O relógio batia quase as 12h00 desta segunda-feira quando Paulo Rangel chegou ao Cais do Sodré, acompanhado por José Silvano e dezenas de apoiantes da JSD. Programa para o dia: uma viagem de comboio do Cais de Sodré a Cascais, seguida de um almoço com militantes e simpatizantes na Quinta dos Mações, em Bicesse. “É uma agenda muito completa”, garante Paulo Rangel.
Em passo apressado, o candidato social-democrata dirige-se para a zona de partida dos comboios. Mesmo ao lado das portas de embarque, uma longa fila de passageiros desespera junto às máquinas para comprar bilhete, mas Paulo Rangel não se demora por ali. Os bilhetes de comboio já carregados são distribuídos de mão em mão pela comitiva que acompanha Paulo Rangel, de modo a que ninguém atrase o início da ação de campanha. Às 12h00 em ponto, o comboio arranca.
Aos ziguezagues até Carcavelos
Apita o comboio, lá vai a apitar. Começam por cantar os jotas que acompanham a comitiva do PSD. O núcleo duro de Paulo Rangel, começa a viagem em pé, mas acaba por se sentar em quatro lugares cedidos pelos passageiros admirados com o aparato de câmaras, jornalistas e equipa técnica que invade a carruagem. Mas a pausa para descansar as pernas é curta e logo se levantam para entregar panfletos, canetas e sensibilizar os passageiros para as eleições europeias.
“Uma caneta para ir votar”, vai dizendo Paulo Rangel aos passageiros. Há quem aceite e há quem recuse. “Todos querem poleiro”, diz uma passageira, enquanto recebe o panfleto a contragosto. “Não é da minha cor”. O que é certo é que os papéis vão desaparecendo. As recargas de material de campanha seguem logo de seguida a voar por cima da cabeça dos passageiros. É hora de almoço e o comboio vai apinhado de gente. Qualquer manobra para romper por entre a multidão exige uma logística hércula.
Paulo Rangel avança duas carruagens e logo recua. Detém-se a explicar o que está a fazer aos turistas e cedo se apercebe que não é aquele no eleitorado pretendido. “We are in campaign for the European elections next Sunday” [Estamos em campanha para as eleições europeias do próximo domingo], explica. Os estrangeiros riem e gravam o momento com os telemóveis.
A comitiva recua três carruagens e, depois de dar a tarefa por cumprida, Paulo Rangel comenta que são muitos os alemães, franceses e brasileiros a passear por Lisboa àquela hora. Mas a jota não desmotiva.
Podes não saber dançar, nem sequer discursar. Andas toda a campanha a enganar. Fake Marques. Fake Marques. Fake Marques. Ferrovia, investimento, estradas pobres sem cimento, hospitais sem orçamento. A enganar é que tu és bom, a mentir não foges do tom. Fake Marques. Fake Marques. Fake Marques. Inspirados na música de Carlos Paião “Em Playback”, a Juventude Social-Democrata anima a comitiva que segue Paulo Rangel.
Enquanto a viagem não termina, o cabeça de lista do PSD explica o porquê da iniciativa. “Quer esta linha, quer a linha de Sintra, são um exemplo acabado dos falhanços e dos fracassos deste Governo e, em particular, daquele ministro que é agora cabeça de lista do PS. [O objetivo] é chamar a atenção para a situação altamente degradada em que está a nossa ferrovia e, em particular, para o caos que foi criado com a questão dos passes sociais”, indica.
O eurodeputado aproveita a deixa para voltar a marcar distância do PS e criticar a implementação dos passes sociais: “O abandono da ferrovia é a grande herança de Pedro Marques e do PS. Quando havia fundos europeus para investir nestas matérias, o investimento público foi o mais baixo de sempre. Para cumprir as metas europeias, houve que fazer escolhas e uma das escolhas foi desinvestir e abandonar os transportes públicos e, portanto, não há passes sociais que iludam a realidade”.
E os jotas apoiam: Ele é o mestre da culinária e cozinha para a Cristina, cativando na ferrovia, levando o país à ruína, cantam em alusão à participação do primeiro-ministro, António Costa, no programa de Cristina Ferreira na SIC e às cativações do Governo.
Saltar a cancela e experimentar tecnologia de ponta
O percurso até Carcavelos não dura mais de meia hora. Paulo Rangel sai da carruagem e dirige-se às portas de saída pouco convencido com a prestação do interior do comboio. Passa o passe e sai da estação. No meio da agitação deixa para trás a equipa com quem partiu do Cais do Sodré. É então que surge uns dos momentos mais caricatos do dia. Sem passe para sair da estação, uma das militantes que acompanham Paulo Rangel, tenta sair junto com o vereador na Câmara Municipal de Sintra Marco Almeida, mas são traídos pelo sinal vermelho da saída.
“Deve ter colocado o passe ao pé do telemóvel”, explica outra militante que acompanha o grupo. Pouco acostumados a estas andanças, Marco Almeida e a militante infratora acenam afirmativamente.
Mas Paulo Rangel já deixou a estação, como que a cronometrar o tempo para que todo decorra no horário previsto. À chegada é recebido vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz, e o eurodeputado Carlos Coelho juntam-se à comitiva. As escadas da estação conduzem à paragem de autocarros, mas é a pé que Paulo Rangel faz campanha até à Universidade Nova SBE, em Oeiras.
PPD. Assim se vê a força do PSD. PPD. Assim se vê a força do PSD, canta a Juventude Social-Democrata. São poucos os que se vêem nas ruas, o que torna o percurso até ao primeiro veículo autónomo em Portugal (em fase experimental) mais curto. O veículo tem capacidade para 12 pessoas e servirá, sobretudo, para transportar alunos entre a universidade e a estação de comboio. A viagem não dura mais do que cinco minutos e a operadora explica como funciona o equipamento. Paulo Rangel segue em silêncio, como que a saborear o momento.
Segue-se uma brevíssima visita às instalações da Universidade Nova SBE. A comitiva do PSD entra no Hoviane Atrium e o cabeça de lista do PSD espanta-se com o que vê. “Tem um ar de aeroporto. Eu que faço, em média, cinco voos por semana, associo o espaço a um aeroporto”, diz. “É uma escola moderna, com tecnologia e espaço”. Fica a promessa de Paulo Rangel de voltar noutro dia. Talvez na quarta, em que a campanha volta à cidade de Lisboa. Por agora, segue-se o almoço, em Bicesse.
O eterno líder e a sede de vitória
A chegada à Quinta dos Mações faz-se de autocarro. Depois de Rui Rio ter animado a noite de domingo ao tocar bateria para os militantes e simpatizantes do PSD, em Malafaia, todos aguardam pelo antigo primeiro-ministro, antigo presidente do PSD e antigo presidente da JSD Pedro Passos Coelho. À chegada da comitiva de Paulo Rangel ao restaurante, não há ainda sinais do ex-líder. As bandeiras do PSD agitam-se e a jota entoa o cântico: PPD. Assim se vê a força do PSD.
Paulo Rangel afasta-se discretamente por entre a multidão e eis que surge acompanhado de Pedro Passos Coelho. Os gritos de Viva Rangel terminam e, por momentos, tudo é silêncio. O ex-primeiro-ministro vem sozinho e sorridente. Cumprimenta os militantes e simpatizantes do partido e recusa-se a falar aos jornalistas. O que vem dizer, dirá só na hora programada do seu discurso. Nem antes, nem depois. E, por instantes, Rui Rio deixa de ser uma ausência sentida.
O silêncio dá lugar a uma chuva de aplausos a Pedro Passos Coelho e a jota apressa-se a retomar o cântico: PPD. Assim se vê a força do PSD. Pedro Passos Coelho entra na sala, embalado pela maré de gente que se reúne junto à porta do restaurante, e todos se apressam a cumprimentá-lo.
Devidamente instalados, cabe ao presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, abrir as hostes. “É com grande agrado que recebemos Pedro Passos Coelho e Paulo Rangel”, afirma. Carlos Carreiras elogia a “excelente campanha” que tem estado a ser feita pelo PSD e lembra as “falsas promessas” e o desinvestimento do PS na linha de Cascais. Não se alonga e passa a palavra.
Pedro Passos Coelho é o primeiro a discursar. Fala do “truque de ilusionista” do PS e quebrou o silêncio que mantinha desde que deixou a liderança do PSD, em fevereiro de 2018. “Apesar de estar numa posição discreta, não posso deixar de sublinhar o enorme contentamento que tive por saber que Paulo Rangel é novamente o nosso cabeça de lista ao Parlamento Europeu”, começou por dizer.
“O objetivo [do PS] é de criar a ilusão nas pessoas de que, se nos mantivermos como estamos, mas as instituições que estão lá longe mudarem, as coisas podem melhorar. O ilusionista precisa de criar esta ilusão para fazer o truque. Quando, na Europa, os Estados não fazem aquilo que devem, sofrem eles próprios e os vizinhos”, sublinha o ex-líder social-democrata.
“Não há nenhum ilusionista que para fazer a sua magia não crie ao lado um truque para desviar atenção. Foi isso que fez com que governos nacionais durante anos não assumissem as suas responsabilidades e atribuíssem culpas à União Europeia”, sustentou.
E terminou o discursos falando da política nacional: “Aqueles que disseram que acabaram com a austeridade, têm mais cativações do que qualquer outro Governo, muito mais quebra de investimento do que qualquer outro governo e, ao mesmo tempo, trouxeram a mais alta carga fiscal que Portugal conheceu em democracia. Agora [os socialistas] já não falam do enorme aumento de impostos do ministro [Vítor] Gaspar, quando são eles os campeões da carga fiscal em Portugal”.
Paulo Rangel sobe ao palco e abraça Pedro Passos Coelho, antes de discursar. “É hábito começar por saudar a sala, mas vou começar por saudar Pedro Passos Coelho”, afirmou, acrescentando que a sala cheia é “motivo de orgulho” para o PSD. A ouvi-lo estão cerca de 450 militantes e simpatizantes. E se o almoço não convence, Paulo Rangel tenta a sua sorte: “No PSD, não precisamos de esconder candidatos, não precisamos de ir a reboque e não precisamos de esconder líderes”.
“O legado do PSD é um legado bom para o país e do qual nos orgulhamos. Temos um passado e uma lista que falam por nós”, afirma. “Não propomos [como o PS] um novo contrato social. Isso é utópico e impossível. Só quem não está na Europa é que não sabe disso”, dispara, relembrando algumas das medidas do partido para estas eleições: a criação de um programa comum para a natalidade e um programa europeu de luta contra o cancro. “Somos capazes de fazer pequenas coisas, com ideias realistas e prudentes, que podem mudar realmente a vida das pessoas”, sublinha.
“[Votar PSD] é também um cartão amarelo, um censura, à demagogia, à falta de sentido de responsabilidade e competência, à negligência e abandono a que este Governo votou os serviços essenciais e à forma pouco séria, enganadora e ilusionista, própria de artista com que tem tratado os portugueses”, afirma Paulo Rangel, dizendo-se confiante numa vitória no domingo.
E a multidão de sociais-democratas rejubila. PSD. PSD. PSD.
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