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Óscares: As empresas portuguesas que conquistaram Hollywood

Uma nova noite de Óscares está à porta e a representação portuguesa em Hollywood já esteve a cargo de várias empresas. Cortiça, selas, chapéus e móveis fazem parte dos artigos nacionais que conquistaram a passadeira vermelha. A cerimónia deste domingo, dia 4, ficará marcada pela denúncia da prática de crimes de assédio sexual em Hollywood e a Academia garante que nada será como antes.
4 Março 2018, 17h00

A relação entre Hollywood e a cortiça é antiga. Há muito que este material nobre ganhou estatuto nos estúdios de cinema mais célebres do planeta: precisam de materiais maleáveis e facilmente utilizáveis, além das preocupações ambientais.

A Corticeira Amorim, líder do setor, é uma das empresas portuguesas que já representou o país na cerimónia. “A presença de aplicações em grandes produções do cinema norte-americano é um fator de prestigio dada a sua presença em filmes com nomes como Sigourney Weaver, Sean Penn, Scarlett Johansson ou Tom Cruise. A cortiça é usada como fator de segurança e consegue fazê-lo com um impacto visual enorme como é requerido em produções como “Missão Impossível”, “Transformers” ou “Ghostbusters”, tudo através de um produto 100% natural e 100% renovável características que, mesmo no cinema, são cada vez mais apreciadas. Em termos técnicos, a leveza e a suavidade do material assumem neste caso grande importância”, explica Carlos de Jesus,  diretor do departamento de marketing e comunicação da empresa.

A utilização de cortiça no cinema não se limita no entanto, a efeitos especiais. No filme “Hunger Games II”, Johanna Mason veste um arrojado vestido de cortiça num guarda roupa que foi em grande parte da responsabilidade de Alexander McQueen.

Já os atores Mel Gibson, Leonardo Di Caprio ou Elijah Wood apreciam o talento da família Domingues. Nas cenas de ação a cavalo, os protagonistas dos filmes “Braveheart”, “O Homem da Máscara de Ferro” e “O Senhor dos Anéis”, exigiram as selas da correaria da freguesia dos Milagres, perto de Leiria. No currículo da Equicouro – Correeiros constam ainda outras obras como “O Último Samurai”, “Irmãos Grimm”, “Alexandre, o Grande”, “Crónicas de Nárnia 2” ou “Príncipe da Pérsia”. A partir de um pequeno armazém já exportaram selas, mantas, estribos e peitorais, entre outros artigos para os Estados Unidos.

A consagração internacional do correeiro reforçou-se ainda mais na trilogia do “Senhor dos Anéis”, premiada com 17 Óscares pela Academia de Hollywood. Um empresário deslocou-se à aldeia e encomendou à família selas de cor preta. Dois meses depois, voltou aos Milagres para ver o material. E as selas seriam utilizadas na célebre trilogia de Hollywood.

Mas o envolvimento de empresas nacionais com a meca do cinema não se fica por aqui. A Fepsa – que fabrica chapéus, desde 1969 e a partir de São João da Madeira, sendo uma das maiores do mundo no sector – é outra das implicadas no universo de Hollywood. A lista de honoráveis com chapéus oriundos de São João da Madeira é de respeito. Johnny Depp, Christian Bale, Robert de Niro e Nicolas Cage são as celebridades mais marcantes.

No cenário que compõe o apartamento do milionário no filme “50 sombras de Grey” estiveram mais de 30 peças de mobiliário português, mais precisamente, de Rio Tinto. A empresa de design de móveis, Boca do Lobo, foi convidada pela Universal Pictures pelo seu “design exclusivo e “cosmopolita”.

Movimento #MeToo

A condenação do produtor Harvey Weinstein pela alegada prática de crimes de assédio sexual reacendeu o debate sobre a conduta imprópria dos “abusadores de Hollywood”. O tema vai marcar a edição dos Óscares deste ano e o diretor do evento, Dieter Kosslick, já admitiu ter descartado vários filmes da lista de nomeados, pelo facto de os seus realizadores, atores ou produtores estarem a ser alvo de acusações de abusos sexuais.

Que o diga James Franco. O filme “Um Desastre de Artista”, que produziu e protagonizou, era um dos potenciais candidatos ao Óscar de Melhor Ator para este ano, não fossem as políticas de tolerância zero para com os suspeitos de abusos sexuais. O filme está nomeado apenas na categoria de melhor argumento adaptado. Essa foi a primeira condenação pública do ator, que no mesmo dia em que subia ao palco para receber um globo de ouro, via serem-lhe lançadas suspeitas de conduta sexual imprópria no Twitter. Com as votações dos membros da Academia a fecharem dias depois, é impossível não pensar que as acusações terão pesado na escolha dos nomeados e no afastamento de James Franco.

O mesmo acontece com a produtora The Weinstein Company, fundada por Harvey Weinstein e o seu irmão. Depois de 300 nomeações e 81 estatuetas vencidas, os fundadores da empresa não são bem-vindos na 90.ª cerimónia dos Óscares. A justiça deu como provadas as acusações de assédio sexual de mais de 70 mulheres e obrigou a empra ao pagamento de avultadas indemnizações. A companhia veio, entretanto, anunciar a falência devido aos milhões de dólares de dívidas e às ações judiciais interpostas.

Para evitar que casos como o de Casey Affleck se repitam – o diretor foi acusado de assédio sexual, no final de 2016, mas isso não o impediu de ganhar o Óscar de Melhor Ator – a Academia já aderiu ao movimento #MeToo e garante que nada será como antes.

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