redes socias espelham bem esta realidade.  Efetivamente, são por demais evidentes os riscos de estarmos expostos nas redes sociais, designadamente de intriga, inveja, preconceito e julgamentos sumários, estendendo a milhões de indivíduos as tensões sociais que anteriormente se confinavam apenas aos vizinhos.

Por fim, as redes sociais estão a tornar-se numa bomba social, cuja ira virtual, uma vez libertada, afetará os visados diretamente na alma. Comparado com isto, as consequências de outras bombas de energia atómica ou, mesmo, de hidrogénio, terão um impacto relativo. É que estas bombas, sendo igualmente potentes, destroem tudo, enquanto a bomba social danificará irreversivelmente a essência dos indivíduos, fazendo com que a matéria persista, mas perca o sentido e a vontade de viver.

Neste sentido, contrariamente aos nossos antepassados, passamos a viver um estado de preocupação permanente com o progresso, que está a traduzir-se numa ameaça constante de a qualquer momento podermos ser descartados da sociedade, seja do que for e sem necessidade de razão aparente, dado que nada é pensado, muito menos feito, para durar.

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