[weglot_switcher]

Portugal continuou a comprar gás à Rússia em 2022, à medida que a invasão avançava

À medida que a invasão avançava no terreno, vários navios carregados de gás russo descarregaram no porto de Sines.
Reuters
24 Fevereiro 2023, 15h23

Portugal continuou a comprar gás natural russo em 2022, à medida que a invasão russa da Ucrânia desenrolava-se. Apesar disso, as compras face ao ano anterior sofreram uma queda abrupta.

Os descarregamentos em Sines do gás natural em estado líquido (GNL) que chegou via navio metaneiro tiveram lugar em março, maio e agosto, sempre entre os 90 mil/m3 cúbicos e os 100 mil/m3 cúbicos de gás natural, o que permite estimar-se que tratam-se de três navios.

Portugal não é extremamente dependente do gás russo, mas mesmo assim a Rússia esteve entre os seus fornecedores em 2022. O ranking é liderado pela Nigéria (2,75 milhões de metros cúbicos normais (Nm3)), seguida pelos EUA (1,88 milhões de Nm3), de Espanha (493 mil Nm3), de Trinidade e Tobago (360 mil Nm3), da Rússia (281 mil Nm3) e da Guiné Equatorial (91 mil Nm3), segundo os dados da Direção-Geral de Energia (DGEG).

Em 2021, foi importado um total de 5,7 milhões/nm3 de gás natural. A Nigéria liderou (2,7 milhões), seguida dos EUA (1,7 milhões), da Rússia (739 mil), de Espanha (343 mil) e da Argélia (71 mil).

A compra de gás natural russo por Portugal caiu 62% face a período homólogo, pensando 13% nas compras do país. Portugal consumiu 62 Terawatts-hora de gás natural em 2022.

Recorde-se que a compra de gás natural à Rússia não está sujeita a embargo pela União Europeia, como acontece com o o petróleo.

Conforme apurou o JE, este gás foi comprado pela empresa espanhola Naturgy, que comercializa eletricidade e gás natural no mercado nacional. O JE questionou a empresa sobre estas cargas e se iriam manter-se ao longo deste ano, mas não obteve resposta.

A Naturgy surge na segunda posição das empresas que mais importaram da Rússia para Portugal em 2022, segundo dados do INE pedidos pelo JE.

Pela sua parte, a empresa espanhola garante que vai manter os contratos russos em vigor, rejeitando que “não há razões” para cancelar o abastecimento, disse o seu CEO recentemente, sublinhando que não existem suficientes razões legais para terminar o contrato.

“A Naturgy faz duas coisas: cumpre os seus compromissos e leva-os até ao fim”, disse o presidente executivo da empresa Francisco Reynes a 15 de fevereiro na apresentação dos resultados da empresa, citado pelo portal “Montel”.

A companhia espanhola tem um contrato até 2042 com a companhia russa Yamal (detida pela Novatek, a segundo maior fornecedora de gás russa, atrás da Gazprom) que prevê a entrega de 3,4 mil milhões de metros cúbicos por ano. A Novatek tem como accionista (19%) a francesa TotalEnergies, uma das poucas petrolíferas ocidentais que manteve os seus investimentos na Rússia, ao contrário da BP e da Shell. Os lucros da Naturgy subiram 36% para 1.650 milhões de euros, beneficiada pelos preços elevados da energia.

No entanto, a lista dos maiores importadores da Rússia é liderada pela Galp, empresa que anunciou após a invasão da Ucrânia que iria deixar de comprar gasóleo de vácuo (VGO) (usado para produzir gasóleo) ao país de Vladimir Putin.

Questionado sobre estas compras, a Galp aponta que referem-se ao primeiro trimestre deste ano. “Conforme anunciado a 2 de março de 2022, ou seja, na semana seguinte ao eclodir da guerra na Ucrânia, a Galp tomou a decisão de deixar de importar produtos petrolíferos da Rússia. Dessa forma, as importações feitas no último ano decorreram de cargas em curso até esse mês. A análise à evolução de importações de VGO permite constatar que o peso da Rússia no total de importações da Galp caiu de 83% em 2021 para 22% em 2022. De abril de 2022 até hoje, esse peso está nos 0%”, segundo fonte oficial.

A União Europeia comprava 50% das exportações de petróleo russo e 60% das suas exportações de gás, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA).

A quota da Rússia no mercado global de gás recuou de 25% em 2021 para 13% em 2023. No caso da UE, a dependência face à Rússia caiu de 40% para 10%.

As compras de gás russo pela UE caíram 60% em 2022 para 62 mil milhões de metros cúbicos, face à média dos últimos cinco anos, segundo dados da Comissão Europeia citados pela “Reuters”.

Para este ano, a Agência Internacional de Energia (IEA) espera uma queda para 25 mil milhões de metros cúbicos, se os fluxos dos gasodutos via Turkstream e a Ucrânia ficarem em linha com os volumes de dezembro de 2022.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.