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PME e a luta desigual na jornada de sustentabilidade

Filipa Saldanha, diretora de Sustentabilidade do Crédito Agrícola, foi convidada a analisar os desafios do ESG (ambiental, social e de governance) na primeira sessão do ciclo de conferências “Rota do crescimento”, organizado pelo Jornal Económico (JE), que teve lugar em Braga, esta quarta-feira.
12 Fevereiro 2025, 20h23

A insuspeita burocracia – ou o excesso dela -, os custos pesados da implementação de práticas ESG e a imposição de um ritmo muito “acelerado e alucinante” pelas forças de mercado estão entre os obstáculos que as micro, pequenas e médias empresas (PME) encontram na sua jornada de sustentabilidade.

Filipa Saldanha, diretora de Sustentabilidade do Crédito Agrícola, foi convidada a analisar os desafios do ESG (ambiental, social e de governance) na primeira sessão do ciclo de conferências “Rota do crescimento”, organizado pelo Jornal Económico (JE), que teve lugar em Braga, esta quarta-feira.

Sublinhando que “esmagadora da economia é alimentada por micro e PME” – correspondentes a mais de 99% do tecido empresarial português – Filipa Saldanha apontou a urgência de apoiar as empresas nacionais, apostando em “alterações estruturais adaptadas à realidade” das mesmas.

“Não conseguimos chegar a lado nenhum, no que diz respeito às metas de desenvolvimento sustentável de Portugal, e muitas são ambiciosas, se não nos centrarmos efetivamente em apoiar a grande fatia do nosso tecido empresarial”, sublinhou.

A par dos constrangimentos acima listados, Filipa Saldanha aponta para o “grande desafio de garantir uma resposta mais rápida e orientada à crescente pressão do contexto envolvente”.

“Falta um quadro regulatório que seja claro e adaptado à realidade das PME e, acima de tudo, que seja estável”, acrescentou.

“É por serem o motor da economia nacional que é impensável assumir quaisquer compromissos e metas vinculativas perante a Comissão Europeia e as Nações Unidas, como ao nível de redução de emissões de dióxido de carbono, ou das taxas de igualdade de género, se não fomentarmos e apoiarmos a jornada de sustentabilidade dos negócios mais pequenos”, sustentou.

Enquanto os bancos e grandes organizações estão na posse de meios para lidar com as “inúmeras diretivas e novas regulamentações” no campo da sustentabilidade, as micro-empresas e PME enfrentam “muitas dificuldades para pagar os fees ainda muito elevados para ter apoio nesta matéria de regulamentação”, alertou.

Olhando para as questões de custos que as empresas de pequena dimensão têm de suportar para obedecer aos critérios, como o custo inicial de implementação de práticas ESG, Filipa Saldanha aponta, ainda, para os custos de investimentos muito pesados ao nível de implementação de novas tecnologias ou novos processos de produção, bem como das certificações ambientais e sociais. A juntar a estes encargos, os decorrentes da consultoria especializada para acompanhar a implementação de determinados projetos ou para fazer os “mínimos olímpicos”.

Recuando à burocracia, a mesma responsável do Crédito Agrícola alertou que o exceção de documentação associado a muitos apoios públicos e fundos governamentais “pode ser um travão para executar estes financiamentos”.

Em resposta aos desafios, a responsável de sustentabilidade entende que deve ser aberto caminho a “alterações estruturais adaptadas à realidade das empresas portuguesas, desde logo ao nível da política pública, incentivos fiscais, fiscalidade verde, desburocratização, uma maior simplificação estabilidade e clareza das regras do jogo”, entre outros.

Além disso, acrescentou, o setor bancário, enquanto grande parceiro da cadeia de valor, desempenha “uma boa quota parte da responsabilidade em prol do apoio a mudança”.

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