A inflação portuguesa em dezembro desceu para o valor mais baixo em dois anos e meio, continuando a recuar em relação a novembro, mas nem assim o indicador fechou 2023 com uma média anual perto de 2%, o objetivo do Banco Central Europeu (BCE). Por outro lado, vários fatores arriscam nova subida dos custos e, por arrasto, da inflação, o que traria novos desafios ao sector exportador nacional.
O indicador de preços da economia nacional registou uma variação homóloga de 1,4% em dezembro, ficando em linha com a estimativa rápida lançada no início do mês e mostrando uma descida de 0,1 pontos percentuais (p.p.) em relação ao mês anterior. Em cadeia, os preços caíram 0,4%, cimentando o terceiro mês seguido de recuos nos preços do cabaz considerado pelo INE.
Mesmo assim, o ano fecha com uma inflação de 4,3%, o que representa uma diminuição considerável em relação aos 7,8% de 2022, mas fica muito acima do objetivo de 2% do BCE para a variação de preços no médio-prazo. Por outro lado, o indicador subjacente, que ignora as categorias mais voláteis da energia e bens alimentares, mostrou uma redução bastante menos expressiva: de 5,6% na média de 2022 para 5% em 2023, ou seja, não só acima do objetivo de 2%, como do indicador nominal.
A descida do indicador face aos 8,3% registados em termos homólogos em janeiro é clara, mas esta trajetória pode vir a abrandar nos próximos meses ou, em casos extremos, inverter-se novamente. A tensão no Mar Vermelho agrava o risco de novos disparos dos custos na zona euro e, como reconheceu Luis de Guindos, vice-presidente do BCE, a questão energética pode voltar a pressionar os preços.
“Vão-se fazer sentir efeitos base positivos na energia e as medidas de apoio na questão energética vão expirar, levando a uma subida transitória da inflação”, afirmou de Guindos em Madrid na quarta-feira, perspetivando nova subida do indicador de preços na zona euro, ainda que temporária.
Por outro lado, os ataques houthis no Mar Vermelho em resposta à agressão israelita em Gaza têm encarecido o transporte marítimo. Portugal, apesar de estar longe do foco de tensão, acaba afetado, como o resto da Europa, por esta subida nos custos, admite ao JE o presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal.
“O acréscimo dos custos dos fretes torna as exportações menos competitivas, mais caras. Já estávamos com dificuldade acrescida com o aumento dos fretes e desde que esta instabilidade começou os fretes já aumentaram 30%. É muito dinheiro. A alternativa de ter de vir cá abaixo à África Sul encarece o custo”, afirmou Armindo Monteiro.
Sem ainda contabilizar os efeitos na economia nacional, Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), fala já numa “subida dos custos operacionais” para os empresários nacionais por duas vias: o transporte de produtos portugueses para o exterior encarece ao mesmo tempo que os custos intermédios sobem.
“Estes desafios são muito sérios e fragilizam a atividade empresarial, sobretudo as empresas exportadoras, mas também se estendem às empresas direcionadas ao mercado nacional, pois não podemos esquecer que os custos logísticos afetam também as importações. Poderemos estar perante um sério risco sistémico, que afeta toda a economia”, argumenta, falando em impactos transversais aos vários sectores nacionais.
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