Os presidentes de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe pediram esta segunda-feira uma solução para a ausência de ligações aéreas diretas, o maior constrangimento entre dois países que partilham uma forte relação desde o período colonial.
“Os dois países devem fazer um esforço grande para se resolver o problema dos transportes aéreos e marítimos entre os dois arquipélagos, envolvendo privados e envolvendo as empresas existentes entre os dois países. Portanto, é um desiderato que não temos conseguido cumprir precisamente por causa dos constrangimentos existentes”, reconheceu o Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, numa declaração conjunta com o homólogo são-tomense, Carlos Vila Nova, que iniciou hoje, na Praia, uma visita oficial a Cabo Verde.
Para se deslocar a Cabo Verde, Carlos Vila Nova teve de viajar por Lisboa, com regresso semelhante na quinta-feira. Em São Tomé e Príncipe reside uma importante comunidade cabo-verdiana, de várias gerações, desde o período colonial, o mesmo acontecendo em Cabo Verde.
“É um constrangimento com o qual ainda nos debatemos, quer aéreo, quer marítimo. Não fosse essa uma questão difícil, estaria resolvida. Se dependesse apenas de São Tomé, estaria resolvida. Se dependesse só de Cabo Verde, estaria resolvida”, afirmou, na mesma ocasião, o Presidente Carlos Vila Nova.
Antes da pandemia de covid-19, a transportadora aérea angolana TAAG garantia essas ligações aéreas.
“É um pacto a três e é preciso encontrar mecanismos que vão ao encontro dos interesses dos três”, reconheceu ainda o chefe de Estado são-tomense.
Carlos Vila Nova foi hoje condecorado no Palácio Presidencial, na Praia, pelo homólogo cabo-verdiano, com a Ordem Amílcar Cabral, a mais importante distinção do país.
“São Tomé e Príncipe e Cabo Verde têm laços históricos, laços de consanguinidade e uma presença muito forte de cabo-verdianas e cabo-verdianos em São Tomé e Príncipe. E esta comunidade tem constituído uma grande ponte entre os nossos dois países”, reconheceu José Maria Neves.
“Percebe-se que Cabo Verde e São Tomé têm uma enorme cumplicidade tecida pela presença dos cabo-verdianos em São Tomé e Príncipe, mas também, agora, por uma presença de uma comunidade de são-tomense em Cabo Verde que está a crescer todos os dias. Com esta condecoração, caro irmão, quis apenas demonstrar a nossa gratidão pela forma como São Tomé e Príncipe tem acolhido esta comunidade e hoje os cabo-verdianos em São Tomé e Príncipe sentem-se em casa”, acrescentou.
Reconheceu que esta relação enfrenta “desafios” e “problemas”, mas que “no espírito de irmandade, os cabo-verdianos em São Tomé partilham desses desafios e dos constrangimentos existentes”, o que deve levar a “trabalhar para reforçar cada vez mais as relações” bilaterais.
“Esta condecoração é também para destacar o seu empenho, a sua liderança na aproximação entre os nossos dois países e também na busca de melhores formas para que os cabo-verdianos que vivem em São Tomé e Príncipe possam sentir se cada vez mais integrados”, destacou igualmente José Maria Neves.
José Maria Neves acrescentou que quis com este gesto “homenagear também o povo de São Tomé e Príncipe” e manifestar a “grande abertura de espírito” para os dois países “continuarem juntos nesta caminhada rumo ao futuro”.
“Eu sinto-me deveras tocado. Eu sinto-me deveras considerado ao mais alto nível. E essa consideração que através de mim é do meu povo, é do meu país, eu carrego comigo a responsabilidade de dignificar ainda mais”, disse, por seu turno, Carlos Vila Nova, após receber a condecoração.
“Os nossos países caminham de mãos dadas há muitos anos, há muito tempo, por força contrária ou inicialmente às nossas próprias vontades, mas adotados por nós. E o nosso percurso e a nossa história, os laços que nos unem, ultrapassam os simples laços de relações, de cooperação e de amizade, eles são de irmandade”, acrescentou.
No nível atual das relações, Carlos Vila Nova defendeu que essa “irmandade” entre Cabo Verde e São Tomé e Príncipe “tem que se confundir e diluir sozinha” nas relações quotidianas.
“Hoje encontro-me de visita a Cabo Verde, acompanha-me uma delegação, mas ao chegar aqui deixamos de ser santomenses. Somos cabo-verdianos. É assim que nos sentimos aqui e espero que ninguém me contrarie. E eu do fundo também de mim próprio é assim que vejo e sinto os cabo-verdianos em São Tomé”, disse ainda.
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