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Professores em greve contra novas provas no ensino básico. São “exames encapotados” e regresso a era Crato

As provas-ensaio são uma espécie de treino antes da estreia do novo modelo de avaliação que substitui as provas de aferição – as provas de Monitorização da Aprendizagem (MoDA). Professores queixam-se da “sobrecarga” de trabalho que envolvem e dizem ser “exames encapotados”, mas com outro nome.
10 Fevereiro 2025, 07h00

Os professores do ensino básico iniciam esta segunda-feira uma greve à vigilância e classificação das provas-ensaio do 4.º, 6.º e 9.º anos que decorrem em todas as escolas até ao final do mês. Realizadas em suporte digital, estas provas são uma espécie de treino antes das provas Monitorização da Aprendizagem (MoDA), o novo modelo de avaliação determinado pelo Governo ao qual a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) se opõe, por considerar tratar-se de um regresso aos exames nacionais de Nuno Crato, ministro da Educação entre 2011 e 2015. Mas não é apenas esse o motivo da greve convocada por este sindicato.

Francisco Gonçalves, secretário-geral adjunto da Fenprof, explica que são duas as dimensões a pesar na decisão de avançar para esta paralisação.

Em primeiro lugar, a realização destas provas a meio do ano vem “acrescentar trabalho em cima daquele que já existe”, critica o sindicalista em declarações ao Jornal Económico (JE), lembrando que, conforme o respetivo guia, cada escola terá de ter uma “bolsa solidária de professores previamente indicados pelos diretores” das escolas para a realização e avaliação destas provas-ensaio.

Ora, sendo indicados pelos diretores, o termo designado “bolsa solidária” acaba por ser “infeliz”, enfatiza Francisco Gonçalves. “É risível esta expressão. Não é nenhuma bolsa solidária, os diretores vão criar uma bolsa de professores que são necessários para o secretariado destas provas-ensaio, para a sua aplicação e depois para a sua correção e classificação” tal como já acontece nos exames finais do 9.º ano e do ensino secundário, e acontecerá nas provas MoDA.

Segundo Francisco Gonçalves, as novas provas vêm, no fundo, substituir as provas de aferição, mas com um propósito diferente. Ao contrário das provas de aferição que, apesar de serem “erradamente aplicadas de forma universal”, serviam para aferir do funcionamento do sistema e as aprendizagens dos alunos no sistema educativo, as MoDA são “um exame encapotado e um regresso aos exames do 4.º ano e do 6.º ano do ministro Nuno Crato”, mas com “outro nome”.

O objetivo depois, continua o sindicalista, é os resultados serem publicados e organizados rankings. “Contestamos a utilização destas provas como provas que servem para fazer rankings e comparações entre escolas, pervertendo e afunilando toda a avaliação no resultado e principalmente o acréscimo de trabalho que é feito aos professores, por isso convocamos esta greve”, resume Francisco Gonçalves, que também antecipa outro problema: a “falta de recursos tecnológicos nas escolas que permitam a aplicação das provas”, já que estas serão feitas em formato digital.

O secretário-geral da Fenprof esclarece ainda que a greve a este trabalho extraordinário foi convocada por terem chegado ao sindicato “muitas queixas” dos professores relacionadas com a “sobrecarga” de trabalho. Se os professores fizeram chegar “esta preocupação”, a expectativa da Fenprof é que “os que forem convocados para este serviço” não o farão. “Dependerá sempre se aqueles que forem convocados para esta função estão ou não disponíveis para ‘solidariamente’ a fazer”.

Questionado sobre se a greve irá comprometer o teste às provas MoDA, o sindicalista responde: “Por certo que o ensaio ficará comprometido por causa das questões do parque tecnológico e por causa da disponibilidade de recursos humanos – professores – para este tipo de prova.”

Tanto as provas-ensaio como depois as MoDA são obrigatórias, e apesar de não contarem à partida para a avaliação interna, caberá às escolas decidir fazê-lo ou não. “Não há uma uniformização a nível nacional, mas chegaram-nos relatos de escolas a atribuir 30% do peso às MoDA.

Disciplinas e datas

Nesta primeira semana realizam-se as provas de Português, Português Língua Não Materna e Português Língua Segunda, na segunda semana as provas de História e Geografia de Portugal e de Inglês, seguindo-se as provas de Matemática, Estudo do Meio e Ciências.

A calendarização das provas-ensaio dentro destes períodos é flexível e da responsabilidade das escolas, podendo adaptar-se às necessidades de cada contexto escolar.

Estas provas, que não servem para avaliação externa, vão permitir que os alunos se familiarizem com o suporte digital em contexto de avaliação e ajudarão as escolas a testar a sua preparação tecnológica, organizativa e logística das escolas.

Por outro lado, têm ainda o objetivo de identificar questões técnicas e organizativas que possam ser implementadas pelo Ministério da Educação, Ciência e Inovação antes das provas ModA no final dos 1.º e 2.º ciclos, que se realizam entre 19 de maio e 6 de junho, e as provas finais do 3.º ciclo, entre 20 e 25 de junho.

As provas -ensaio terminam no dia 28 de fevereiro.

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