Quando há dias vi as imagens da trasladação dos restos mortais de Francisco Franco, em Espanha, dei por mim a reflectir sobre aquilo que os símbolos (ainda) querem dizer.

Esta conversa que vos faço, meio abstracta, como são os símbolos aliás, é, contudo, bastante mais específica nas implicações que encerra. Vejam-se as reacções extremadas sobre este acontecimento. Reacções a favor e contra, diga-se. Se bem se lembram, ainda recentemente sob os auspícios da possibilidade de um museu sobre Salazar, no nosso país, bastante tinta correu. Se bem que, acredito, as situações não se possam comparar (e não o faço).

O que posso afirmar, isso sim, é que a simbologia encerra em si realidades importantes. Desde tenra idade que sabemos que usar a blusa de uma certa marca, o carro tal, fazer parte de uma determinada organização, falar de uma certa forma, fazem parte de códigos sociais que implicam uma pertença. A essas pertenças, grupos, identificações, são, não raramente, anexados valores, maneiras de viver, perspectivas do que é certo e do que é errado.

São as nacionalidades, as línguas, as religiões, o estatuto social, e muito mais. Somos seres gregários, não há aqui nenhuma novidade, e estas são formas de o demonstrar.

Neste tempo em que tantos advogam a inexistência de valores só porque os valores são outros, importa reflectir como os símbolos fazem os Estados e estes produzem símbolos. Porquê? A razão estará certamente naquilo que acreditamos, no espectro do poder político e não só, também na psicologia de todos e de cada um.

Por símbolos se morre e se vive, e desconfio que muitos de nós tendemos a esquecer isso. Talvez o façamos por ingenuidade ou cansaço de tantas dualidades, mas estas identidades conflituantes, entre pessoas e nas pessoas, como Amin Maalouf tão bem explicou há uns anos, são o exemplo de como os simbolismos são o sinal claro de uma determinada pertença e caminho.

Há quem defenda que a trasladação do ditador espanhol tenha sido um acto eleitoral, outros assumem que foram feitas “contas com a História”. Penso que as razões, neste caso como em tantos outros, possam ser mais ou menos importantes para quem interpreta as acções. Somos o que fazemos e, sendo a História a dos vencedores, prefiro que esta tenha sido escrita do lado da democracia contra o fascismo e o autoritarismo. E por falar no simbolismo de uma guerra civil e dos eventos que se lhe seguiram, há ainda um caso urgente por resolver no país vizinho: as ruas de Barcelona e os corações dos catalães continuam em chamas.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.